O estudante Fábio Pinheiro (de óculos), de 18 anos, há dois começou a praticar xadrez na escola técnica José Álvares de Azevedo, em Belém. Tornou-se monitor no ensino do jogo. Fábio perdeu completamente a visão, há dez anos, por um descolamento de retina. Mas isso não o impede de identificar as casas do tabuleiro, nem de distinguir as “brancas“ e as ”pretas“, nem de pensar como um bom enxadrista. Tanto que acaba de ser campeão de um torneio estadual. Ele já conhecia o drama da deficiência visual de perto, pois seu irmão, Paulo, aos 2 anos, também havia perdido a visão por causa de catarata. A última imagem que Fábio tem guardada, viva e colorida, é a de um arco-íris. Depois dela, teve de reaprender a “ver” o mundo. Aos 11 anos, saía sozinho pela cidade. Como nadador, representou seu estado por três vezes nos Jogos Estudantis Brasileiros – em setembro vai pela quarta vez – e sempre se destacou pela luta que trava contra o preconceito.
Em 2008, depois de uma desilusão amorosa, queria ocupar a cabeça. Foi atrás do xadrez na instituição que frequentava, onde os tabuleiros adaptados estavam se perdendo por falta de procura. Com apoio da sua escola e da Associação de Cegos do Pará (Ascepa), da qual participa há nove anos, conseguiu levar a promoção do jogo adaptado para outras escolas. “Encomendamos dez tabuleiros desses por R$ 300. Eles têm casas vazadas e peças geralmente com texturas diferentes para identificarmos as cores. Como isso é mais caro, usamos barbantes em peças de plástico.” Daí surgiu o 1º Open de Xadrez para Deficientes Visuais, promovido pela Secretaria de Educação do estado e pela Ascepa. O primeiro lugar trouxe orgulho e esperança. “As pessoas cegas deveriam ter mais oportunidades. Se a gente pode jogar xadrez, que é complicadíssimo, pode muito mais coisas.” Fábio reivindica agora a inclusão oficial do jogo adaptado nos jogos estudantis.
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Fonte: Rede Brasil Atual