Por Guilhereme Lima
Apresentando notável heterogeneidade em sua composição populacional, o Brasil desconhece a si mesmo.
Na relação do País consigo mesmo, é comum prevalecerem vários estereótipos, tanto regionais quanto em relação a grupos étnicos, sociais e culturais.
Desta forma registra-se a dificuldade para se lidar com a temática do preconceito e da discriminação racial. Evitando-se o tema por muito tempo, sendo marcado por “mitos” que veicularam uma imagem de um Brasil homogêneo, sem diferenças, ou, em outra hipótese, promotor de uma suposta “Democracia Social”.
Na escola, muitas vezes, conjugam-se manifestações de racismo, em forma de discriminação social ou étnica, por parte de professores, alunos ou da equipe escolar, ainda que de maneira involuntária ou inconsciente. Essas atitudes representam violação dos direitos dos alunos, professores e funcionários discriminados, trazendo consigo obstáculos aos processos educacionais, pelo sofrimento e constrangimento a que essas pessoas se vêem expostas.
Os direitos culturais banalizam a discriminação social/racial, colocando-a às margens da criminalidade, atendendo aos aspectos referentes à proteção de pessoas e grupos pertencentes a minorias étnicas e/ou culturais. Muitas vezes inconscientemente passamos por injustiças, uma vez agravadas quando se manifestam em conjunto com problemas vinculados a discriminação por motivo de debilitações físicas ou mentais.
Paulatinamente conquista-se uma legislação antidiscriminatória, culminando com o estabelecimento, na Constituição Federal de 1988, da discriminação racial como crime. Desta maneira, existem mecanismos de proteção e promoção de identidades étnicas, como a garantia a todos, do pleno exercício dos direitos culturais, assim como apoio e incentivo à valorização e difusão das manifestações culturais. Temos como exemplo desta conquista os povos indígenas que têem garantidos seus direitos de desenvolvimento de processos pedagógicos próprios, tradicionais, com liberdade de organização de suas escolas.
Contribuindo nesse processo de superação da discriminação e de construção de uma sociedade justa, livre e fraterna, o processo educacional há que tratar do campo ético e social, para se chegar a um ideal de como desenvolver atitudes e valores voltados para a formação de novos comportamentos, de novos vínculos em relação àqueles que historicamente tornaram-se alvo de injustiças manifestadas no cotidiano escolar.
Mesmo em regiões onde não se apresente uma diversidade cultural tão acentuada, o conhecimento dessa característica plural do Brasil é extremamente relevante, pois, ao permitir o conhecimento mútuo entre regiões, grupos e indivíduos, consolida o espírito democrático.
Da mesma forma, tratar de aspectos referentes à discriminação social, mesmo em locais onde as situações de exclusão não se manifestam diretamente ou pelo menos não de maneira dramática, permitirá formar o aluno para a responsabilidade social de cidadão que participa dos destinos do País como um todo, direcionando a proposta para a busca de soluções.
Mudar mentalidades, superar o preconceito e combater atitudes discriminatórias são finalidades que envolvem lidar com valores de reconhecimento e respeito mútuo, o que é tarefa para a sociedade consciente como um todo, iniciando pelas atitudes dos pais peante seus filhos, até chegar na escola, sendo dos professores perante seus alunos. Sobrepondo-se a este fato a escola tem um papel crucial a desempenhar nesse processo, sendo em primeiro lugar porque é o espaço em que propicia a convivência entre alunos de origens e nível socioeconômico diversos, com costumes e dogmas religiosos diferentes daqueles que cada uma conhece, com visões de mundo diversas daquela que compartilha em família, em segundo lugar porque, é um dos lugares onde são ensinadas as regras do espaço público para o convívio democrático com a diferença, e em terceiro lugar porque a escola apresenta aos alunos conhecimentos sistematizados sobre o País e o mundo, conforme a realidade plural de um país como o Brasil, facilmente fornecer subsídios para debates e discussões em torno de questões sociais torna-se possível à todos.
O reconhecimento da complexidade que envolve a problemática social, cultural e étnica é o primeiro passo para esta mudança. Este reconhecimento aponta a necessidade de a escola instrumentalizar-se para fornecer informações mais precisas para questões que vêm sendo indevidamente respondidas pelo senso comum, quando não ignoradas por um silencioso constrangimento.
Convém lembrar que, por almejar um ensino diferenciado, é preciso especial atenção para trabalhos voltados para a formação das novas mentalidades, voltados para a questão dos Direitos Universais da Pessoa Humana, da consolidação Democrática do Brasil, da valorização de todos os povos e grupos humanos que formam a população Brasileira, e do pleno respeito a todo cidadão nas diferentes esferas da vida.
Pela dificuldade do trabalho em si, há que se lidar com cuidado, para garantir um tratamento objetivo e compreensivo daqueles aspectos considerados mais relevantes em cada região, cada escola e cada sala de aula.
Espero colaborar na consolidação democrática do Brasil, prestando uma homenagem àqueles que constituíram e constituem este país, com suas vidas e seus trabalhos, suas histórias de sofrimentos e lutas, suas conquistas e perdas, ressaltando que a “cultura” é patrimônio humano da nação, sendo o bem maior a ser cuidado, protegido e promovido.
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Fonte: Recanto das Letras