Para filósofo francês, as sociedades precisam se dedicar mais à compreensão dos problemas globais

Edgar Morin

Amanda Cieglinski*
Repórter da Agência Brasil

Fortaleza (CE) – Aos 89 anos de idade, falando uma mistura de português com espanhol e italiano, o filósofo e sociólogo francês Edgar Morin abriu hoje (21) uma conferência internacional na capital cearense. O tema do encontro foi inspirado na obra de Morin. Durante quatro dias, educadores e pesquisadores irão discutir Os Sete Saberes Necessários Para uma Educação do Presente”.

A plateia formada por professores e profissionais da área de educação ouviu atenta a palestra de Morin, que é considerado um dos maiores pensadores da atualidade. O francês falou sobre os desafios de se construir uma “educação para a civilização”.

“A questão da pobreza está ligada à desigualdade, que está ligada à perda de solidariedade. Todos os problemas estão ligados. É importante compreender que temos problemas de civilização e, para resolver, devemos encontrar novos caminhos de reforma que podem conjugar-se em uma metamorfose. Quando um sistema não tem mais poder de tratar seus problemas fundamentais, ele regressa”, disse.

Segundo o filósofo, essa educação civilizatória precisa ter como princípios a compreensão humana, a solidariedade e a responsabilidade. Edgar Morin defendeu que a sociedade hoje precisa de “mundiólogos” que possam enxergar e criar soluções para os problemas globais. Para isso, segundo ele, é necessário que o conhecimento seja menos fragmentado e que o modelo de ensino seja modificado.

“É preciso religar todas as disciplinas produzidas como conhecimento, contextualizar os saberes. O ensino deve se integrar a muitas exemplificações históricas e contemporâneas para que os alunos entendam como enfrentar as ambiguidades de hoje”, afirmou.

Um exemplo dessa fragmentação, segundo Morin, é a própria medicina moderna. “Ela é muito boa na criação de remédios, vacinas. Mas é especializada demais. Os médicos não são capazes de ver um organismo total, uma pessoa no seu ambiente social, ela é cortada em pedacinhos. Os antigos médicos de família tinham a possibilidade de entender a complexidade dos pacientes”, comparou.

Crítico do pensamento reducionista, Morin defendeu que o mundo está demasiadamente ocidentalizado, mas que, na ciência ocidental, há “o melhor e o pior” e que é preciso unir o que há de melhor em cada cultura. “A coisa extraordinária é que, na vida cotidiana, temos muito pouca compreensão para o estrangeiro, para outros povos que têm uma cultura outra que não é a nossa. Há incompreensão nas famílias, nas civilizações, em tudo. Há um veneno de incompreensão que faz uma degradação permanente da nossa vida”, apontou.

Há dez anos Morin escreveu o livro Os Sete Saberes à Educação do Futuro, que foi publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Os saberes fundamentais apontados por ele são: as cegueiras do conhecimento, o conhecimento pertinente, ensinar a condição humana, ensinar a identidade terrena, enfrentar as incertezas, ensinar a compreensão e a ética do gênero humano.

*A repórter viajou a convite da Unesco
Edição: Vinicius Doria
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Fonte: Agência Brasil

One Comment

  1. participei assiduidamente do seminário, seria interessante que os técnicos das secretarias e educadores que participaram, trocarem idéias e planejarem atividades de reflexão sobre os sete saberes necessários a educação com os demais educadores que não tiveram oportunidade de participar.

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