
Por Jorge Márcio Pereira de Andrade, do InfoAtivo.DefNet
“Vós e nós somos raças diferentes. Existe entre ambas uma diferença maior do que aquela que separa quaisquer outras duas raças. Pouco importa se isto é verdadeiro ou falso, mas certo é que esta diferença física é uma grande desvantagem mútua, pois penso que muitos de vós sofrem enormemente ao viver entre nós, ao passo que os nossos sofrem com a vossa presença…”
De quem é esse pensamento? de Martin Luther King Jr. é que não é… esta é uma afirmação de Abraham Lincoln quando convocou um grupo de negros americanos, hoje chamados de afrodescendentes ou melhor afro-americanos, para um “diálogo” na Casa Branca. Isso ocorreu em 14 de agosto de 1862, quando o presidente tentava lhes explicar o seu desespero quanto ao futuro da “raça” negra nos EUA e o seu interesse em esquemas que os mandasse de volta para a ‘mamma’ África. Assim começa a história da Nigéria…
No ano passado quando estava imóvel e superdoloroso em minha cama, após a minha neurocirurgia, resolvi começar este Blog. Foi em 14 de novembro de 2009. A primeira postagem era sobre a necessidade de se comprovar o crime de racismo. A primeira postagem teve como título: Atitude racista deve ser comprovada, quando em Minas Gerais o TJ, por maioria de votos negou pedido de indenização por danos morais, pelo servidor R.P.P contra I.A, acusada de atitude racista, por não haver prova suficiente nos autos.
Segundo o ofendido, entre as agressões verbais, ela o teria chamado de “ladrão”, manifestando preconceito racial por declarar que ele deveria voltar para a senzala. E essa afirmação eu já a conhecia muito bem. A minha condição de afrodescendente me chamava para um protesto, para um manifesto e para um alívio de minhas dores. Nasceu e começou assim a história de libertação da dor, como uma chibata, com o blog Infoativo.DefNet.
A atitude de permanência do diversos tipos de racismo na história da humanidade é um fato indiscutível. Podemos separá-lo, a partir de ideologias ou outros modos políticos, da sua existência e persistência, mas não poderemos nunca negar sua presença ainda viva em muitos corações e mentes. As observações de A. Lincoln nos refletem quanto à crença uma ”diferença” nas relações entre pessoas de raças diferentes, o que não ocorreria entre as pessoas de uma mesma raça. Esquecemos, por isso, que esta visão de 1862, ainda atravessando os séculos, também se permeia de causas políticas, econômicas e sociais.
Ontem deveríamos ter feito uma busca de harmonia com os nossos Diferentes. Ontem poderíamos ter feito uma experiência de educação em Direitos Humanos e Tolerância. Em 16 de Novembro de 1996, a Assembléia Geral da UNESCO convidou os Estados Membros a celebrar o Dia Internacional da Tolerância , de cada ano, com atividades dirigidas às escolas e ao público em geral (resolução 51/95, de 12 de Dezembro). Hoje, passados alguns anos, ainda precisamos reafirmar a possibilidade de convivência pacífica com os que denominamos de “diferentes de nós”… dias atrás alguns de nós, racistas de plantão, ainda pretendia, por motivos racistas e excludentes, “afogar” aqueles que ainda usam os paus-arara para migrarem do Nordeste e ajudarem a construir o Sudeste.
Por isso é que a tolerância vem se tornando cada dia mais uma resultante, ou melhor, uma atitude reativa à intolerância, principalmente a que nos é provocada pela violência, pelos movimentos xenofóbicos, homofóbicos, pelo racismo, pela discriminação de pessoas com deficiência, pela segregação de pessoas com transtornos mentais, enfim, todos os movimentos que alicerçam as desigualdades sociais e promovem a Exclusão.
Mas como combater todos estes “males” que estão, transcultural e históricamente, enraizados em nossas mentes e corações? Como combater um preconceito permanente contra toda forma de alteridade ou diferença? O Outro é trasmutado, sempre, em um alienígena que virá nos destruir ou tomar a nossa querida e preciosa Terra ou território identitário.
Para sua exclusão ou até seu ”extermínio” não precisamos mais apenas dos discursos eugênicos, à moda de Francis Galton ou nazistas, basta que os transformemos em ”pássaros pintados” de outras cores, outras idéias, outros partidos, outras diferenças, outros modos de ser e estar no mundo globalizado. Renasce, então, a busca de uma “raça pura” a ser produzida pelas biotecnologias a serviço de um mundo homogêneo e homegeneizador. O mundo dos ”sem defeitos genéticos ou raciais”.
A idéia de raça, portanto, é uma ótima oportunidade para a segregação e para o exercício de “narciscismos das pequenas diferenças”, como bem já o demonstrou Freud. É na idéia de que o Outro tem algum atributo, hiperqualificado ou totalmente desqualificado, que o colocamos como “sangue ruim”, maléfico e contagiante. O outro passa a ser a encarnação do Mal. E muita gente, em especial alguns políticos neo-liberais, recentemente procuraram se associar à imagem de serem os “homens do Bem”.
O Outro, na Idade Mídia, passa a ser visto como o ‘mal’, pois é radicalmente uma invenção maléfica, como o disse Frederick Jameson: “o mal é caracterizado por qualquer coisa que seja radicalmente diferente de mim, qualquer coisa que, em virtude precisamente dessa diferença, pareça constituir uma ameaça real e urgente a minha própria existência….” ,
Assim sendo podemos localizar os “bárbaros” fora de nossa sacrossanta e pura imagem de nós mesmos, afinal ‘malvados’ sempre serão os outros, que podem ser tanto um índio, um morador de rua, um doente mental, um favelado, um deficiente intelectual ou alguém que é estranho ou fala uma outra língua.
E, para lembrar Zumbi e sua potência a comemorar, apenas um “negro”… E aí nasce um dos mais persistentes modos de excluir e de estigmatizar esses outros de coloração epidérmica diferenciada. Nasce e renasce, de modo sútil, no reino da democracia étnico racial do Brasil, os novos racismos.
AOS VISITANTES, LEITORES, COMENTARISTAS, COLABORADORES E SEGUIDORES DO BLOG INFOATIVO.DEFNET ENVIO HOJE MEU AGRADECIMENTO E UM DOCE ABRAÇO PELOS MAIS DE 15.000 ACESSOS AO BLOG. E TODOS E TODAS CONVOCO PARA UMA REFLEXÃO SOBRE NOSSOS MAIS ÍNTIMOS E RECONDITOS PRECONCEITOS, POIS “NÃO PENDEMOS INTEIRAMENTE PARA O LADO DOS ANJOS”…
NÃO PRECISAMOS COMPROVAR, CONFORME A DECISÃO DO TJMG, A PRESENÇA DA DISCRIMINAÇÃO E DA SEGREGAÇÃO, MUITO MENOS O DESEJO DE ALGUNS DA PERMANÊNCIA DA ESCRAVIDÃO, DO TRABALHO ESCRAVO E DA DESFILIAÇÃO SOCIAL PARA HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS, IDOSOS, QUE TENHAM SIDO CLASSIFICADOS OU DE PARDOS OU DE NEGROS NO ÚLTIMO RECENSEAMENTO DO IBGE. O CENSO DIRÁ, OS NÚMEROS AINDA CONFIRMARÃO…
Por isso ainda precisamos nos lembrar de ZUMBI DOS PALMARES… Resistir é preciso, viver é im-preciso. Se me perguntarem qual é a minha raça, sabendo-me apenas humano, demasiadamente humano, responderei: NADA A DECLARAR, como aquele histórico personagem dos anos de chumbo da Ditadura no Brasil, pois já me reconheci em meu NEGRUME. E dele, poeticamente, me apropriei… como Frantz Fanon e Beatriz Nascimento. E, no meu âmago, não preciso explicar que, continuarei de muitas e múltiplas cores, dores, amores, odores e dissabores, tentando vencer meus próprios preconceitos.
copyright jorgemarciopereiradeandrade
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Indicações para leitura:
A IDÉIA DE RAÇA – Michael Banton, Edições 70, Lisboa, Portugal, 1977
O RACISMO EXPLICADO A MINHA FILHA – Tahar Ben Jelloun, Ed. Via Lettera, São Paulo, SP, 2000.
ATITUDE RACISTA DEVE SER COMPROVADA
http://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Racismo
COMO FAZER A CABEÇA COM BEATRIZ NASCIMENTO
http://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Beatriz%20Nascimento
NA NOITE GLOBAL TODOS OS SERES TORNAM-SE PARDOS
http://infoativodefnet.blogspot.com/search/label/Frantz%20Fanon
MARTIN LUTHER KING Jr.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Luther_King_Jr.
Vídeo – I HAVE A DREAM
http://www.history.com/videos/martin-luther-king-jr-i-have-a-dream
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Fonte: InfoAtivo Def.Net
OLÁ,MINHA TURMA DE 3ºANO DO ENSINO FUNDAMENTAL,REALIZOU A PROVA BRASIL,EM OUTUBRO DESTE ANO.NO QUESTIONÁRIO RESERVADO AOS PROFESSORES UMA DAS QUESTÓES ERA QUAL A SUA RAÇA.FIQUEI SURPRESA ACHEI QUE ESTE QUESTIONAMENTO DE COR JÁ NÃO EXISTISSE MAIS,AINDA MAIS SE TRATANDO DE UMA PROVA LIGADA Á EDUCAÇÃO.FIQUEI EM DÚVIDA,POIS A MINHA RAÇA NÃO TIVE COMO MARCAR.BRANCA?PARDA?AMARELA?NEGRA?ME SINTO TODAS ELAS.GOSTARIA DE ENTENDER QUAL O PROPÓSITO DE TAL PERGUNTA.
Eu sou negro… E na minha opinião, essa coisa de PARDO deveria ser excluída de qualquer pesquisa, pois é uma invenção do Brasil. Uma invenção com o objetivo de desunir a população afro-descendente.
Já chega de gente idiota pensando que é correto se definir pelo tom de pele… Moreninho, café com leite, pardo, ou pior…mulato (definição que compara um ser humano a um animal, a mula).
Nos países em que os cidadãos são mais cultos não existe essa palhaçada de pardo… Ou você é branco, latino, indígena, oriental ou negro (incluíndo-se os afro-descendentes na etnia negra, SENDO NEGROS PUROS OU MISCIGENADOS).
As pessoas que acham correto se definir como pardo, só porque são filhos de negro com branco, na verdade não aceitam ser incluídas na etnia negra… E acabam preferindo ficar sem identidade étnica, pois “pardo” não é etnia!!!
Tenho certeza de que, se os brasileiros que se dizem pardos fossem classificados como brancos, iriam abrir um sorriso “de uma orelha a outra.”
O BRASIL E SEUS COMPLEXADOS !!!
Olá!
Se perguntarem a minha cor, minha resposta dependerá do meu estado físico: irado, vermelho; com dor de barriga, branco; com gases, preto; e assim por diante. Pior do que isso é saber que classificado em 36 no total de 35 vagas não pude ser reclassificado por motivo de cotas raciais, que foram impostas de cima para baixo, demagógicamente. Pois seria melhor que tais cotas fossem exigidas no Congresso Nacional, nas camaras municipais, assim se decidiria com maior autoridade!