7 vezes acima da média nacional, pessoas com deficiência visual leem 9 livros por ano

Mãos lendo em braille

Por Desirée Luíse, do Aprendiz

Os frequentadores da Biblioteca Circulante de Livro Falado da Fundação Dorina Nowill para Cegos leem cerca de nove livros por ano. A marca é quase sete vezes maior do que a média nacional. Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, a população brasileira lê aproximadamente 1,3 livros anualmente. Se contabilizado o número de obras indicadas pela escola, a média sobe para 4,7 livros por habitante/ano.

A gerente de distribuição de livros da fundação, Susi Maluf, explica a diferença de médias entre as populações. “O que sentimos é que o deficiente visual tem ainda pouco acesso à informação, pois são em grande parte visuais e escritas. Quando se oferece algo que ele pode utilizar, ele aproveita ao máximo essa oportunidade”, afirma.

Pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV), encomendada pelo Ministério da Cultura, revelou que apenas 9% das bibliotecas públicas municipais possuem seção com obras em braile.

Susi classifica o acesso à leitura para pessoas com deficiência visual como ainda muito precário no país. “Hoje, o mercado editorial brasileiro lança 20 mil títulos novos por ano. Destes, não chega a 2% as obras no formato acessível. Também, não é só transformar o livro para o formato adequado, tem que colocar disponível”.

“As escolas e faculdades deveriam se inteirar mais dos recursos que aumentam o acesso à leitura. Estão muito aquém do que precisamos”, lamenta o revisor braille, Lucinho Luna. Graduado em Letras pela Faculdades Integradas de Guarulhos (FIG) há quase um ano, ele não tem 100% da visão. “O deficiente visual tem que correr atrás das coisas o tempo todo. Temos que sugerir e fazer reclamação para que algo aconteça. Ainda é muito difícil”, completa.

De acordo com Susi, disponibilizar acesso à leitura é essencial para a inclusão das pessoas com deficiência visual. “É fundamental para a cultura e a educação dos deficientes. Sem isso, não podem ser cidadãos completos”, diz.

Inclusão social

Durante a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a Fundação Dorina Nowill lançou o livro “Dudu da Breka”, primeiro título infantil em tinta e braille da instituição. A obra possibilita que crianças cegas e com baixa visão possam ler o livro na companhia de crianças que enxergam.

A ideia, segundo Susi, é trabalhar com o máximo possível da inclusão social. “Quando o mesmo livro funciona para as duas populações, você não exclui ninguém. Além dele servir para o deficiente, tem o aspecto de sensibilização das crianças que enxergam para com as que não enxergam. A inclusão é mais do que colocar o deficiente atuando na sociedade, é também fazer com que a sociedade esteja preparada para recebê-lo”, conclui.

No Brasil, cálculos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam para a existência de 1,1 milhão de cegos (0,6% da população estimada) e cerca de 4 milhões de pessoas com baixa visão.

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Fonte: Envolverde/Aprendiz

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