Alessandro Muniz, Bruna Lopes, Daísa Alves, Eider Madeiros, Nadjara Martins, Philipe Barros, do Virajovem Natal (RN)*
“Vivendo em coletividade, o bem estar de todos é responsabilidade de cada cidadão. E votar no período das eleições não é a única maneira de participar no cotidiano da sociedade em busca de sua constante melhoria. Podemos e devemos exercer a Participação Direta, fazendo parte dos processos de decisão e criando iniciativas que contribuem para melhorar nossa realidade, e muita gente faz isso no dia-a-dia. Vamos mostrar só alguns exemplos de como nossa atitude pode provocar mudanças concretas.
Mara Farias, de 19 anos, é membro do Conselho Comunitário Padre João Maria, do bairro de Felipe Camarão, zona oeste de Natal (RN), como coordenadora de cultura e juventude. Esse é um dos dois conselhos que abrangem a região onde moram cerca de 80 mil pessoas. A jovem conta que as decisões da organização são feitas por meio de colegiado, com participação de todos os coordenadores, não só do presidente.
O Conselho atua como parceiro e apoia as iniciativas existentes no bairro, como a Biblioteca Comunitária Fé e Alegria, promovido pela ONG espanhola de mesmo nome, o Projeto de Extensão da UFRN Saúde e Cidadania (Saci), grupos de capoeira, teatro, dança, de terapia e arte para idosos, escolas de samba locais, teatro de mamulengos etc.
Além disso, cobra do poder público constantes melhorias para a comunidade. “graças ao Conselho, as ruas do bairro estão mais iluminadas”, comenta Mara sobre a intervenção na Secretaria Municipal de Urbanismo (Semurb) exigindo mais cuidado com os postes da localidade. Outro fato marcante foi a luta empreendida para conseguir por nome em uma rua que até então não conseguia receber cartas nem contas devido à situação irregular. Hoje os moradores da rua Nossa Senhora das Dores podem receber suas correspondências tranquilamente.
Maria Suelha Teixeira, de 17 anos, participa da ONG inglesa Visão Mundial onde atua no grupo de jovens, que oferece palestras e realiza fóruns sobre os mais diversos temas. “A gente precisa correr atrás dos nossos ideais, desde uma iluminação legal até uma escola de qualidade”, afirma a jovem. Jucicleiton Silva do Nascimento, de 18 anos, mediador de leitura na Biblioteca Comunitária Fé e Alegria, conta que “nasceu para ser voluntário”, pois sente desejo de ajudar ao próximo. Essa atitude beneficia toda a comunidade, e consequentemente, a ele.
O Conselho Comunitário criou ainda a Rede Social, articulação entre representantes de todas as iniciativas do bairro, desde ações artístico-culturais, políticas, religiosas, de juventude, que decidem por ações conjuntas para o bairro. Dois exemplos: um protesto em favor da 3ª Unidade Básica de Saúde, que enfrentava dificuldades de funcionamento, e a realização de um curso de formação em políticas públicas.
SOS Ponta Negra
Outra história de participação direta é a do movimento S.O.S Ponta Negra, que nasceu de uma indignação. Tudo começou em agosto de 2006, quando o jornalista Yuno Silva, de 36 anos, ao visualizar um anúncio imobiliário que tinha como proposta a construção de enormes edifícios ao lado do Morro do Careca (principal símbolo turístico da cidade de Natal, situado na praia de Ponta Negra) não se conformou com a situação ilegal, questionou moradores do bairro e a prefeitura da cidade sobre tal construção e constatou que ninguém sabia sobre o negócio imobiliário.
Decidiu criar um blog (www.sospontanegra.blogspot.com) em protesto, que teve grande repercussão nacional e internacional, com cerca de 500 acessos diariamente de 130 países, com notícias publicadas em grandes jornais. O primeiro grande movimento foi o lançamento da campanha “Eu não sou palhaço”. Outras manifestações surgiram, como o Abraço ao Morro do Careca, que, em sua terceira edição contou com mais de duas mil pessoas.
Outro efeito do S.O.S Ponta Negra foi a criação de outros movimentos, como o Filhos de Ponta. Criado há dois anos, o projeto discute a segurança pública do bairro, propondo a criação de um “território de paz”, projeto já executado em Bogotá, na Colômbia, e que teve bons resultados. Além disso, o Filhos de Ponta objetiva trabalhar com as áreas de educação, cultura, lazer, esporte, qualificação profissional e valorização da cultura.Yuno afirma que “a importância das pessoas participarem é de saberem que podem melhorar sua comunidade, a valorização da própria identidade cultural”.
Grêmio na escola
O estudante de Ensino Médio Ayrton Arruda, de 17 anos, é líder de sala e ex-integrante do grêmio estudantil da Escola Estadual Winston Churchill. Ayrton sempre desejou ingressar em movimentos políticos, mas seu engajamento só aconteceu quando conheceu um integrante do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública no Rio Grande do Norte (SINTE/RN) e ficou a par da realidade do ensino no Estado. Desde então decidiu que, enquanto cidadão, tinha o direito e o dever de lutar pelo que acreditava ser o melhor para sua comunidade.
Além de promover projetos de incentivo à cultura na escola, como aulas de dança, teatro e palestras, o grêmio não se limitava a ações dentro do ambiente escolar: aliou-se a manifestos sociais da cidade, como os protestos contra o aumento da passagem de ônibus. “O grêmio é uma base aliada aos estudantes que mostra o poder que cada um tem de exigir melhorias na sociedade, mas cabe a cada um reivindicá-las”, afirma.
A Presidente da Associação Comunitária de Artesãos de Mãe Luíza, Maria Luiza Oliveira, de 42 anos, é militante da economia solidária desde 2004. É artesã, assistente administrativo e cursa Serviço Social. “Eu acredito que a economia solidária é a alternativa real à geração de renda com perspectiva de desenvolvimento e diminuição da desigualdade”, fala Maria Luiza.
A economia solidária é uma outra forma de pensar a produção, pautando-se pelo bem estar dos envolvidos e não em lucros. Baseia-se em associativismo ou cooperativismo. As atividades de economia solidária são regularmente atualizadas na base de dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e abrangem desde capacitações na área de associativismo até organização financeira, administrativa e produtiva de um empreendimento.
O educador do ramo Lobinho dos Escoteiros, Daniel Esmeraldo da Silva, de 21 anos, também atua junto a crianças e adolescentes e vê no escotismo uma alternativa de mostrar e construir valores para a juventude. “Os grandes benefícios que o escotismo leva para o jovem são: aprender a viver uma vida sem drogas e viver honestamente junto à sociedade”, diz ele ao ser questionado sobre a tradicional atividade, na qual está envolvido há oito anos pelo 5ª Grupo de Escoteiros do Mar Humberto Lustosa.
Em Natal, o movimento escoteiro desenvolve atividades diversas como acampamento, técnicas de nós e amarras, montagem de barracas e práticas náuticas. Além disso, os grupos da região também se unem para dar apoio a eventos sociais de paróquias, para arrecadar alimentos para instituições beneficentes e estimular a população infantojuvenil de comunidades carentes à prática de esportes, à busca de aventura e à valorização dos estudos com disciplina e respeito.
Milhares de outras pessoas estão agindo nesse momento para transformar suas realidades, promovendo justiça, educação, consciência coletiva, respeito e muitos outros valores importantes para um outro mundo possível. Ninguém precisa esperar até as eleições para decidir o futuro da comunidade em que mora. Sejamos nós os protagonistas da sociedade.
*Um dos Conselhos Jovens da Vira presentes em 22 Estados e no Distrito Federal (rn@viracao.org)
Fonte: Viração