Agressão moral praticada por crianças e jovens, este fenômeno já atinge 45% dos estudantes de ensino fundamental no Brasil. Para combater essa triste estatística, as escolas apostam em atividades como brincadeiras e viagens que incentivem a socialização dos alunos
‘”Cabeção”, “Quatro olhos”, “Rolha de poço”, “Pelé”. Expressões como estas e muitas outras são comumente ouvidas entre crianças e adolescentes, especialmente no ambiente escolar. As brincadeiras e gozações entre estudantes são hábitos tão comuns e antigos que, talvez por isso não recebam a atenção adequada. Ações que parecem inofensivas podem ser um fenômeno cruel denominado bullying. O termo não tem tradução para o português, mas é a definição de prática de maus tratos, opressão e humilhação entre jovens e crianças. “O comportamento agressivo entre estudantes é um problema universal, tradicionalmente admitido como natural e freqüentemente ignorado ou não-valorizado pelos adultos” afirma o pediatra e coordenador de bullying da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (Abrapia), dr. Aramis Antônio Lopes Neto. Estudos comprovam que o comportamento violento e ações que hostilizam e excluem os colegas é um câncer social que precisa ser tratado da mesma maneira que os vícios em álcool ou drogas.
CONVIVENDO COM AS DIFERENÇAS
A pluralidade racial é uma das principais características da sociedade brasileira. E, por isso, um ingrediente que apimenta ainda mais as relações e conflitos escolares. “Sabemos que há um tratamento grosseiro, discriminatório, de piadas, apelidos infames que as crianças negras recebem dentro da sala de aula” diz o advogado, jornalista e editor do site Afro Press, Dojival Vieira. “As consequências são as altas taxas de repetência, faltas e evasão escolar” conclui. “O racismo pode ser uma forma de bullying, a pluralidade racial gera um grande problema nas escolas e as manifestações discriminatórias são muito comuns” diz o dr. Lopes Neto. “O branco discrimina o mulato, que discrimina o negro, os que têm sotaque também sofrem discriminação” conclui. A rejeição às diferenças é um fato descrito como de grande importância na ocorrência de bullying mas não é o principal. As vítimas podem ser negras, orientais, indígenas, brancas, gordas, magras, altas ou baixas. A falta de auto-estima é que pode potencializar a ação dos agressores. “Geralmente são pessoas frágeis, inseguras, que se sentem desiguais e não encontram apoio na família ou na sociedade” continua o dr. Lopes Neto. Considerando que a maioria dos atos de bullying ocorre fora da visão dos adultos e que grande parte das vítimas não reage ou fala sobre a agressão sofrida, pode-se entender por que, embora esse seja um mal silencioso que se alastra por todas as instituições de ensino do mundo, professores e pais tenham pouca percepção da prática, subestimam a sua prevalência e atuam de forma insuficiente para a redução e interrupção dessas situações. “Infelizmente o bullying apesar de suas conseqüências danosas às suas vítimas é pouco denunciado, quer seja no ambiente escolar, quer na delegacia” constata a titular da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, Margarette Barreto. “Os menores de 18 anos que cometem crime de racismo, de constrangimento ilegal, ou lesão corporal que são os mais comuns em decorrência do bullying estão sujeitos às penas contidas no Estatuto da Criança e do Adolescente”. O dr. Lopes Neto, acredita por exemplo que as escolas possam ser penalizadas: “A instituição é responsável pela exposição das crianças e adolescentes às agressões físicas e morais, com base na sua omissão na proteção dessas vítimas”. As medidas preventivas de conscientização são consenso entre os especialistas como forma de diminuir a incidência da violência entre pares.
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