
Jovens de distintos movimentos expressam opinião sobre a “luta juvenil”Ultrapassando as estimativas iniciais de 3.000 inscritos, mais de 4.500 pessoas, representantes de grupos feministas, GLBT, campesinos, culturais e de trabalhadores, participaram de cerca das 140 atividades, entre oficinas, seminários, debates e shows, oferecidas no I Festival das Juventudes de Fortaleza, no Ceará, que aconteceu entre os dias 3 e 6 deste mês.
Delegações de diversos estados brasileiros e países da América Latina tiveram a oportunidade de representar e expor as reivindicações de seus respectivos movimentos sociais, por meio de atividades organizadas e divulgadas pelas próprias entidades e conferências gerais.
O tema do Festival, “América Latina e a Luta Juvenil”, funcionou como eixo principal para nortear as discussões e colocar em pauta a questão do protagonismo juvenil. Durante 4 dias, jovens latino-americanos, engajados socialmente ou não, compartilharam opiniões e discutiram temas importantes para a construção de uma sociedade mais justa.
A ADITAL esteve presente no evento e coletou depoimentos e impressões de algumas dessas de vozes que expressam o vasto campo das juventudes. Confira:
“A importância da juventude na América Latina é clara, porque somos nós que realizamos os processos mais importantes. Não pode haver processos de revolução na nossa sociedade se os homens e as mulheres jovens não estiverem na cabeça dos processos. Nós temos força e nós temos noção de que podemos construir nosso próprio caminho. Espaços com este, de integração, são importantes porque podemos compartilhar experiências e ações que desenvolvemos, e para que possamos desenhar estratégias para avançar nas mudanças que queremos em nossos países. Estamos vivendo um momento em que cada vez mais os jovens são ouvidos, e esse espaço é resultado do nosso trabalho. O que os jovens ainda precisam é assumir espaços importantes em cargos públicos, pois essa representatividade é essencial para a realização de nossos desejos.”
(Rocio Alorda, jornalista e integrante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Chile)
“Para o meu movimento, o espaço do Festival foi de fundamental importância, pois permitiu que a gente construísse e consolidasse o nosso projeto coletivo de combate à homofobia. Também serviu para fomentar a consciência crítica, chamando os jovens para que eles tomem alguma atitude diante de tanta violência em relação às lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Fora dos espaços dos movimentos sociais, os jovens ainda são pouco ouvidos. Há uma ausência de trabalhos voltados para a emancipação política e humana, e esse é um grande sonho dos movimentos sociais e da juventude. Falta uma escuta ativa e qualificada, por parte do poder público e de outras instituições, dos nossos anseios e reivindicações.”
(Luana Marley, integrante do Grupo Liberdade de Amor entre Mulheres no Ceará (Lamce) e coordenadora da diversidade sexual da Secretaria de Direitos Humanos de Fortaleza)
“É importante unificar os debates, pois nós tivemos um processo de muita degradação política. A juventude, hoje em dia, reflete uma imagem muito marginalizada, e esse é um espaço para que nós estejamos debatendo qual a imagem real dos jovens. Nós, como integrantes da Região Norte, historicamente sempre estivemos muito afastados das decisões políticas, mas a partir de certo momento, nós passamos a viver um avanço significativo, com encontros municipais e regionais, que aconteceram antes do Festival. O evento foi uma iniciativa excelente, que funciona como uma síntese de todas as pautas, como uma maneira de unificar os movimentos dos campos, das cidades, das mulheres, e todos os outros. Mesmo assim, ainda falta muita consciência política para os jovens, e fora dos movimentos sociais é difícil ter espaço. Nós vivemos numa sociedade cuja forma de organização é muito complexa, e somente através dos movimentos sociais, estudantis, políticos, os jovens conseguem falar. É um pontapé inicial para que a sociedade entre de vez no processo de conscientização política.”
(David Alvarez, estudante, integrante do Kizomba, Pará)
“A união da juventude aqui é fundamental. Muitas vezes os jovens são levados pelo sentimento individualista e competitivo que a sociedade capitalista estimula nas pessoas, o que acaba criando uma série de rivalidades. A idéia de fazer um encontro desse tipo é trabalhar com as noções de união, cooperação, associação, de uma aliança pautada pela solidariedade, pelo interesse coletivo, voltada para a criação de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais responsável socialmente, sem nenhum tipo de preconceito. De qualquer forma, os espaços de participação política ainda precisam ser ampliados.”
(Afonso Tiago, Secretário de Juventude da Prefeitura de Fortaleza)
Aqui nós podemos vivenciar várias lutas juvenis e trocar informações entre os movimentos. Aqui nós sentimos que a juventude é a protagonista da história, ela é capaz de construir e de se mobilizar para construir políticas públicas a nível local e em toda a América Latina. E pelo que nós pudemos perceber, as lutas dos outros países da América Latina não são diferentes das lutas que travamos no Brasil, e é importante perceber isso. Nós queremos construir uma juventude livre, mais participativa, e esses espaços podem ajudar. A juventude sempre fala, sempre grita, embora nem sempre seja ouvida. Escutados ou não, nós sempre estamos falando, nós sempre estamos presentes.
(Márcia Alves, estudante, integrante do Aquitãbaquara, Ceará)
“É essencial construir alianças com outras organizações e outros movimentos, pois a dimensão da nossa luta não abarca só a luta trabalhista, mas sim vários outros elementos, que também são fundamentais. Então, organizar uma unidade de luta entre os movimentos, como o Movimento Hip-Hop, Movimento Estudantil, Movimento das Mulheres, é essencial. A classe trabalhadora tem raça, tem sexo, tem opinião, e esse espaço é fundamental para que as diversas propostas sejam ouvidas. Nós queremos uma sociedade em que o poder seja distribuído de forma igualitária, e que a democracia seja o fator organizacional desse novo modelo de desenvolvimento. Nós não queremos apenas que os movimentos sociais organizados sejam ouvidos, o que nós queremos é criar mecanismos de democracia participativa nas cidades, nas escolas, para que as pessoas sejam educadas para a democracia, para que cada cidadão possa decidir os rumos da sua vida.”
(Anderson Campos, Assessor da Secretaria Nacional de Juventude da Central Única dos Trabalhadores – CUT)
___________
Fonte: Adital