A Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para investigar os responsáveis pelo texto homofóbico divulgado pelo jornal O Parasita, que circula por meio da internet entre os estudantes da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP). Na edição de abril, o jornal apócrifo ofereceu convites para uma festa da faculdade aos estudantes do curso que jogassem fezes em gays.
O inquérito foi instaurado ontem (26) pela delegada Margarette Corrêa Barreto, titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), a pedido da Defensoria Pública de São Paulo e da Secretaria de Justiça. A responsável pelo caso será a delegada assistente do Decradi Daniele Branco.
“As expressões utilizadas pelo jornal são extremamente agressivas, desrespeitosas, preconceituosas”, criticou Maíra Coraci Diniz, defensora pública de São Paulo e coordenadora do Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito. Segundo ela, o fato de o jornal ser divulgado entre os alunos sem assinatura do autor é um sinal de covardia e o caso se torna mais grave por ser produzido por estudantes de uma universidade pública.
“A faculdade, a universidade, a escola não tem só obrigação de ensinar matéria, matérias de farmácia ou medicina ou direito. Ela tem obrigação de formar cidadãos comprometidos com os direitos humanos. A universidade é custeada com dinheiro dos cidadãos, inclusive com o dos cidadãos homossexuais”, afirmou a defensora.
Em entrevista por telefone, Maíra disse que há na Defensoria de São Paulo, atualmente, cerca de 50 casos envolvendo discriminação a homossexuais. A intenção, no episódio envolvendo os alunos da USP, é penalizar administrativamente os autores da violência, recorrendo a uma lei estadual que multa quem comete homofobia. A multa, que pode chegar a R$ 20 mil, será destinada a um fundo que financia políticas públicas na área da diversidade sexual em São Paulo.
Uma reunião realizada ontem (26), entre representantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE), de diretórios acadêmicos da USP, do centro acadêmico da Faculdade de Farmácia e do grupo Prisma (que discute a questão da diversidade sexual na USP), definiu um calendário de atividades para tentar combater e alertar a comunidade sobre atitudes homofóbicas na faculdade.
Segundo o diretor do DCE livre da USP, Roberto Rubem Brandão, várias ações estão programadas como a realização de um debate entre os alunos na próxima sexta-feira (30) e um ato, previsto para a próxima terça-feira (4) às 18h, em frente à Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Também será protocolado um ofício na reitoria pedindo explicações e cobrando ações de combate à homofobia na universidade.
“Isso não é um caso isolado. De vez em quando isso vem à tona novamente. Há dois anos aconteceu um problema na Faculdade de Medicina Veterinária em que dois rapazes que se beijavam numa festa foram expulsos e enxotados. Estamos cobrando da reitoria para que isso [o combate à homofobia] seja uma política da universidade”, disse Brandão à Agência Brasil. “Não se pode tratar essa questão como uma brincadeira e lidar com ela dessa forma”, ressaltou.
Em comunicado, a Faculdade de Ciências Farmacêuticas informou que não apoia o artigo publicado pelo jornal e que desconhece os autores do texto. A diretoria da faculdade também informou que instaurou uma sindicância administrativa para apurar os fatos e as responsabilidades.
Qualquer pessoa pode fazer denúncias, diretamente à Secretaria de Justiça ou à Defensoria Pública, de casos envolvendo homofobia feitas. As denúncias também podem ser feitas pela internet, no site http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/discriminacao.
Edição: Lílian Beraldo
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Fonte: Agência Brasil