Determinação da SEDF de encerrar as atividades do colégio para criar um CIL revolta os pais dos alunos. Instituição é destaque na inclusão de autistas
Publicação: 17/09/2010 08:34
A Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) vai fechar a Escola Classe da 405 Norte, referência nacional na inclusão e alfabetização de crianças autistas, e utilizar o espaço para criar um Centro Interescolar de Línguas (CIL) na Asa Norte. Mais de 20 pais de alunos e ex-alunos se reuniram ontem, do lado de fora da escola, numa tentativa de mobilizar a sociedade para impedir o fechamento. Os alunos serão transferidos para a Escola Classe da 407 Norte no início do ano letivo de 2011. A integração das duas escolas e a cessão do espaço para CIL deverão ser anunciadas no Diário Oficial em dezembro.
A busca por um espaço que comporte o CIL vem desde setembro do ano passado e foi concluída no último mês. “Primeiramente, fizemos um estudo para saber que escola daria para atender o centro de línguas. Em agosto deste ano, mostramos todo o levantamento que foi feito e decidiu-se pela Escola Classe da 405 Norte pelo fato de ter número de alunos reduzido e porque as turmas especiais e de educação integrada também caberiam na escola da 407, que fica na próxima quadra”, explica Fábio Pereira Sousa, diretor da Regional de Ensino do Plano Piloto e Cruzeiro.
Os pais não se conformam com a decisão e afirmam que não há espaço ocioso na escola. Segundo eles, ter um número menor de alunos e um espaço amplo são necessidades das crianças comautismo(1). A SEDF considera que a unidade da 405 Norte é uma escola regular e não de ensino especializado, e que, por isso, o trabalho pode ser realizado com a mesma eficiência em outra unidade, já que todas as escolas públicas do DF estão inseridas no modelo de inclusão. O médico Isnaldo Piedade de Faria tem um filho que é autista e hoje frequenta o 9º ano do ensino regular. Para ele, isso só foi possível graças ao trabalho que a escola teve no início da educação do filho. “A meta é a inclusão, mas o tratamento inicial tem de ser diferenciado. Cada deficiência tem sua especificidade, e se não houver esse trabalho de base, essas crianças não se adaptam”, alerta o médico.
Protestos A servidora pública Valéria Chaves mudou-se de Belém (PA) para Brasília no ano passado para colocar o filho na escola. Em menos de um ano em uma classe de educação especial, que tem um professor para dois alunos, João Pedro Chaves, 7 anos, aprendeu a ler e a escrever. “Não é qualquer lugar que pode fazer isso. Eu gostaria de falar que meu filho vai sair daqui e vai para outra escola sem problema, mas é mentira. É a falsa inclusão. Eles podem dizer isso por número, estatística, pelo que for, mas não pensando na criança. Meu filho não é estatística”, desabafa.
Outros pais presentes ao movimento também se manifestaram. Nélcia Santana, cujo filho passou pela escola, fez questão de prestar solidariedade à causa: “Meu filho já saiu daqui, não precisa mais desta escola, mas eu estou aqui porque a sociedade precisa”. Outra mãe, Malu Castro, comentou: “A visão do governo e da sociedade é que o autista é um caso perdido. Eles não querem apostar porque é muito caro, não interessa à sociedade. Eles falam que a escola está esvaziada, mas a educação especial exige esse espaço esvaziado”.
A SEDF garante que apenas uma escola suporta os alunos das duas unidades. Também assegura a transferência de todos os servidores e professores para a 407 de forma que eles não tenham de se deslocar por grandes distâncias e as crianças continuem a receber o mesmo apoio profissional, sem nenhuma perda pedagógica. A estratégia de matrícula para 2011 prevê 232 vagas para a unidade, cerca de 80 a menos que a soma dos alunos das duas escolas em 2010, mas, segundo Fábio Pereira Sousa, na regional do Plano Piloto sobram vagas por falta de demanda.
Ainda assim, Eloisa Toffano, mãe de Vinícius, 7 anos, não se sente segura: “A matemática que o Fábio faz eu não sei qual é, mas não é a mesma que eu aprendi. Para mim, 15 e 15 são 30. Não sei como eles vão conseguir, a menos que comecem a rejeitar crianças”. A orientadora educacional da escola, Gilma Irene Lima, também não se conforma com a mudança. “Por que mexer em algo que está dando certo? Tantas escolas no DF não conseguem funcionar direito! Por que mudar uma que funciona?”.
1 – O que é O autismo é uma disfunção que faz parte de um grupo de síndromes conhecido como transtorno global do desenvolvimento (TGD) ou transtorno invasivo do desenvolvimento (PDD). Manifesta-se por alterações que afetam a capacidade de comunicação da pessoa, que apresenta dificuldades de estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao meio ambiente (de acordo com as normas que regulam essas respostas). Alguns autistas parecem fechados e distantes, enquanto outros mostram-se presos a comportamentos restritos. Especialistas aconselham pais de crianças autistas a procurar programas específicos para jovens e adultos portadores do distúrbio, antes de os filhos terminarem a escola.
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FONTE: Correio Braziliense
Colocar professores que tem curso superior e ter recreio de quarenta minutos