Depois de colher as impressões de profissionais envolvidos com o desenvolvimento educativo e de debater com a Secretária de Educação Especial do MEC, finalizamos a série de entrevistas “Desvendando dilemas da inclusão” com a participação daqueles que vivem o cotidiano da inclusão e são os responsáveis diretos por muitas das transformações que vem se observando no processo de educação: as próprias famílias.
Através de suas impressões e experiências, as famílias tem uma percepção das questões relacionadas à educação baseadas num interesse direto, não impessoal, e a oportunidade de tornar públicas inquietações e conquistas criam aqui testemunhos autênticos, mesmo que por vezes contraditórios, por isso mesmo definidos por um intenso e concreto envolvimento. Considerando que, via de regra, os ouvidos a falar sobre a temática são profissionais da área de educação, psicologia, gestores públicos, terapeutas e outras especialidades, a Inclusive pretende oportunizar uma visão de “dentro do olho do furacão”, redimensionando saberes a partir de uma noção de protagonismo diverso do tradicionalmente observado, seja aquele mais institucional ou o viés mais acadêmico.
Os pais e mães que participam desta entrevista tem em comum o fato de participarem de um tipo de associação que a internet ajudou a formar principalmente na última década: todos são participantes do grupo de discussão sobre síndrome de Down do Yahoo Grupos, o maior grupo do gênero que se tem notícia no mundo inteiro e que reúne pessoas de vários locais do Brasil e mesmo fora dele. Aqui serão identificados pelo nome e procedência geográfica. Ao todo, são quatro participantes: Gil Pena (MG), Ana Claudia Correa (RJ), Marinalva Oliveira (AP) e Patricia Almeida (USA).
A entrevista foi realizada através de um chat, em 04 de junho de 2010, e conduzido de modo a abordar questões preparadas previamente. Pela dinâmica própria de conversas tomadas assim, não seguiu-se um roteiro fixo, mas procurou-se aproveitar as contribuições espontâneas dos participantes. As questões podem ser acessadas ao final da entrevista ou nesse link. Iniciamos a conversa a partir de uma apresentação e da proposta que os participantes descrevessem seus filhos.
- Leia aqui a primeira entrevista da série “Desvendando Dilemas da Inclusão”, concedida pela psicóloga Maria Antonieta Voivodic sobre os aspectos psicossociais envolvendo os processos da inclusão.
- Leia também a entrevista da Secretária de Educação Especial do MEC, Claudia Pereira Dutra, que analisa os caminhos da educação na perspectiva da inclusão e responde a questões que dizem respeito à diversidade, educação em direitos humanos e políticas públicas implementadas pelo MEC.
Apresentação | Família, escola e socialização | Relação com a escola | Atuando junto à escola | A parceria como um ponto de chegada na relação família e escola | Professores auxiliares em que contexto? | A educação que vem de casa | Caracterizando a parceria | O projeto pedagógico interfere? | Superproteção | O papel da família, o desenvolvimento da educação e da pessoa | Bullying | Direito à educação | Aprendizado
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A apresentação índice
Gil Pena (MG): Sou Gil Pena. De Belo Horizonte, no caso aqui, pai da Sofia (também do Otávio) ela agora com 12 anos (13 em setembro).
Ana Claudia Correa (RJ): Ana Claudia Correa, Rio de janeiro, e mãe do Pedro (que tem síndrome de Down) 7 anos e da Ana Julia, 5
Marinalva Oliveira (AP): Marinalva, Macapá- AP, mãe do Gabriel 4 anos e 8 meses e de Andrew (21 anos) Andressa (20 anos). Gabriel tem síndorme de Down
Patricia Almeida (EUA): Sou Patricia Almeida, carioca, moradora do subúrbio de Nova York, nos EUA, e mãe da Luiza, 17, Cecilia, 15 e Amanda, 5,5, esta última nasceu com síndrome de Down.
Lucio Carvalho (RS): Lucio Carvalho, de Porto Alegre, RS, pai da Isabel (6) e do Rodrigo (3), estou aqui para facilitar a entrevista, mas talvez responda algumas delas também..
Lucio Carvalho (RS): Como pais e mães, gostaríamos de iniciar sabendo como identificam a personalidade de seus filhos. Como descreveriam o seu filho ou filha? (resumo da pergunta introdutória)
Ana Claudia (RJ): Acho que o ponto central da questão é como você enxerga o seu filho. Aqui em casa a síndrome de Down nunca foi sinônimo de doença ou um conjunto de sintomas. Para nos, o Pedro, nosso filho, é um menino como qualquer outro dotado de habilidades e dificuldades como qualquer outra criança e temos que aprender a lidar com elas como fazemos com a nossa outra filha que não tem síndrome de Down. Posso descreve-lo com um menino de 7 anos que ama a sua família e amigos, adora futebol e natação, cinema, teatro, é teimoso, insistente, e acima de tudo muito esperto quando quer.
Marinalva Oliveira (AP): Como descrever o Biel? Uma criança como qualquer outra da sua idade. Têm birras, teimosias, é carinhoso, alegre, dengoso quando está perto da mãe etc. Tudo depende de quem está se relacionando com ele.
Patricia (EUA): Amanda é a alegria da casa. Não tem como ficar de mau humor ao lado dela. A gente que convive com ela só vê uma menina de 5 anos e meio, cheia de energia e curiosidade.
Gil Pena (MG): A Sofia é uma pessoa. Antes da Síndrome de Down. Não oferecemos a síndrome de Down como uma explicação para o seu comportamento ou ações. Ela compreende o mundo e é capaz de aprender. Se alguma coisa não está indo bem, temos de nós esforçar, e ela, para aprender (como se comportar, e até se socializar).
Gil Pena (MG): Lucio, você esperava que algum de nós respondesse de outro modo?
Lucio (RS): Não, é que fico dividido entre responder ou fazer outras perguntas dentro da pergunta..
Gil Pena (MG): Lucio, faça as duas coisas
Patricia (EUA): Sim, a conversa flui melhor com naturalidade. Fale dos seus filhos também.
Marinalva Oliveira (AP): Lúcio, penso que poderias ir fazendo as duas coisas. Mas acho que renderia mais se interviesse e fizesse perguntas.
Família, escola e socialização índice
Lucio (RS): Por exemplo, gostaria de saber se algum de vocês já teve problemas específicos sobre socialização na escola, com os amigos, na vizinhança.. O Rodrigo antes de ir à escola era extremamente tímido e agora soltou-se mais, por exemplo.
Patricia (EUA): Minha filha sempre foi uma criança que apreciou conviver com outras pessoas. No entanto, se comparada a outras crianças da mesma faixa etária, ela leva mais tempo para transpor as etapas de interação. Até pouco tempo atrás gostava mais de brincar sozinha ao lado de outras crianças do que em grupo. De uns tempos para cá começou a demonstrar interesse em participar de jogos coletivos e recentemente aprendeu a iniciar interação com outras crianças para se incluir nas brincadeiras. Penso que os adultos podem e devem tentar, se possível, facilitar essa interação quando se trata de uma criança que tem dificuldade de se relacionar seja por timidez, porque não conhece o grupo ou qualquer outra razão.
Marinalva Oliveira (AP): O Biel antes dos 4 anos se intimidava diante de crianças que demonstrava maior desenvoltura que ele. Hoje ele já interage com tranquilidade, mas isso foi mediado por nós
Patricia (EUA): E o Pedro, Ana Claudia, como é com colegas da escola e vizinhos?
Ana Claudia (RJ): O Pedro gosta de festa e de gente e sempre foi cara de pau e enturmado. O que dificulta mais é a questão da fala. Muitas vezes foi necessário intervir. Agora melhorou muito mas ele já esta com 7 anos.
Gil Pena (MG): Problemas com socialização enfrento tanto com o Otávio, como com a Sofia. A escola, que é onde passam a maior parte do tempo, tem de mediar a socialização das crianças, criando respeito mútuo. A maior parte do tempo, acredito, a Sofia fica sozinha, mas aos poucos interage com o grupo, acha o seu espaço.
Ana Claudia (RJ): Ele tem muitos amigos na escola. Isso foi tudo para o desenvolvimento dele.
Gil Pena (MG): No meu caso, a escola tem trabalhado no sentido de fazer essa mediação, e a Sofia, ao menos nas tarefas escolares, interage bem com o grupo.
Marinalva Oliveira (AP): Estou sempre atenta na escola do Biel e algumas vezes percebi esse isolamento dele. Conversei com as professoras e disse que elas precisavam mediar a interação.
Lucio (RS): Sim, penso que a escola representa um salto qualitativo na sua percepção do mundo.
Marinalva Oliveira (AP): Hoje isso tá tranquilo, mas a fala realmente é um complicador. Mas também trabalho isso com as professoras para que esclareçam os coleguinhas de que o Biel não fala como eles, mas compreende tudo que estão falando.
Patricia (EUA): Eu também estou sempre atenta a escola. Troco e-mails com a professora, vejo como e a relação da Amanda com as outras crianças. Mas como disse, só recentemente ela começou a demonstrar interesse. Creio que é algo que deve ser mediado mas não forçado.
Relação com a escola índice
Lucio (RS): E as escolas receberam bem as suas iniciativas e sugestões ou houve algum tipo de percalço? Quando procuraram intervir, procuraram quem na escola?
Patricia (EUA): Sempre recebem bem as sugestões. Algumas dão certo, outras não. E tudo baseado numa relação de parceiros, mesmo, com muito respeito e confiança, mesmo quando divergimos em alguma opinião.
Ana Claudia (RJ): Temos uma relação de franqueza total. Escutamos mas também falamos. Tem que ser uma troca intensa senão não funciona.
Marinalva Oliveira (AP): Não foi tão simples assim. Eu, a fonoaudióloga e a terapeuta ocupacional do Biel fazíamos as orientações, observações mas a coordenação da escola ignorava. As professoras recebiam bem, mas como é escola particular, a coordenadora na nossa ausência passava outra orientação. Quando percebi que havia algo errado procurei a Diretora e conversei. Hoje já até criaram grupo de estudo na escola e participam do meu grupo de
estudo na universidade.
Lucio (RS): No meu caso é pré-escola, então resolvemos e conversamos diretamente com a professora.
Patricia (EUA): Eu faço questão sempre de elogiar muito o ótimo trabalho que elas vem fazendo (mesmo quando as vezes fico com raiva sobre algo que acontece), e pedir desculpas por entupir as caixas de mensagens delas de e-mails…
Ana Claudia (RJ): O dono da escola (diretor), o coordenador e professor. Eu, o pai e algumas vezes uma psicopedagoga junto.
Gil Pena (MG): No meu caso, a escola sempre recebeu bem as nossas questões. Em um determinado momento, pesou o fato de que a Sofia tinha certos privilégios, como por exemplo usar a calculadora (que ela levada escondida), e queriam explicar para o grupo de colegas que era por ela tinha síndrome de Down. Mas conversamos, e a própria diretora disse que tudo tinha de ser entendido pelo caminho da diversidade (cada um era cada um).
Marinalva Oliveira (AP): O problema central é que as escolas querem receitas prontas como se as crianças fossem iguais.
Patricia (EUA): A pessoa mais aberta da equipe que atende a Amanda (aqui nos EUA as escolas tem fono, TO, fisioterapeuta e professora de educação especial dentro da escola), por incrível que pareça, é a professora, que não tem nenhuma formação em educação especial.
Ana Claudia (RJ): Lucio, acho que suas perguntas vão abordar todos esses temas não? Não quero ficar repetitiva, perdão..
Atuando junto à escola índice
Lucio (RS): Sim, a seu tempo.. Vamos com calma. Queria fazer uma última pergunta nessa questão. Existe para vocês um tipo de situação limite para atuar/intervir junto à escola? Já falaram no isolamento, por exemplo..
Patricia (EUA): Explique melhor…
Lucio (RS): O que quero saber é se há um tipo quebra de expectativa que motive a incidir na dinâmica pedagógica ou aspectos socializantes..
Patricia (EUA): Na semana que vem tenho reunião na escola da Amanda onde se traça os objetivos para o próximo ano. A maioria dos objetivos que vou sugerir dizem respeito a socialização, comunicação com as outras crianças, convidar os colegas para jogar com ela, dar uma induzida nesse aspecto.
Marinalva Oliveira (AP): Outra intervenção foi quando soube que o Biel estava recebendo material diferenciado dos colegas na sala de aula. A professora me contou como se fosse uma grande idéia. O próprio Gabriel rejeitou o material e não quis fazer a atividade. Exigiu que a professora lhe entregasse o material igual ao dos colegas
Ana Claudia (RJ): Lógico. Se você percebe que há um isolamento, um comportamento diferente, ou que a criança não está trabalhando em sala o que está sendo trabalhado na turma é o momento de intervir.
Gil Pena (MG): Em tudo, temos de estar avaliando o tempo todo, sempre intervindo quando necessário. De preferência, antes de uma situação limite.
Marinalva Oliveira (AP): Isso mesmo Gil. Sempre acompanho e indago para não chegar ao limite. Conversei com as professoras que não era isso. Na verdade era orientação da pedagoga da escola. O problema na escola do Biel é a pedagoga – coordenadora pedagógica, muito tradicional.
Patricia (EUA): Pois e, hoje estava vendo os trabalhinhos que vieram da escola. Era pra escrever um texto. A Amanda rabiscou. De próprio punho.
Ana Claudia (RJ): Concordo com o Gil. Um passo a frente, sempre. O Pedro também é assim. Reclama mesmo.
Lucio (RS): Ele reclama?
Ana Claudia (RJ): Reclama. No começo desse ano os testes dele ficaram travados com a coordenadora por uma semana. Ele chegou em casa e falou Mamãe o Pedro não tem teste. Liguei para outra mãe e soube que todos levaram os testes menos ele. Reclamei na hora.
A parceria como um ponto de chegada na relação família e escola índice
Lucio (RS): E funciona a intervenção prévia? Os professores aceitam e adotam as sugestões de vocês e dos profissionais que os acompanham?
Gil Pena (MG): É preciso ter sempre o grupo como referência. Se a Amanda por exemplo, rabisca, o grupo escreve, há um distanciamento, é preciso intervir, estimular o desenho, o detalhamento do desenho, as letras, reconhecer o nome.
Marinalva Oliveira (AP): Na escola do Biel a luta tem sido grande. As professoras não tem autonomia, nos ouvem mas a coordenadora passava outra orientação. Também não concordo com essa idéia de que é o momento da criança. O momento é aquele que intervimos e mediamos o conhecimento.
Gil Pena (MG): Não sei se entendi bem a colocação do Lucio, intervenção prévia, antes do limite?
Patricia (EUA): Aconteceu uma situação desagradável na apresentação da escola. As crianças cantavam uma musica e faziam gestos acompanhando. A música não tinha significado para a Amanda (era sobre junk food), ela não entendia o que estava cantando (ou tentando cantar). A auxiliar que a acompanha ficou pegando no braço dela e fazendo os gestos por trás. Eu fiquei danada da vida, mas não disse nada na hora. Quando houve reunião eu disse que seja o que for que a Amanda tenha que fazer, ela deve fazer por si própria e ser auxiliada o mínimo. Não admito que chegue em casa um desenho que sei que não foi ela que fez, por exemplo. Mas disse tudo com muito jeito pra não me indispor com a escola. Não consegui me livrar dessa auxiliar. Mas ela e bem legal, não faz nada por ela, só esta a postos quando precisa e auxiliar de toda turma também.
Gil Pena (MG): Vou aproveitando para escrever um pouco, que não dá tempo. Falo em estimular o desenho, é orientar o desenho, lembrar dos detalhes. Narrar. É preciso estabelecer determinados compromissos com a escola. Uma maneira é sugerir que não se faça nada diferente com nossos filhos, do que se faz em relação ao grupo. Por que a Amanda teria uma auxiliar que a acompanha?
Marinalva Oliveira (AP): Na escola do Biel, solicitamos que na sala tivessem duas professoras mas para toda a turma. Porque 10 a 15 crianças na educação infantil precisa de mais de uma professora
Patricia (EUA): Escrevi não faz nada por ela mas quis dizer que deixa que ela faca tudo sozinha e só da a mínima ajuda possível quando ela não consegue fazer algo. Na sala da Amanda tem 22 crianças, uma professora e duas auxiliares. Também me incomoda a historia da auxiliar. Mas por outro lado, reconheço que a Amanda ainda da bastante trabalho – sai correndo, não e independente com banheiro, dai a ajuda, pelo menos por enquanto.
Ana Claudia (RJ): Aqui no Rio esta difícil fugir dela (da auxiliar). Se não houver uma mudança em massa de todos de atitudes de todos os pais não vai mudar.
Patricia (EUA): Na natação, por exemplo, a professora da aula pra três crianças ao mesmo tempo. Duas esperam na borda da piscina enquanto uma nada com a professora. A Amanda quer entrar na piscina o tempo todo. Um auxiliar e uma questão de segurança. Nesse caso a auxiliar sou eu. 🙂
Professores auxiliares em que contexto? índice
Gil Pena (MG): Porque a Amanda dá trabalho? Outras crianças da escola dão? Precisamos trazer o nosso discurso para aquilo que vivemos. A Síndrome justifica a auxiliar? Tem de, por exemplo, explicar para a Amanda que não é para entrar na piscina. Se entrar, sai para o chuveiro.
Ana Claudia (RJ): Até nas escolas publicas estão sendo chamadas estagiarias de pedagogia para funcionar nas salas com crianças com deficiência intelectual. Mas nesse caso precisa mesmo, são 30 quase
Marinalva Oliveira (AP): Pois é, em vez de contratarem mais professores e colocar menos alunos nas turmas inventam essa história pra não pagarem mais.
Marinalva Oliveira (AP): Não é porque ela tem síndrome de Down. Talvez na aula de natação seja necessário por causa da idade
Patricia (EUA): As outras crianças de 3 e 4 anos ficam sentadinhas na borda…
Marinalva Oliveira (AP): Nossa Pat, essas crianças são muito comportadas.
Gil Pena (MG): Nunca tivemos a figura de uma auxiliar dentro da sala de aula para a Sofia.
Marinalva Oliveira (AP): Nem na sala do Biel. O que temos são duas professoras pra toda a turma.
Ana Claudia (RJ): Com relação a comportamento eu concordo mas com relação a adaptar material não sei. é tudo tão rápido, tanta matéria, tanta coisa que eu sei que apenas 2 em 10 professoras fariam isso sozinhas.
Patricia (EUA): Quantas crianças nas turmas da Sofia?
Gil Pena (MG): A que teve mais acho que foi uns 25, uma turma bem bagunceira. A Sofia era das que não dava nenhum problema.
Patricia (EUA): Lucio, vamos introduzir a pergunta do auxiliar?
Lucio (RS): Já está introduzida..
Ana Claudia (RJ): Isso sim é o ideal Marinalva. Mas para o ensino fundamental isso não existe.
Marinalva Oliveira (AP): Pois é, mas será mais um ponto na nossa luta. Condições ideais de trabalho para os professores. A questão central é que se fala tanto em inclusão e os professores não estão sendo incluídos.
Ana Claudia (RJ): Acredito que o ideal e que as escolas tivessem uma coordenadoria capacitada. Metade dos nossos problemas iam embora …
Patricia (EUA): Quando fui fazer a matrícula da Amanda na segunda escola que frequentou – maternal – a diretora disse que iria fazer uma experiência e caso achasse necessário solicitaria que eu contratasse uma ajudante para ela. Eu disse a ela que a minha filha não precisava de ajudante, quem talvez precisasse seria a professora… Ela começou as aulas e a professora ganhou uma estagiária para ajudá-la sem que eu tivesse que arcar com os custos. A moça auxiliava a Amanda, assim como qualquer criança que precisasse. Quantos alunos com a Sofia, Gil?
Gil Pena (MG): Antes, só uma professora. Na escola dela, agora, tem a figura da tutora, uma outra professora que acompanha o ciclo, dando orientação pedagógica. Dá um ajuda em algum aspecto. Agora, na quinta série (atual sexta de nove anos), é um professor por matéria.
Lucio (RS): Tenho uma questão.. Mas quem precisa de auxiliar? Os professores ou as crianças?
Ana Claudia (RJ): Boa Lucio. Para mim, os professores e a escola.
Patricia (EUA): Já aqui, o ensino e publico, não pago nada pela auxiliar e uma exigência da escola. Como tenho achado que ela não atrapalha, tenho aceitado.
Marinalva Oliveira (AP): Acredito que nenhum se tivéssemos menos alunos nas salas de aula e esses professores recebessem formação inicial e continuada.
Lucio (RS): Concordo.. Porém…
Patricia (EUA): Sim, esse é o cenário ideal. Porém…
Marinalva Oliveira (AP): Os professores e a escola não estão preparados para ensinar nenhum aluno. os cursos de formação inicial tem problemas de centrar na meritocracia e de formação continuada quando existem, são aligeirados e a distância.
Gil Pena (MG): O auxiliar, se é para ter, é para a professora e a turma como um todo. Não entendo que se possa cobrar por isso.
Ana Claudia (RJ): Vai depender da postura dela, Pat. Ela tem que entender que esta lá para auxiliar a professora e não a Amanda. Se a Amanda precisar de uma intervenção ela vai agir como agiria com qualquer outro aluno, que certamente também vai necessitar da ajuda dela.
A educação que vem de casa índice
Lucio (RS): Muitas vezes os auxiliares não seriam utilizados para “controlar” melhor as salas de aula e a disciplina? Não estariam auxiliando ninguém, mas servindo a um tipo de aparato de contenção dos alunos..
Ana Claudia (RJ): O que as escolas não querem é pagar direitos trabalhistas para mais um professor então transferem isso para os pais colocando o foco na criança e não na escola.
Gil Pena (MG): Lucio, então a crise é de autoridade. A escola tem de dar disciplina.
Patricia (EUA): No caso da Amanda, como aqui ela tem as terapias dentro da escola, essa auxiliar também é quem a leva para as sessões.
Gil Pena (MG): Pat: As sessões são no horário de aula, ou hora extra?
Patricia (EUA): Eles tem duas modalidades – push in – a terapeuta vem a sala de aula – e pull out – Amanda vai para outra sala. Fisioterapia e Terapia Ocupacional são fora da sala. Para o ano que vem vamos fazer isso no contra-turno.
Gil Pena (MG): Esse momento fora de sala é ruim para a Amanda. A turma, fica mandando brasa nas atividades, ela perdendo tempo de significação.
Lucio (RS): Mas os pais tem de dar limites, educação vem de casa, não é o que diz o ditado?
Ana Claudia (RJ): Ih, essa discussão rende. O papel da escola mudou. Pais trabalham fora o dia inteiro e na maioria das vezes chegam cansados e não querem discutir com os filhos. é mais fácil transferir a responsabilidade de educar para a escola.
Gil Pena (MG): A própria escola tem de ser formadora. É preciso ensinar o respeito, a maneira de se portar.
Patricia (EUA): Mas os agentes são os professores – e nesse caso auxiliares também…
Lucio (RS): Mas se os pais não exigem isso em casa, não seria um ensinamento estéril?
[02:48:32 AM] Gil Pena (MG): A criança aprende a se portar, de acordo com o ambiente. Há alunos que aprontam só na escola, por que é permitido.
Lucio (RS): Tirar o aluno da sala é o fim da picada..
Patricia (EUA): Sim, sempre peco para ela não perder as coisas mais importantes. Volta e meia ela ” mata” a terapia para ficar junto com grupo.
Marinalva Oliveira (AP): É preciso parceria entre família e escola
Caracterizando a parceria índice
Lucio (RS): pois é, chegamos nessa palavra..
Marinalva Oliveira (AP): O que ocorre algumas vezes é que um delega a responsabilidade ao outro
Lucio (RS): Se o que estamos descrevendo é uma parceria, fico pensando em como exemplificar a discórdia..
Patricia (EUA): Fundamental. Com firmeza, mas respeito. Na discórdia quem sofre e a criança…
Lucio (RS): Já vi pais desautorizando professores (e até mesmo outros pais) diante dos filhos.. Isso não pode ser educativo.
[02:50:39 AM] Ana Claudia (RJ): A discórdia tem que existir. Alguns anos atras queriam repetir o Pedro sob o argumento que ele não conseguiu alcançar a meta x ou y, o menino tinha 4 anos. Brigamos uma semana com a escola explicando da necessidade dele acompanhar os amigos da sua idade. A escola aceitou e no final do ano reconheceu que havia errado ao pensar assim.
Gil Pena (MG): Eu tenho uma parceria com a escola. Escrevi nestes dias um texto sobre a escola dos meus filhos, depois vocês leem: http://liberdadereflexiva.wordpress.com/2010/06/03/pensando-uma-escola/
Lucio (RS): E é importante colocar a parceria no papel?
Patricia (EUA): Como assim? Um contrato?
Marinalva Oliveira (AP): Eu também tenho com a escola do Biel. As professoras, coordenadora, diretora fazem parte do meu grupo de estudo e pesquisa. sempre estou me reunindo com elas aos sábados para conversarmos sobre Biel e outras crianças
Patricia (EUA): Prefiro dizer no lugar de discórdia diferença de opinião. Tive situação parecida com a Amanda aqui esse ano (o ano letivo termina esse mês).
Lucio (RS): Algo como a previsão daqueles limites que falávamos antes, objetivos, modos de chegar a eles, estratégias de aprendizado, seqüências, …
Gil Pena (MG): Lucio, tá errado o pai desautorizar o professor. A escola tem de saber o seu papel. estabelecer suas regras. Bem conversado. Não chegaria a colocar no papel.
Patricia (EUA): Aqui nos EUA cada criança com necessidades educacionais especiais tem um plano anual, revisado cada seis meses, chamado IEP – Individual Education Program. Nele ha objetivos claros, com metas, responsáveis por cada uma.
Ana Claudia (RJ): Se você tem bons argumentos e a escola se propõe a pensar e avançar, a parceria funciona bem
Gil Pena (MG): Pat: penso que esse programa não deve limitar-se a uma potencialidade esperada para a Amanda, em particular, mas deve ter como parâmetro, o seu grupo de colegas.
Patricia (EUA): Por exemplo – Amanda vai responder 3 vezes de cada 5 vezes que chamarem seu nome num espaço de 30 minutos… É uma papelada e uma loucura…
Marinalva Oliveira (AP): Bem acho que a questão não desautorizar ou não. A questão central é dialogar para que compreendam a nossa posição.
Ana Claudia (RJ): Lógico Gil. O Pedro não pode ficar na zona de conforto. Tem que pensar, aprender.
Patricia (EUA): Sim, podemos colocar metas de socialização, comunicação, higiene pessoal…
Ana Claudia (RJ): Não penso em metas mas caminhos, estratégias.
Marinalva Oliveira (AP): Penso que o desenvolvimento infantil não é algo linear e o melhor parâmetro é a própria criança. O que ela sabia e o que ela aprendeu num dado tempo ou período. Não gosto de utilizar outras crianças como comparação.
Patricia (EUA): No começo foi feita uma avaliação que serviu de base para a construção deste plano. Na verdade, e uma exigência pró-forma do distrito escolar, para que seja avaliado se o aluno esta progredindo ou não. Mas temos reuniões mensais – e converso e troco emails com a professora e a auxiliar quase diariamente – e vamos ajustando as necessidades e situações que vão aparecendo.
Ana Claudia (RJ): Também trabalho assim com o Pedro. Vamos ajustando de acordo com o que vai aparecendo.
O projeto pedagógico interfere? índice
Lucio (RS): Atualmente é muito comum as escolas divulgarem um projeto pedagógico e executarem um outro, bem menos ousado. Recentemente divulgou-se que mais de 60% as escolas brasileiras seguem um modelo construtivista. Na prática, muitas usam rankings entre os alunos. Que tipo de parceria se pode fazer com esse tipo de estabelecimento?
Patricia (EUA): Tem funcionado muito bem. E claro que, se eu não fosse pró-inclusão, a Amanda ia direto pra escola especial ou para os tais self-contained rooms – uma espécie de integração – os alunos ficam um tempo com colegas da escola regular e outra parte do tempo na sala de recursos. Mas tenho batido o pé e vencido as batalhas…
Gil Pena (MG): Vamos conversando um pouco atravessado, os assuntos cruzando um pouco. Pensar em caminhos, como a Ana diz, é bom, mas tem sempre de ter um momento de avaliação. Aí de novo traçar um caminho. Não digo utilizar outras crianças como comparação, mas o grupo. Há aquisições que não podem ser tão objetivamente avaliadas, outras sim. Mas é preciso estar atento ao processo. Ler, por exemplo, não se aprende de uma vez. É uma construção lenta e trabalhosa, e a escola de acompanhar essa construção desde cedo, intervindo no que for necessário.
Ana Claudia (RJ): Nossa postura tem que ser firme. Sei disso.
Lucio (RS): Sim, nossa conversa está muito atravessada.. Se vocês fossem meus alunos eu os chamaria de desordeiros! 🙂
Patricia (EUA): Vai dar trabalho pra edição…
Marinalva Oliveira (AP): É a ansiedade de falar sobre temas tão polêmicos
Lucio (RS): Nem me fale..
Patricia (EUA): Faca a próxima pergunta então, Lucio.
Gil Pena (MG): Lucio colocou sobre a questão construtivista. Que parceria fazer? acho que é uma questão de autenticidade. Nós mais do que outros pais (mães) temos de estar bem preparados, para lidar com determinadas questões. Sei que escola boa é difícil, bem difícil.
Marinalva Oliveira (AP): As escolas, na sua maioria, nem sabem o que é construtivismo ou confundem com espontaneismo.
Patricia (EUA): Eu as vezes acho que o projeto pedagógico nem tem tanta importância, mas sim a professora. Se ela consegue ver o aluno em sua individualidade e procura meios de ensina-lo, seja pelo método que for, e sucesso garantido.
Superproteção índice
Lucio (RS): Nosso papel de família não deve ser só o de credor, imagino. Gostaria de saber como recebem as reclamações para com seus filhos. Em algum momento chegaram a reivindicar algum tipo de atenção diferenciada na escola ou mesmo fora dela?
Ana Claudia (RJ): Não é porque ele tem deficiência que eu vou esconder os perigos da vida. Criamos o Pedro como qualquer outra criança. Leva bronca, senta para pensar, conversamos sobre a vida e algumas posturas que devemos ter e também sobre as dificuldades que ele tem as vezes. Todos temos dificuldades em alguma coisa na vida. Ele sabe da condição dele e é feliz assim. Quando você consegue enxergar apenas o seu filho e não o filho que tem SD a vida flui mais fácil, pode ter certeza. Não protejo ele e vivo pedindo para que ninguém faca. Isso é ruim para ele.
Patricia (EUA): Pelo contrário, eu peço para as pessoas esquecerem que minha filha tem síndrome de Down, e que façam-na cumprir o mesmo que for requerido das outras crianças. Só dessa maneira ela terá oportunidade de aprender a se comportar nas variadas situações.
Marinalva Oliveira (AP): Na escola, algumas vezes, percebi que o superprotegiam. E esse comportamento das professoras estavam sendo seguido pelos alunos. Conversei com elas e mudou. O pior é que o Biel estava tirando proveito da situação. Mas em casa e em nenhum lugar permito isso.
Gil Pena (MG): Também evitamos superproteger (tanto a Sofia, como o Otavio).
Patricia (EUA): Marinalva, esse é um ponto com que tenho me preocupado ultimamente. Em se tratando de crianças pequenas, como é o caso da minha filha que frequenta o jardim de infância, acho que o ideal é que as próprias crianças vivenciem as diferenças, sem que nada seja ressaltado em relação aos outros alunos. No começo do ano, a professora leu para a classe o livro “Tudo bem ser diferente”. Também fomos convidados, assim como as outras famílias da classe, a fazermos uma apresentação sobre nossa família. Contei uma história da Amanda, mostrei fotos dela bebê, e indaguei às crianças se tinham alguma pergunta. Disseram que não. Como sigo a linha de só responder até onde se tem curiosidade de saber, e por não ser assunto para crianças dessa idade, não entrei em detalhes de ocorrência genética, cromossomos etc. Mais agora para o fim do ano nos deparamos com uma outra questão. Alguns colegas estão tratando a Amanda como bebê, deixando que ela ganhe alguns jogos, aplaudindo quando ela consegue fazer alguma coisa. Estou no momento, junto com a escola, buscando formas de como educar as crianças de modo que eles respeitem sua individualidade dela, não façam as coisas por ela e tratem como uma colega qualquer.
Lucio (RS): O Pedro tem noção de que tem a síndrome de Down? Que idade ele tem?
Ana Claudia (RJ): Lucio, senti que ele tinha agora. Tem 7. Esse assunto veio a tona com minha filha de 5, imagina. Mas não quiseram se aprofundar no assunto. Expliquei e ponto. Outro dia abri a pagina do grupo de SD do Yahoo e ele me perguntou quem era a capa. Expliquei que era a Bia lendo uma carta sobre a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência e ele falou: carta do Pedro né mãe? Isso me mostrou que ele já sabe que é igual a Bia.
Gil Pena (MG): Sobre a pergunta que faz sobre o Pedro. A Sofia está com 12, já falamos com ela sobre a síndrome de Down, mas acho que ela não se percebe com a síndrome. É uma moça de muita auto-estima. Otavio com 11, sabe da síndrome, mas não usamos da síndrome em momento nenhum para justificar nada que acontece.
Lucio (RS): Mas será que ele reconhece pelos traços fisionômicos ou por você ter falado pessoa com deficiência?
Marinalva Oliveira (AP): Isso é importante. De repente o Pedro ouve que ele tem deficiência (de outras pessoas), mas não tem idéia do que significa. Penso que não é legal.
Ana Claudia (RJ): Acho que mais pelos traços. Ele sabe que tem alguma coisa que nem todo mundo tem. Que tem algumas dificuldades mas que é um cara feliz e amado do jeito que é.
Patricia (EUA): Auto estima é muito importante.
Ana Claudia (RJ): Sinceramente eu acho que ele não liga. Com disse o Lucio a auto-estima dele e enorme e ele realmente é um cara feliz e cheio de amigos.
Patricia (EUA): Porque vocês tratam isso de forma natural.
Ana Claudia (RJ): Me preocupa mais como a irmã vai lidar com isso do que ele na sala dela tem um menino autista e por isso a conversa começou. O tal do amigo diferente …
Gil Pena (MG): A Sofia tem muita noção das dificuldades, mas isso lhe dá força para aprender. Quer saber como seus colegas sabem. No início se esforça muito, mas é recompensada quando domina aquilo.
Marinalva Oliveira (AP): é verdade, mas precisa ter cuidado pois o termo deficiência não é tratado assim pela sociedade. Qual a idade da Sofia?
Lucio (RS): Mas como você acha que ele percebe as próprias dificuldades? No fim das contas é comparando-se aos outros?
Ana Claudia (RJ): Isso esta sendo fundamental na escolaridade do Pedro. Ele quer tanto ser igual aos amigos que se esforça para isso. sai da tal zona de conforto.
Marinalva Oliveira (AP): Pois é, a escola tende a fazer isso.
Patricia (EUA): Mas se eles aprendem em casa que tudo bem ter uma deficiência, fica mais fácil…
Ana Claudia (RJ): Também acho Pat.
Patricia (EUA): Por essa e por outras que a inclusão e tão importante! Se você alia o – tudo bem ser diferente – ao sonhe alto o bastante, dá tudo certo.
Gil Pena (MG): Sofia tem 12, faz 13 em setembro. Uma dificuldade, por exemplo, de memorizar os fatos fundamentais. Os colegas conseguiam, ela sabia que tinha que conseguir também. Conseguiu. Hoje resolve expressões matemáticas, com potências, sabe que tem que multiplicar ou dividir primeiro depois somar e subtrair.
Ana Claudia (RJ): A vida não é mole. Eles tem que se preparar para o quem vem pela frente. Como qualquer um.
Lucio (RS): É o que eu penso também, em avaliá-lo não pelo que não fez mas pelo que está prestes a fazer e pela intensidade do seu desejo..
Marinalva Oliveira (AP): Avaliar sempre pelo potencial e não pelo real.
Patricia (EUA): E saber lidar com as frustrações também, como todo mundo.
Patricia (EUA): Vamos pra próxima pergunta?
O papel da família, o desenvolvimento da educação e da pessoa índice
Lucio (RS): Bom, não sei qual é a próxima pergunta.. Talvez a última seja uma das poucas que não tenhamos explorado ainda.. Lá vai: o que pensam que é mais importante que seus filho(a)s desenvolvam ao longo da vida escolar? Entendem que a educação é um objetivo em si mesmo? Qual a parte que as famílias, na opinião de vocês, tem nesse processo todo?
Marinalva Oliveira (AP): Exatamente, mas isso está diretamente ligado a como a auto-estima está sendo construída.
Ana Claudia (RJ): O que eu quero para meu filho é autonomia. Quero que ele possa viver sem depender de nos, de maneira produtiva, com amigos, enfim, que seja uma pessoa feliz. Dentro disso a educação tem papel importantíssimo. É na escola que ele ganhara essa autonomia de verdade e desde pequeno. Na hora de andar, de largar a fralda, de se esforçar para se comunicar, ou seja, nas etapas de desenvolvimento. É na escola que ele terá a chance de conviver com seus pares e todos terão a chance de conviver com as diferenças tornando-se pessoas melhores. Isso não é balela não. É pesquisa. A inclusão É benéfica para todos. Acredito que o papel da família nesse processo é fornecer as ferramentas necessárias para o desenvolvimento do seu filho. Criar condições para que ele seja um adulto autônomo, como criaríamos para qualquer outro filho. Aonde ele vai chegar ele É que vai me dizer.
Lucio (RS): Com que idade foram a escola?
Ana Claudia (RJ): Pedro 1 ano e 2 meses sem andar.
Marinalva Oliveira (AP): Apesar de muitas escolas não estarem cumprindo o seu papel, mas mesmo assim é o lugar ideal para conviver com as diferenças existentes em cada um.
Marinalva Oliveira (AP): Gabriel aos 2 anos. Aprendeu a andar na escola.
Patricia (EUA): Acho que na formação de qualquer pessoa, o caráter, e valores como solidariedade e respeito ao próximo são mais importantes do que a educação acadêmica em si. Quantas vezes em nossa vida adulta nos perguntamos – por que tive que aprender raiz quadrada ou os elementos de uma célula…
Ana Claudia (RJ): O Pedro também.
Patricia (EUA): O papel da família e atuar como orientadora e supervisora da educação dos filhos. Sem nunca perder de vista que não estaremos aqui para sempre e quanto maior autonomia eles puderem ter, melhor será para todos. Amanda também desde os 2 anos.
Marinalva Oliveira (AP): A fala do Biel está num ritmo acelerado e quando falta as aulas por causa da sinusite, eu percebo que regride a fala. A escola é um excelente local de socialização também
Lucio (RS): O Rodrigo foi com 2,6 mas andou em casa e acho que seus marcos maiores tem sido mais conosco do que com a escola, a não ser no aspecto de vencer a timidez.
Gil Pena (MG): Sofia tinha uns dois anos e meio. Já andava. Educar é formar as pessoas. A escola tem o papel de educar. Quero que a Sofia se forme como pessoa, resolva problemas cotidianos, entenda o seu fazer no mundo. Nesse processo, tem de adquirir as ferramentas culturais importantes (ler, matemáticas, organização no tempo e no espaço, outras coisas).
Patricia (EUA): Amanda também andou em casa, nas ferias. 🙂
Marinalva Oliveira (AP): Como eu disse anteriormente, é um conjunto de fatores: casa, fono, TO e escola. Mas ressalto a importância da escola, apesar dos pesares, por causa dos coetâneos. O Biel adora imitar e conviver com coetâneos é excelente pra isso.
Patricia (EUA): E o que eu espero para a Amanda também, Gil. E não tenho duvida de que ela alcançará isso e muito mais. Ela já superou em tanto as expectativas que tivemos quando nasceu…
Patricia (EUA): Coetâneos! Que palavra difícil!!!
Marinalva Oliveira (AP): da mesma geração…
Lucio (RS): O Rodrigo também está muito imitão e enérgico.. No seu caso ele procura muito o exemplo da irmã mais velha.. É um temerário, digamos assim, faz coisas além do seu limite físico.. Muito danado..
Gil Pena (MG): Pat: também não tenho dúvidas em relação à Amanda. A Sofia vê dificuldade no inglês, como a Amanda está se saindo?
Patricia (EUA): Fala e entende inglês quase tanto quanto português. Ela tem bastante dificuldade com a fala, mas já esta quase lendo. Sabe todo o alfabeto, fonemas, soletra em inglês. E uma graça!
Ana Claudia (RJ): Cada progresso tem um sabor especial não Pat?
Patricia (EUA): Sim!! E aqui tem MUUUUIIITOS recursos legais. As applications educativas para iPhone e iPad são super legais! Ai aprender fica muito mais gostoso…
Bullying índice
Lucio (RS): E o bullying, vocês o temem?
Ana Claudia (RJ): Li em uma pesquisa recentemente que a o preconceito É tão grande com relação as crianças com deficiência que o bullying nem atinge elas. De qualquer forma eu tenho medo sim com relação aos meus dois filhos. Vivi de perto recentemente um caso de bullying com os filhos de dois amigos que não tinham deficiência. Simplesmente um garoto mais velho e sua turminha passaram a implicar com eles e fizeram da vida dos garotos um inferno. Um deles voltou ate a fazer coco nas calcas. A escola tem que estar atenta para isso. As vezes o agressor só repete o que sofre em casa. Chamar a responsabilidade para os pais também É fundamental. Tenho medo também de abuso. Tento mostrar para os meus filhos que tem gente de todo o tipo no mundo. Não É porque ele tem SD que eu vou esconder os perigos da vida.
Marinalva Oliveira (AP): Tenho muito medo do bullying.
Patricia (EUA): Qualquer um pode ser vitima de bullying. Minha filha que não tem deficiência, por exemplo, já foi. O problema foi conduzido exemplarmente pela escola, assim que o comunicamos, o que evitou que o assedio escalasse. E importante investirmos na auto-estima de nossos filhos para que eles não sejam vitimas fáceis. Devem ser educados para enfrentar essas situações com a cabeça fria e reportar aos adultos responsáveis o
acontecido.
Ana Claudia (RJ): Esse é o meu medo: não se reportar …
Patricia (EUA): Minha filha ficou uns 6 meses inventando dor de barriga e de cabeça pra não ir a escola…
Patricia (EUA): Um belo dia ela resolveu falar. Fui a escola no dia seguinte.
Marinalva Oliveira (AP): O bullying é uma realidade para todas as crianças e tenho medo com relação ao Biel pois a sociedade ainda é muito preconceituosa
Gil Pena (MG): Não vivi o problema do bullying. A escola é pequena. Sempre adultos rondando o fazer das crianças. Estão sempre atentos. Tem sempre de acompanhar.
Lucio (RS): Não sei se apareceu o que escrevi antes, o primeiro passo é a confiança nos pais, sentir confiança para aliviar as dificuldades.. Penso que o bullying sempre existiu..
Marinalva Oliveira (AP): Sim, sempre existiu mas não era dado a devida importância
Patricia (EUA): Sim, mas na adolescência os pais são as ultimas pessoas em quem você confia… ai fica mais difícil. Ninguém diz.
Marinalva Oliveira (AP): Mas na sociedade moderna devido a mudanças de valores, isto tem se tornado mais explícito. O individualismo hoje é mais presente, faz parte da sociedade globalizada. Esse é o problema central
Lucio (RS): Sim, meus filhos vivem a geração do Barney e do bullying, não é incrível?
Ana Claudia (RJ): Concordo. Mas valores são valores. Cabe as famílias não serem tão permissivas com atitudes egoístas e grosseiras.
Gil Pena (MG): Quem é o Barney?
Lucio (RS): O Barney é aquele dinossaurão extremamente dócil e educado que só ensina boa-educação às crianças..
Patricia (EUA): Por outro lado, as escolas se preparam melhor. Acho que aqui caberia aquela pergunta de educação para os direitos humanos. Os conselheiros da escola das minhas filhas mais velhas tem bandeira gay na sala, minhas filhas tem vários amigos que são gays assumidos. Não me lembro de ter visto isso no Brasil no ensino médio. Só na faculdade.
Ana Claudia (RJ): Amo você, você me ama, nunca ouviu?
Patricia (EUA): Amanda ama o Barney! Sabe essa musica em inglês e português.
Lucio (RS): Esses dias enviei uma reclamação ao Discovery Kids, o canal bonzinho da TV a cabo, pois eles estavam veiculando propaganda de armas de brinquedo..
Marinalva Oliveira (AP): Onde os desenhos tem conotação de super heróis, individualismo, competência etc e tal. Tudo que permeia a individualidade e a meritocracia..
Lucio (RS): Concordo, mas o Barney não é tão assim, mas é paternalista..
Marinalva Oliveira (AP): Olha o Ben 10. Os valores são absurdos.
Lucio (RS): Esse é do Cartoon Network, o canal que prega na vinheta “Você faz o que quer”.
Gil Pena (MG): Anime-se eu mesmo já me esqueci do Barney. Há uma vista grossa. Tinha no tempo do Atheneu, tem atualmente. Formas de crueldade que a sociedade sempre nutriu. Eu tinha colegas que eram vítimas de achaques, mas sobreviveram. Não é como vejo nos filmes de adolescentes americanos com agressões físicas, coações, aquelas coisas. Não somos americanos. Somos mais gozadores.
Patricia (EUA): Sim, aqui esse ano, que eu me lembre, teve uma jovem com deficiência que foi morta pelos colegas de escola e outra moca, sem deficiência que se matou porque estava sendo chamada na escola de tudo quanto e nome.
Ana Claudia (RJ): Voltando para a questão de direitos humanos acho que a família tem papel fundamental no movimento da inclusão. Partindo do pressuposto que essa questão É nova para a escola, quer dizer que agora as escolas agora estão sendo exigidas a se posicionar dessa forma, e que É preciso que esse posicionamento seja o mais verdadeiro possível sem estigmatizar a pessoa com deficiência, a família É que trará para essa
escola e para a comunidade a sua experiência. Ela pode participar desse processo levando textos informativos para a coordenação, livros para a biblioteca da escola, propondo a organização de atividades e palestras que abordem o tema inclusão, e divulgando eventos para a escola sobre o assunto. A escola tem que entender que inclusão não É apenas uma mudança no projeto pedagógico da escola mas sim uma mudança na forma de pensar e de
enxergar aquele aluno. É muito mais profundo.
Marinalva Oliveira (AP): Inclusão exige mudança de paradigma, mas as escolas acham que bastam mudarem as estratégias e metodologias. Isso é um engodo.
Gil Pena (MG): Não há como a TV ensinar qualquer atitude ética. Moral se aprende na vida, do exemplo. Que exemplo de vida a televisão oferece. Os intervalamos são um convite ao consumo, quase uma imposição do que se precisa comprar. Assiste-se aos comerciais ouvindo eu quero. Eu quero.
Patricia (EUA): Sim, a transformação e muito maior. O bom e termos a lei a nosso lado. A gente tem que se preparar e ensinar, pregar mesmo.
Direito à educação índice
Ana Claudia (RJ): Mas a lei É desconhecida. Eu diria que temos uma legislação que nos protege bastante e que É desconhecida pela maioria das pessoas. No site do MEC, na área de Legislação, no endereço eletrônico: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12907:legislacoes&catid=70:legislacoes, abaixo do Titulo Educação Especial, temos toda a legislação sobre o tema. Quase ninguém conhece seus direitos.
Gil Pena (MG): A Ana diz, eu concordo, mas temos de estar bem preparados, estudados, para levas essas questões à escola, até para oferecer os livros, as estratégias. Meu texto veio depois, concordo com o que ela disse antes. Não me agrada termos de usar a lei, para defender o que é um direito humano (ele é anterior a lei).
Patricia (EUA): Já fui mais radical. Hoje acho que cada caso deve ser analisado individualmente, sempre tendo como foco o benefício da criança. A pergunta que devemos fazer é: ela vai se beneficiar mais nesta ou nesta turma? Uma lista de prós e contras pode ajudar na tomada de decisão. Mas isso só deve valer por no máximo 1 ou dois anos, para que a faixa etária da criança não seja muito acima de seus colegas.
Lucio (RS): Não sei se às vezes deixo de receber algo que escrevem, está falhando bastante o sistema aqui..
Marinalva Oliveira (AP): O meu também.
Ana Claudia (RJ): Também não me agrada mas temos que saber que estar na escola regular não É um beneficio mas um direito. Também de nada adianta estar na escola porque a lei garante. Você tem que estar lá porque acredita naquela escola.
Aprendizado índice
Lucio (RS): E as pessoas com síndrome de Down aprendem ou não aprendem? Essa também é uma questão que pulamos.. Precisam de mais estímulo visual? Tem problemas de memória de curto prazo? Beneficiam-se mesmo do convívio dos mais jovens?
Ana Claudia (RJ): Quanta a pergunta do Lucio – Não acredito. Ele tem que ter a chance de viver as etapas de seu desenvolvimento com as crianças da sua idade senão vai ficar infantil mesmo. Isso faz parte de uma idéia preconcebida de as pessoas com SD são crianças para o resto da vida.
Marinalva Oliveira (AP): Aprendem sim, dependendo da mediação que é realizada, como qualquer criança. Agora tem também as especificidades.
Gil Pena (MG): Pessoas com síndrome de Down, são pessoas, aprendem como pessoas, se são ensinadas num espaço de conviver humano. Nesses dias, o professor de História disse que estava preocupado sobre a compreensão a temporalidade da Sofia (entender o que se passou séculos atrás, como era a cidade, a sociedade antes). Não vejo como a construção dessa compreensão é diferente para ela e para os demais colegas, mas eu preciso estudar, para entender como formamos esse conceito, que parece espontâneo, mas que de algum modo aprendemos pela experiência, para depois tentar debater com ele o tema.
Marinalva Oliveira (AP): As crianças com síndrome de Down nascem com deficiência na sua memória auditiva e de curto prazo, mas se forem estimuladas adequadamente, através da memória visual superam a deficiência
Patricia (EUA): A Amanda se beneficia de estímulo visual. E tem dificuldade com conceitos. Ela aprende mais devagar, mas aprende. E muito perseverante.
Marinalva Oliveira (AP): Devido a deficiência na memória de curto prazo dá a impressão que aprendem mais devagar.
Patricia (EUA): Faltou a pergunta do Pablo.
Marinalva Oliveira (AP): Na verdade precisam de mais vezes do estímulo pois nem sempre a memória de curto prazo se torna de longo prazo.
Lucio (RS): A pergunta do Pablo é sobre superproteção, já foi..
Patricia (EUA): Então eu queria acrescentar que eu tento não ser superprotetora. As vezes ate acho que sou dura demais com minha filha, mas passando a mão pela cabeça nenhum filho aprende nada. Meus pais me educaram para a independência e essa herança que tambem pretendo passar para minhas 3 filhas.
Marinalva Oliveira (AP): Quando nao aprendem é porque a mediação nao foi feita de forma adequada.
Patricia (EUA): Nao e impressão, Marinalva. Ela precisa de varias repetições para aprender algumas coisas. Outras aprende imediatamente.
Ana Claudia (RJ): Aqui em casa precisamos do concreto demais. Entender o porque das coisas. Utilizamos varias estratégias. Uma ida ao supermercado por exemplo pode ser muito proveitosa. Pode-se trabalhar a leitura, a contagem, a escrita, o troco, ou algum contexto do que esta sendo dado na sala de aula. O projeto da escola É a Copa do Mundo, vai se falar da Africa, animais? Uma conversa com um mapa na mão e uma ida ao zoológico
mostrando os animais que vivem na África são boas pedidas.
Marinalva Oliveira (AP): Por exemplo, os professores trabalham em sala de aula com a memória auditiva do que visual. Isso prejudica a aprendizagem de quem tem deficiência na memória auditiva.
Lucio (RS): Pois é, eu tenho dúvidas sobre isso..
Marinalva Oliveira (AP): Talvez seja isso Pat
Marinalva Oliveira (AP): Sobre o que?
Lucio (RS): Sobre como a memória se processa, sobre qualidade dos estímulos, atenção, essas coisas..
Ana Claudia (RJ): Pat relaxa, ouço isso da minha mãe quase que todos os dias. Você e dura demais com o Pedro. Mas isso é minha característica de mãe com os dois filhos. Ele nasceu nessa família.
Patricia (EUA): Você ouve da sua mãe pra relaxar ou pra ser independente?
Ana Claudia (RJ): Para relaxar mais.
Marinalva Oliveira (AP): Lúcio, você disse que tinha dúvidas sobre isso… o que?
Gil Pena (MG): Depois eu podia escrever sobre essa coisa do aprender espontâneo, do aprender científico. Mas é um pouco longo para um chat.
Marinalva Oliveira (AP): É verdade.
Ana Claudia (RJ): Boa. Quero ler.
Lucio (RS): Eu acho o Rodrigo extremamente seletivo, e acho isso um gesto de extrema inteligência mas na vida a gente precisa aprender por muitos meios, mas eu detesto as teorias da inteligência múltipla..
Patricia (EUA): Eu gosto…
Marinalva Oliveira (AP): Eu também.
Gil Pena (MG): Basicamente, temos que ensinar quase tudo. Coisas que outras crianças aprendem de ver ou de conviver, temos de oferecer explicitamente como aprendizado para os nossos filhos.
Marinalva Oliveira (AP): Mas ninguém defende que deva ser só através da memória visual. Esta é apenas um meio e o começo.
Patricia (EUA): sim, outro dia estava em duvida se a Amanda entendia o conceito do não porque dizia nao pra tudo – inclusive coisas que queria…
Ana Claudia (RJ): Por isso que me arrepia ouvir falar de suprimir conteúdo antes de que o mesmo seja oferecido.
Lucio (RS): Minha dúvida, é de que não estejamos tratando como definitivos alguns lugares comuns e atribuindo a alguns dogmas a qualidade de características, como dificuldade de pensamento abstrato e outras coisas..
Marinalva Oliveira (AP): Não é isso Lúcio, pelo contrário.
Ana Claudia (RJ): Pat, o Pedro e a Ana Julia passaram por essa fase. Ela um pouco antes dele mas passa, fica tranquila.
Patricia (EUA): A Amanda aprendeu os nomes dos colegas a partir de uns cartões que a professora fez (por sugestão minha) com a foto e o nome de cada um. Rapidamente ela passou a reconhece-los e chama-los pelo nome, assim como memorizou os nomes sem as fotos.
Ana Claudia (RJ): Passei a aceitar o nao como nao. E nao fazia ou nao dava mesmo ate ele mudar.
Marinalva Oliveira (AP): A memória visual deve ser o potencial inicial, mas nao deves permanecer somente nela
Ana Claudia (RJ): O tal do interesse seletivo que o Lucio falou. O Pedro tambem É assim. Por isso que o descrevi como muito esperto quando quer.
Lucio (RS): Isso. Se você falar “hora de tomar banho” a resposta é quase uma fuga, se você diz “hora de jantar”, é outra.. Não há problema auditivo aí..
Patricia (EUA): O joguinho que fiz pra ela entender foi colocar vários objetos num saco. Disse que estávamos procurando o carro. ela metia a mão no saco e ia tirando um a um. Eu
perguntava. Carro? e ela nao… ate achar o carro – sim! coisas assim. agora a esta melhor.
Patricia (EUA): Surdez seletiva. Aqui em casa e a mesma coisa.
Marinalva Oliveira (AP): Mas nao é problema auditivo, é memória auditiva.
Ana Claudia (RJ): Tinha uma época que o Pedro fingia que nao me escutava. Fiquei em pânico pensando que era problema auditivo. Ate que falei brigadeiro bem baixinho. Escutou na hora ..
Ana Claudia (RJ): A memória auditiva tem a ver com a capacidade de armazenar informações rapidamente, nao?
Lucio (RS): Pois é, muita coisa que a gente pensa que é muito característico é muita malandragem..
Marinalva Oliveira (AP): Nao tem nada a ver com deficiência auditiva.
Patricia (EUA): São as estratégias deles pra escaparem do trabalho pesado. A escola veio dizer que a Amanda tinha problemas ao fazer a transição de uma atividade para outra. Acontece que o problema só acontecia quando ela ia de uma atividade que estava gostando de fazer para outra que nao gostava…
Ana Claudia (RJ): A memória auditiva tem haver com a capacidade de armazenar informações rapidamente, nao?
Marinalva Oliveira (AP): Minhas mensagens nao estão chegando, Ana?
Gil Pena (MG): Estou acompanhando a dinâmica, interessante como num momento caímos dentro de um padrão. Muito parecido com as reuniões que fazíamos. Entramos num relato de experiências, mas sem muita reflexão das experiências.
Lucio (RS): Eu às vezes acho que se há um problema com a memória é mais com a de longo prazo do que com a de curto prazo.. Digo por observação..
Marinalva Oliveira (AP): Isso é a memória auditiva tem a ver com armazenar informações através da oralidade, na ausência de materiais visíveis 1:16 .. Nao tem nada a ver com deficiência auditiva
Ana Claudia (RJ): Isso eu sinto mesmo.
Marinalva Oliveira (AP): Pois é Lúcio, mas as crianças são diferentes. A característica nao atinge 100% nenhuma população.
Lucio (RS): Certamente, e de desenvolver o aprendizado como fonte de prazer, não de tortura ou enfado..
Ana Claudia (RJ): Acho que tem a ver com a capacidade de concentração tambem. Fica ouvindo tanta coisa que uma hora abstrai.
Patricia (EUA): Sim, e visão periférica. As vezes brinco de pique esconde com a Amanda, estou praticamente ao lado dela, só que escondida (mal escondida) e ela nao me vê.
Patricia (EUA): E isso que fico dizendo pra escola, Lucio, mas a vida nao e só prazer. Será que tambem nao temos que apresentar outras experiências menos prazerosas para que eles aprendam a se comportar?
Lucio (RS): Acho que é natural do ser humano a revolta. Mas sem dúvida o desprazer ensina também, senão comeríamos minhocas..
Ana Claudia (RJ): Nao digo nao prazerosas mas acho que temos que deixa-lo viver as experiências da sua idade e ele mesmo que nos mostrara ate onde pode ir. Quando penso nisso me lembro de quando o Pedro dormiu fora na casa de um amigo pela primeira vez. Todos os amigos de sala já estavam dormindo um na casa do outro e ele me pediu para ir para a casa do melhor amigo da sala do colégio. Lógico que me deu aquele medo enorme dele nao
conseguir se comunicar direito, fazer besteira, chegar na janela etc… mas como confiava na mãe do amigo pensei: todos estão indo, tenho que dar um voto de confiança para ele. Deixei com o coração apertado e uma noite mal dormida mas foi ótimo. Correu tudo bem e ele ganhou mais confiança.
Marinalva Oliveira (AP): O prazer nao nasce com a criança, somos nós quem damos o significado.
Lucio (RS): Bom, fico pensando se ainda temos onde ir.. As questões não foram tratadas diretamente, mas por vias tortas..
Gil Pena (MG): Dormir?
Lucio (RS): Não lhe parece uma boa idéia?
Marinalva Oliveira (AP): Lúcio, penso que você poderás complementar pelo email.
Ana Claudia (RJ): Se quiser mando as respostas que foram preparadas por e-mail para ajudar.
Lucio (RS): Sim, vou querer..
Lucio (RS): Vai dar trabalho editar, mas com calma e tempo a gente consegue..
Lucio (RS): Bom, vou cortar essa última parte e vou aproveitar para agradecer muitíssimo a colaboração de todos..
Gil Pena (MG): Boa noite a todos.
Marinalva Oliveira (AP): Obrigada a vocês pela oportunidade. Lúcio, como vai ser a publicação?
Lucio (RS): Bom, vou enviar a vocês depois para que revisem e corrijam o que acharem necessário.
Ana Claudia (RJ): Tambem agradeço. Bom trocar experiências e ideais, faz a gente crescer. Boa noite para todos!
Patricia (EUA): Boa noite e bom fim de semana, gente! A Inclusive agradece!
Lucio (RS): Mais uma vez obrigado a todos. Ficamos por aqui.
FIM
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Fonte: Inclusive – Inclusão e Cidadania
Licenciado pela CC 2.5
Sou professora de educação inclusiva gostaria de receber todos os materiais, entrevistas, o que vocês tiverem para eu levar para meus alunos.
Grata,
Claudia