Saindo da caverna

Breno Viola, no púlpito da Câmara dos Deputados, em 2010, onde disse que era a hora das pessoas com síndrome de Down representarem-se a si mesmas, e indicou seu desejo.

Por Laís Mendes Pimentel *

O que fez o homem sair da caverna, esfregar pedras uma contra a outra para obter fogo, inventar a roda para facilitar o transporte, e preparar lanças para vencer animais fisicamente mais preparados do que ele? A curiosidade, a coragem, o ímpeto de vencer, a vontade de tornar a vida mais fácil para si e para todos.

Mas foi um homem que fez isso tudo sozinho? A resposta é óbvia, né? Não. E todos os homens do grupo se animaram para viver estas aventuras quando um deles propôs encarar o mundo? A resposta desta tampouco é difícil de obter. Claro que entre os Pitecos, havia uma ala que só dava pitacos do contra. “Deixa disso, maluco! Vai virar comida de leão! Não inventa! Você não vai dar conta! Precisamos nos resguardar!”

Se não fosse a ousadia de alguns, estaríamos até hoje disputando, com os dentes, uma pele de urso com o coleguinha do lado.

O movimento de inclusão das pessoas com deficiência intelectual, no Brasil, vive uma situação semelhante às descritas acima. A candidatura de Breno Viola ao cargo de presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD) é uma oportunidade real de honrarmos a batalha diária, secular vivida diariamente por pessoas que nasceram ou adquiriram alguma deficiência intelectual, assim como seus parceiros de luta: pais, amigos, parentes e educadores.

Mas há quem diga que o Breno não está preparado. Baseado em que alguém pode dizer isso? Outra perguntinha de resposta fácil: Em seus próprios medos. O mais doloroso é saber que tal opinião parte de pessoas que se dizem a favor da inclusão das pessoas com Down na sociedade, de igual para igual, roçando cotovelos na caminhada em direção à igualdade de direitos. Sei…

Independente de ideologias (e a candidatura do Breno à FBASD não reflete nenhuma), quem poderia dizer que um homem negro com nome de árabe seria presidente dos Estados Unidos menos de 10 anos depois do ataque ao World Trade Center? Barak Hussein Obama é o nome do cara.

E Lula? Que tantos preconceituosos ainda chamam de analfabeto, não está aí? Para o bem ou para o mal? Quantos disseram que ele não tinha condições de ser presidente da República? Mais uma vez, gostando ou não, ele ocupa este cargo a dois mandatos, legitimado pelo voto popular.

É clara e desconcertante a cisão do movimento de inclusão neste momento no Brasil. O desejo da candidatura do Breno Viola, defendido tão corajosamente por ele, já valeu para mostrar quem é inclusivo da boca pra fora, quem prefere se resguardar atrás de teorias e deixar a prática para os outros países.

Se dependêssemos destas pessoas, meu filho, Francisco, estaria numa instituição para crianças especiais e não numa escola regular. Quem tem filho com Down sabe que a inclusão é suada, tem altos e baixos, surpresas positivas, decepções. Assim é a vida. A inclusão só está sendo construída diariamente graças aos que não se negaram a acreditar e a arriscar. Os que dispensaram porta-vozes e acreditaram, mesmo, que alguém com Down pode ir à luta, se expor de verdade. E que os erros e falhas serão bem-vindos pois serão reais e nos ajudarão a construir uma realidade em que não precisaremos de pessoas que se acham mais capacitadas a decidir a vida do meu filho do que ele um dia poderá decidir.

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* Lais Mendes Pimentel, jornalista e roteirista, mãe do Francisco, 9 anos.

23 Comments

  1. Muitas pessoas acham que quebram paradigmas com palavras, essa é a expressão exata da mudança social. Que sua candidatura prospere e traga frutos a todos!

    João T Lopes Joinvile SC

  2. Postado no Facebook

    Suzana Mas Fonseca Li. O artigo da Laís é fantástico pela escrita solta, aparentemente de senso comum, porém de alto teor científico (a natureza sociológica do homem, seus direitos e desejos, evolução). Mais rico ainda é o tema, traz um personagem interessantísimo a gritar aos nossos corações, ouvidos e cérebros a obviedade encoberta da vida. VALE MUITO.

  3. Postado no Facebook

    Lenira Alcure Parabéns pelo enxuto e sensível texto, redigido com amor e lógica (que não se excluem, pelo amor de Deus!) capaz de convencer até as pedras (que muita gente cultiva no lugar de coração). Torço pelo Breno, pelo Xico e por todos que sabem que a diferença é a nossa semelhança.

  4. Nao devemos excluir quem nao acredita na inclusao, mas traze-las para compreenderem o real significado. E o real significado está posto com a disposiçao do Breno Viola em concorrer a um cargo de Presidente da Federaçao. Acrditar e respeitar a voliçao de quem é sujeito no processo. Vamos lá Breno, vc vai está mostrando que é sujeito, tem vontade e desejos. Chega das pessoas com síndrome de Down serem objeto nesse processo! Torço por você e a sua disposiçao me dá uma felicidade enorme. Beijos,
    Marinalva Oliveira, mãe do Gabriel 4 anos que nasceu com SD e será o que ele desejar.

  5. Postado no RJDown

    Olá Lais, voce como sempre atingiu a mosca…. aliás como professroa de História devo dizer que além das cavernas, todas as conquistas da humanidade passaram por esta etapa dos empreendedores contra o time dos pessimistas, que não quer mudar
    nada, pois como está tá legal…. foi assim que a Maria Antonieta e seu rei perderam a cabeça…. a revolução industrial melhorou a vida das pessoas, Pasteur e as vacinas, Darwing e a teoria da evolução das espécies e etc etc etc….
    Não quero dar nenhum pitaco, mas se não se tem coragem pra tentar nada vai mudar e não é isso que queremos e não é por isso que lutamos, certo?
    Um abraço,
    Narli- mãe do José 14 anos- ainda com os cílios mais invejados do planeta

  6. Postado no Forum Inclusao

    A candidatura de Breno Viola é impactante e suscita reações, reflexões e muita conversa, uma avalanche de interrogações e exclamações. Neste cenário, emergem dúvidas, conflitos, interpretações e interpretações… De minha parte, observo os ditos e não-ditos, corro o risco do julgamento preciptado ou mesmo de ser erroneamente interpretada ao explicitar meu zelo e cautela.
    Conheci o Breno durante o Seminário Internacional “A escola aprendendo com as diferenças”, em Brasília, quando percebi a reação do público, as interações com ele nos corredores, durante os intervalos do café e do almoço. Senti um certo desconforto ao notar que Breno era aplaudido por qualquer motivo, infantilizado em alguns casos e em alguns momentos exposto a uma espécie de “vitrinismo” e “vedetismo” mais do que exercendo o protagonismo que desejamos dele como sujeito de direito e postulante ao cargo.
    Estas questões me inquietam e acho que é preciso ter coragem de
    discutir abertamente os questionamentos (procedentes ou não) desta
    candidatura e em que condições se dará o pleito e o mandato neste caso tão singular e significativo.
    Desejo que o Breno conquiste seu espaço, seja respeitado e reconhecido pelos seus méritos, que ele exerça plenamente seus direitos e deveres.
    Elizabet Sá
    Psicóloga e Educadora

  7. Postado no Forum Inclusao

    Elizabet,

    Suas palavras têm uma observação aguda, cirúrgica. Tive o prazer de conhecer Breno e tive sensações muito semelhantes às suas. Mas não consegui explicitá-las com tanta objetividade e clareza.

    É uma situação nova, multifacetada e que merece reflexões profundas.

    Agradeço muito a oportunidade que você nos abre, ao partilhar seus
    pensamentos e reflexões.

    Vamos lá!

    Abraços

    Marta Gil

  8. Elizabet,

    E isso que eu desejo para o Breno tambem – que lhe demos as condicoes para que exerca seus direitos e deveres.

    Parece que eu estou vendo a situacao que voce expos durante a Conferencia. O Breno virou quase uma celebridade, para o bem e para o mal. E como acontece nos casos de celebridades, as pessoas nao sabem comportar-se diante delas – e as vezes elas tampouco ajudem, principalmente se apenas estao comecando a serem
    (re)conhecidas.

    Nao da pra deixar de entender a postura das pessoas. Afinal, uma pessoa com deficiencia inelectual chegar onde ele tem chegado, contra tudo e contra todos, e mesmo algo novo e digno de aplausos. Mas acredito que esse comportamento sera deixado de lado quando nos acostumarmos a ver pessoas que antes nao faziam parte da sociedade serem incluidas. E com isso tambem o Breno aprenderia a ser apenas mais um delegado na Conferencia e manter tal postura.

    Comparo essa situacao a vivida pela minha filha, que tem sindrome de down, no jardim de infancia no momento. Por mais cuidado que tenhamos, ela esta sendo infantilizada e super-protegida por seus colegas e alguns funcionarios da escola. No meio de um jogo de bola, dao a vez pra ela e quando ela acerta (ou mesmo se erra) todo mundo festeja. E obvio que ela adora a atencao e grita
    junto. O que fazer nese caso, rebaixa-la do jardim para a pre-escola onde as criancas tem habilidades mais parecidas com a sua, ou ensinar colegas e educadores a comportarem-se?

    Em situacoes novas como estas, nada e evidente. Os pros e os contras devem ser pensados e pesados, e as estrategias devem ser testadas. Exatamente como fazemos com a inclusao escolar. E nem sempre tudo vai dar certo. Mas ha que haver vontade de comecar e de acertar.

    Para que o Breno fosse presidente, a Federacao teria que estar disposta a se adaptar a ele, e nao ao contrario. Nao e isso que falamos da escola tambem?

    Abs,
    Pat

  9. Tenho um filho down e o exemplo que o Breno nos traz é fantástico. Dá esperança no futuro, mesmo que o opresente tenha muitras difucldades, nossa misssão é ajudá-lo de todas as formas que nos for possível

  10. Postado no Forum Inclusao

    Pessoal, boa tarde!

    Elizabet, Marta e Patrícia, quero contribuir com este diálogo.

    Na verdade não conheço o Breno, mas conheço muitos jovens com Síndrome de Down que acredito já ter presenciado cenas como as descritas pela Elizabet.
    Sinto que existe muitos questionamentos no ar, em relação as pessoas com D.I fazerem uso de seus direitos.Sinto também que existe um sentimento confuso nas platéias quando uma pessoa com S.D, vem à público e faz uso da palavra, em alguns momentos percebo que existe um espanto pela capacidade; em outros
    um sentimento Oh que lindo, mesmo sem estar atento ao conteúdo exposto.
    O mundo não foi preparado para vivenciar isso com uma pessoa com deficiência intelectual.
    Enquanto profissional e convencida de que é a inclusão o caminho, sinto que temos responsabilidade sobre estes sentimentos, sinto que podemos contribuir com estas mudanças;acredito que podemos contribuir avaliando estes momentos: avaliando o conteúdo das falas deles; avaliando os sentimentos que eles despertam nas pessoas; avaliando o será preciso melhorar, que apoios serão
    necessários para o amadurecimento destas relações. Observo que estas avaliações devam ser feitas junto com eles, para eles e por eles.
    Gosto da idéia de termos claro o objetivo das ações, pois desta forma talvez tenhamos maior clareza das ações. O que realmente queremos, como queremos, de que jeito queremos e em qual situação isto é mais pertinente.
    Penso que já fazemos isso o tempo todo conosco, quando nos preparamos para algo, fazemos estas análises e é isso que devemos ir fazendo com eles.
    Patrícia, quando vc apresenta o exemplo da sua filha, fico imaginando qual é o objetivo da professora e dos colegas, o que eles estão querendo mostrar para ela e será que ela precisa desta informação. Como a professora e os colegas reagem aos outros colegas que erram, eles também são aplaudidos e
    recebem a vez novamente, pois o objetivo nesta atividade é valorizar a tentativa, o esforço e isso é para todos, ou não?
    Talvez nosso papel seja este sentar após uma atividade desta e tentar entender se foi o caminho que deveríamos ter seguido, ou se precisamos mudar a rota. Não acredito que tenha uma fórmula, mas acredito que tenha muitas maneiras de caminhar.

    Pessoal me desculpem se escrevi muito, mas gosto da idéia de dialogar sobre estes aspectos, pois acredito que a inclusão implica em saber o que a pessoa com deficiência quer, o que ela precisa neste momento,o que ela precisa fazer para conseguir o que deseja, o que as pessoas em volta precisam fazer para apoiá-la, o que a sociedade precisa fazer e assim podemos ir construindo este caminho.

    Abraços à todos!

    Márcia Andrade
    Pedagoga
    Terapeuta Ocupacional
    Facilitadora de Processos de Desenvolvimento

  11. Esse é um passo colossal rumo ao avanço da inclusão em nossa sociedade. Parabéns a Lais Pimentel pelo artigo e posicionamento.

    Frederico

  12. Postado no Forum Inclusao

    Olá, meus caros colegas:
    Deixe-me, primeiramente, dizer que venho escrevendo em vários lugares, falando também, que não basta ser pessoa com deficiência para que se esteja pronto, preparado, capacitado para falar em nome ou representar as pessoas com deficiência nesta ou naquela área. É necessário que se domine o conteúdo, as implicações de suas ações precisam ser ponderadas etc.
    Por outro lado, é importante notarmos que não se pode querer, só porque uma pessoa tem uma deficiência, que ela seja, autônoma e independentemente um super aluno, empregado ou, porque não, um candidato.
    Não podemos querer que um candidato cego passe a ver, pois terá de ler documentos que, se não tiver acesso às letrinhas pequenas, neles contidas, poderão enganá-lo, quando de sua assinatura. Precisamos que haja alguém de confiança que saiba ler e que lhe dê acessibilidade aos constructos visuais do documento a ou b.

    Não podemos querer que um cadeirante se levante e, corpo-a-corpo vá disputar espaços, chegando ao presidente, ao chefe etc. que está encima numa escadaria, para brigar por uma causa.
    Precisamos oferecer espaços acessíveis à cadeira de rodas, precisamos, se for o caso, ter alguém que, ao comando do indivíduo em cadeira de rodas, vá buscar o presidente para que o primeiro lhe fale.

    O mesmo com as pessoas com deficiência auditiva: precisamos lhes oferecer condições de acesso às informações orais, se for necessário, que se peça ao orador que o faça com mais vagar, que a fala seja gravada e transcrita etc. Aqui também se deve tratar diferentemente para igualar em condições, respeitando a
    natureza da deficiência.

    E em relação à deficiência intelectual?
    Como ela se manifesta? Como ela age sobre o indivíduo? Sobretudo, como é um indivíduo com deficiência intelectual?
    1- Ele é indivíduo, ser indivisível de suas características;
    2- ele não é a deficiência e esta não pode ser retirada dele;
    3- não se pode querer que ele haja igual aos demais sem deficiência, mesmo porque os demais sem deficiência não hajem igualmente;
    4- uma pessoa com deficiência intelectual não é igual a outra, ainda que no plano médico tenham o mesmo CID, ainda que tenham comportamentos, fenótipo ou genótipo semelhantes;
    5- uma pessoa com deficiência intelectual não é a melhor para falar, representar ou servir como exemplo de deficiência, só porque tem uma deficiência
    intelectual (confira itens anteriores);
    Em 1984 ou 5, estou em dúvida agora, estive no Rio de Janeiro, num evento de uma semana, onde pessoas do Brasil todo discutiam subsídios para os constituintes incluirem na Constituição de 88. Naquela época, um jovem atrevido perguntou em plenário onde estavam os representantes “com deficiência mental”.
    Ele foi, inclusive “ridicularizado” por alguns que disseram que os “retardados não podiam falar por si” e que tinham representantes das Apaes” lá.
    Bem, esse mesmo jovem foi à frente dizer que não adiantaria mudar a nomenclatura para “pessoa portadora de deficiência” se as posturas não fossem mudadas.
    E porque trago esse extrato da história?
    Penso que é necessária, mais que uma mudança na nomenclatura, uma mudança de como ver a sociedade e os ritos que ela elegeu como sendo próprios para esta ou aquela situação.
    uma pessoa que não fale bem o português pode ter dificuldade de se fazer entender nesse idioma, mas isso não retirará dela a capacidade de produzir suas ideias, imprimir valores às suas atitudes etc.
    A questão aqui, pois, não é exclusivamente da deficiência ou não do senhor Breno, mas das condições que ele terá, ou não, para exercer o cargo a que pleitea;
    a questão aqui, não é a deficiência intelectual do senhor Breno, mas se estamos considerando a possibilidade de sermos representados por uma pessoa com deficiência intelectual. isto é, se estamos preparados para ouvir ordens de uma pessoa com deficiência intelectual e assumirmos como um mando e não como algo
    que um “retardado está dizendo, sem o dicernimento de uma pessoa normal”.
    Pesado, não é?

    Como candidato, cabe ao senhor Breno expressar-se, com ou sem os seus apoiadores, com ou sem seus colaboradores, pois, nenhum presidente, nenhum chefe, nenhum pesquisador faz sozinho e, quanto mais apoio, colaboração tiver, de pessoas sérias, probas, capazes, eles serão melhores presidentes, melhores chefes, melhores pesquisadores, melhores professores, melhores filhos também.

    Minha orientanda fez uma pesquisa, registrada em sua dissertação de mestrado a respeito das barreiras atitudinais na contratação de pessoas com deficiência, em Universidades, tomando como partida a taxonomia abaixo.
    Penso que ponderarmos a respeito destas poderão lançar luz a esta discussão.
    E esta discussão se faz pertinente e necessária, mesmo que neste momento este candidato não seja o apontado para este quadro.

    Muitos não foram bem sucedidos em seus primeiros pleitos e aprenderam com isso também. Depois, com a aprendizagem, com o preparo, com a melhor preparação de seus oponentes, se tornaram presidentes, inclusive de países, como o ovcorrido nos EUA, com o senhor Lincoln.

    (Abraham Lincoln nasceu em 1809 no Estado de Kentucky, no sul dos Estados Unidos. Filho de um homem da fronteira, teve que lutar para sobreviver, com esforços para estudar enquanto trabalhava em uma fazenda e dirigia uma loja em Illinois.

    Em 1858, Lincoln concorreu contra Stephen A. Douglas para o Senado. Lincoln perdeu a eleição, Mas no debate com Douglas ganhou uma reputação nacional que lhe valeu a indicação republicana para a disputa presidencial em 1860, a qual venceu.

    Lincoln, em seu discurso de posse disse:
    “em suas mãos, meus compatriotas insatisfeitos, e não nas minhas, se encontra esta questão momentosa da guerra civil”.

    Para Lincoln, a secessão era ilegal. Ele estava disposto a usar a força para defender a libertação das pessoas negras da escravidão a que vinham sendo submetidas.

    Em 1º de janeiro de 1863 ele divulgou a Proclamação da Emancipação que declarava a libertação dos escravos.
    Na inauguração do cemitério militar em Gettysburg, Lincoln declarou:

    “Que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação, com a graça de Deus, venha gerar uma nova liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra”.)

    Fiquem, pois, com exte extrato de nosso artigo, em que as barreiras atitudinais são aplicadas ao ambiente escolar e que cabem como um luva ao material em comento.

    Francisco Lima

    ps. ao ler, substitua aluno por candidato, escola, por presidência e assim por diante, adequando ao sentido de nossa discussão.
    “…eHoje, buscamos tratar diferentemente as pessoas diferentes para igualá-las em direito, ou seja, desejamos uma sociedade inclusiva.
    Como alcançar a transformação social se há uma distância entre quem
    são as pessoas com deficiência, as imagens que outros sujeitos sociais criam em torno dessas pessoas e, para efeito de aceitação social, quem elas deveriam ser?
    Vistas pela sociedade como desviantes, essas pessoas enfrentam impedimentos muito mais difíceis de lidar do que a própria deficiência sensorial, física ou intelectual.

    Uma deficiência é, muitas vezes, detectável de imediato. Em
    decorrência dessa percepção, as pessoas sem deficiência podem apresentar atitudes traduzidas em curiosidade, crença na inferioridade, fragilidade e dependência da pessoa com deficiência ou mesmo de repulsa a essa pessoa.

    As barreiras atitudinais, porém, nem sempre são intencionais ou
    percebidas. Por assim dizer, o maior problema das barreiras atitudinais está em não as removermos, assim que são detectadas. Exemplos de algumas dessas barreiras atitudinais são a utilização de rótulos, de adjetivações, de substantivação da pessoa com deficiência como um todo deficiente, entre outras.

    Também constituem barreiras atitudinais na escola (ou em outros
    espaços sociais) aquelas que se apresentam na forma de:

    · Ignorância: desconhecer a potencialidade do aluno com deficiência.

    · Medo: ter receio de receber a um aluno com deficiência, ou mesmo a um outro profissional da Educação que apresente alguma deficiência; temer em “fazer ou dizer a coisa errada” em torno de alguém com uma deficiência.

    · Rejeição: recusar-se a interagir com a pessoa com deficiência, um
    aluno, familiares deste ou outro operador da educação.

    · Percepção de menos-valia: avaliação depreciativa da capacidade,
    sentimento de que o aluno com deficiência não poderá ou só poderá em parte.

    · Inferioridade: acreditar que o aluno com deficiência não acompanhará os demais. Isso é incorrer num grave engano, pois todas as pessoas apresentam ritmos de aprendizagem diferentes. Assim sendo, ninguém acompanha ninguém; cada um faz seu percurso singularmente, mesmo a proposta docente sendo coletiva e una.

    · Piedade: sentir-se pesaroso e ter atitudes protetoras em relação ao aluno com deficiência. Estimular a classe a antecipar-se às pessoas com deficiência, realizando as atividades por elas, atribuindo-lhes uma pseudo-participação.

    · Adoração do herói: considerar um aluno como sendo “especial”,
    “excepcional” ou “extraordinário”, simplesmente por superar uma deficiência ou por fazer uma atividade escolar qualquer; elogiar, exageradamente a pessoa com deficiência pela mínima ação realizada na escola, como se inusitada fosse sua capacidade de viver e interagir com o grupo e o ambiente.

    · Exaltação do modelo: usar a imagem do estudante com deficiência como modelo de persistência e coragem diante os demais.

    · Percepção de incapacidade intelectual: evitar a matrícula dos alunos com deficiência na instituição escolar, não deixando que eles demonstrem suas habilidades e competências. Achar que ter na sala de aula um aluno com deficiência é um fato que atrapalhará o desenvolvimento de toda a turma.

    · Efeito de propagação (ou expansão): supor que a deficiência de um aluno afeta negativamente outros sentidos, habilidades ou traços da personalidade. Por exemplo, achar que a pessoa com deficiência auditiva tem também deficiência intelectual.

    · Estereótipos: pensar no aluno com deficiência comparando-o com outros com mesma deficiência, construindo generalizações positivas e/ou negativas sobre as pessoas com deficiência.

    · Compensação: acreditar que os alunos com deficiência devem ser
    compensados de alguma forma; minimizar a intensidade das atividades pedagógicas; achar que os alunos com deficiência devem receber vantagens.

    · Negação: desconsiderar as deficiências do aluno como dificuldades na aprendizagem.

    · Substantivação da deficiência: referir-se à falta de uma parte ou
    sentido da pessoa como se a parte “faltante” fosse o todo. Ex: o deficiente mental, o cego, o “perneta”, etc. Essa barreira faz com que o aluno com deficiência perca sua identidade em detrimento da deficiência, fragilizando sua auto-estima e o desejo de aprender e estar na escola.

    · Comparação: comparar os alunos com e sem deficiência, salientando
    aquilo que o aluno com deficiência ainda não alcançou em relação ao aluno sem deficiência, colocando este em posição superior ao primeiro. Na comparação, não se privilegiam os ganhos dos alunos, mas ressaltam-se suas “falhas”, “faltas” e “deficiências”.

    · Atitude de segregação: acreditar que os alunos com deficiência só
    poderão conviver com os de sua mesma faixa etária até um dado momento e que, para sua escolarização, elas deverão ser encaminhadas à escola especial, com profissionais especializados.

    · Adjetivação: classificar a pessoa com deficiência como “lenta”,
    “agressiva”, “dócil”, “difícil”, “aluno-problema”, “deficiente mental'”, etc. Essa adjetivação deteriora a identidade dos alunos.

    · Particularização: afirmar, de maneira restritiva, que o aluno com
    deficiência está progredindo à sua maneira, do seu jeito, etc.; achar que uma pessoa com deficiência só aprenderá com outra com a mesma deficiência.

    · Baixa expectativa: acreditar que os alunos com deficiência devem
    realizar apenas atividades mecânicas, exercícios repetitivos; prever que o aluno com deficiência não conseguirá interagir numa sala regular. Muitos professores passam toda a vida propondo exercícios de cópia, repetição. Isso não ajuda o aluno a descobrir suas inteligências, competências e habilidades múltiplas.

    · Generalização: generalizar aspectos positivos ou negativos de um aluno com deficiência em relação a outro com a mesma deficiência, imaginando que ambos terão os mesmos avanços, dificuldades e habilidades no processo educacional.

    · Padronização: fazer comentários sobre o desenvolvimento dos alunos, agrupando-os em torno da deficiência; conduzir os alunos com deficiência às atividades mais simples, de baixa habilidade, ajustando os padrões ou, ainda, esperar que um aluno com deficiência aprecie a oportunidade de apenas estar na escola (achando que, para esse aluno, basta a integração quando, de fato, o que lhe é devido é a inclusão).

    · Assistencialismo e superproteção: impedir que os alunos com deficiência experimentem suas próprias estratégias de aprendizagem, temendo que eles fracassem; não deixar que os alunos com deficiência explorem os espaços físicos da escola, por medo que se machuquem; não avaliar o aluno pelo seu desenvolvimento, receando que ele se sinta frustrado com alguma avaliação menos
    positiva.

    As barreiras atitudinais podem estar baseadas em preconceitos
    explícitos ou a eles dar origem. como vimos, elas aparecem em nossa linguagem, tanto quanto em nossas ações ou omissões.

    Logo, muitas ações aparentemente sem importância nutrem, no
    dia-a-dia, as barreiras atitudinais; por exemplo, quando se acredita que só as pessoas que têm amigos, parentes ou mesmo alunos com deficiência é que devem buscar a inclusão. (Essa idéia, além de fortalecer as barreiras de atitude, constitui um conceito equivocado de inclusão, pois o ato de incluir não se refere apenas às pessoas com deficiência, mas a todos os grupos vulneráveis, a
    todas as pessoas, enfim, a toda a sociedade. O objetivo não é restringir, mas acolher a singularidade de cada indivíduo. Daí é que muitos de nós já estão engajados no processo de transformação social, mesmo porque desejamos uma sociedade mais humana).

    A suposição do professor de que ter um aluno com deficiência é uma
    providência divina para que ele possa praticar o bem e a ética constitui igualmente uma barreira atitudinal. Nessa linha, alguns professores manifestam a crença de que a pior coisa que pode acontecer a um estudante é nascer com deficiência. Na verdade, uma das piores coisas que pode acontecer a um aluno é não ser visto como sujeito social, pessoa humana que tem conhecimentos
    preexistentes, expectativas, sonhos, desejos, etc…)

  13. Essa discussao tem sido muito boa no snetido de deixar claro que por trás de muito discurso inclusivo repousa o paternalismo e assitencialismo de sempre. Mais que na hora de uma renovaçao de mentes e pensamentos!!!

    Miriam Abreu
    Psicopedagoga
    Mogi das Cruzes SP

  14. Parabéns Laís, seu texto muito lúcido me emocionou muito. Estou na luta há três meses, quando meu menininho Caio nasceu com Síndrome de Down. Graças à luta dos pais de hoje, os adultos e adolescentes com SD mudaram não só na aparência mas principalmente em suas chances de desenvolvimento. Breno é um sopro de vida na luta do Down pela sua independência.

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