Bicca é a primeira pessoa com síndrome de Down a finalizar um curso técnico profissionalizante no Brasil

Bicca é a primeira pessoa com síndrome de down a finalizar um curso técnico profissionalizante no Brasil

Foto: Gustavo Bicca, em primeiro plano, de pé, segurando o diploma com o braço direito erguido, como se portasse uma espada; a mão esquerda está na cintura. Sua pose é a de um vitorioso. Como os demais, ele veste uma toga preta, longa, com uma faixa azul na cintura; na cabeça, o chapéu, que tem o nome de "capelo" e arminho nas bordas. Ao fundo, a mesa com as autoridades.
Foto: Gustavo Bicca, em primeiro plano, de pé, segurando o diploma com o braço direito erguido, como se portasse uma espada; a mão esquerda está na cintura. Sua pose é a de um vitorioso. Como os demais, ele veste uma toga preta, longa, com uma faixa azul na cintura; na cabeça, o chapéu, que tem o nome de "capelo" e arminho nas bordas. Ao fundo, a mesa com as autoridades.

*MATÉRIA DO JORNAL ZERO HORA*

Sancler Ebert, Zero Hora

O diploma entregue a Gustavo Bicca, 30 anos, neste sábado (2) à noite em Pelotas, representou uma conquista única para família do rapaz, assim como também para o país.

Formado em Agroindústria pelo Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Bicca é a primeira pessoa com síndrome de down a finalizar um curso técnico profissionalizante no Brasil.

– Como o país é pólo inovador em educação inclusiva na América do Sul, talvez ele seja também o pioneiro da América Latina, apostou o coordenador de educação profissional e tecnológica inclusiva do Ministério da Educação, Franclin Nascimento. O funcionário do MEC fez questão de participar da colação no Theatro Guarany, onde discursou sobre a inclusão de alunos.

Enquanto o curso normal tem três anos, Bicca levou quase nove para fazê-lo. Para o reitor do IFSul, Antonio Carlos Brodi, para que os alunos diferentes possam se desenvolver e se formar é preciso respeitar suas diferenças.

– Cada um tem seu tempo próprio, desenvolve de acordo com sua potencialidade. O senso comum diz que temos de tratar todos iguais. Ele demorou mais porque nós não estávamos preparados para ele, o que precisamos fazer foi preparar a instituição para receber todo tipo de estudante, concluiu.

Outro ponto abordado durante a formação de Bicca foi o pós-curso. De acordo com a diretora de ações inclusivas do IFSul, Gisela Loureiro Duarte, houve uma preocupação de que o estudante pudesse trabalhar após finalizar as aulas. Como a família de Bicca é proprietária de uma chácara, o recém-formado desenvolveu um projeto para cultivar e vender rosas.

– Assim ele pode agregar o conhecimento que aprendeu no curso com o que ele vai trabalhar, reflete Gisela.

*Pelotense deve continuar estudando*

Perfeita. É assim que Bicca resume a noite em que se formou. O coração parecia que ia sair pela boca, confessa ele que estava nervoso com a colação. Com a capacidade de conquistar qualquer um com poucas palavras, o pelotense foi ovacionado ao ter seu nome chamado durante a formatura.

– Nos surpreendeu ver todos os outros colegas levantando e batendo palmas para ele, porque uma das maiores dificuldades para a inclusão é o preconceito, conta a mãe do recém-formado, Marilene Bicca.

Antes mesmo de ter o diploma do curso técnico em mãos, o estudante já estava vivendo seu novo desafio. Matriculado no curso de jornalismo, Bicca tem participado de algumas disciplinas como aluno especial. O vestibular ele deve tentar no ano que vem. O seu sonho é trabalhar com marketing. Mas e as rosas, questionam os familiares? ? Vou continuar vendendo elas, revela com um largo sorriso, pouco antes de oferecer à reportagem a compra de alguns botões da flor.

Família Tecnepiana

Sábado passado, dia 2, foi um dia mais que especial em minha vida. É que nesse dia tive a honra de participar da formatura do nosso querido Estudante GUSTAVO BICCA. Seria mais uma celebração de amigos e parentes dos estudantes do Curso de Agroindústria do Campus Pelotas – Visconde da Graça (antigo CAVG) se não fosse por um detalhe: O Guga (como é carinhosamente chamado) iniciou o curso em 2001. Ao longo da entrega dos “canudos”, eu ouvia os nomes de umas tantas “Andréas”, uns tantos “Tiagos”, “Marias” e outr@s… E apenas um Gustavo: o Bicca. Enquanto eu o parabenizava, durante minha fala na cerimônia, lhe disse que mesmo sendo 1 Gustavo, várias formaturas ocorreram durante aquele momento. Querem ver?

Se formou com ele sua família, que apostou em seu potencial e o encaminhou ao então CAVG para, como disse Marilene (sua mãe): Ver o que ia dar…;

Se formou com ele todo o Campus Pelotas Visconde da Graça do IFSulriograndense (CAVG), que aceitou o desafio, mudou todo seu processo pedagógico para fazer inclusão na Educação Profissional quando a Ação TEC NEP mal começava a “vender” essa idéia…;

Também se formou a comunidade pelotense de profissionais da educação e da saúde (Profª Regina Sanches, Dr. Gilberto, Cíntia, etc) que, como sua família e o CAVG, apostava no êxito do Guga;

O Juarez Pontes (Gestor Regional Sul – TEC NEP), a Andréa Sonza (Gestora Estadual RS – TEC NEP), a Gisela Duarte (Diretora de Ações Inclusivas IFSul) e o NAPNE do Campus, que incansavelmente batalharam por esse momento;

Se formou a SEESP (atual SECAD), que tão bravamente lutou e luta para que as políticas públicas de inclusão sejam praticadas em todo Brasil;

A Coordenação de EPT Inclusiva da SETEC (antiga: Amélia, Cândida, Fernando, Josimar, Nazaré e Camila; atual: Carla, Cleibes, Eu, Jô e Márcia), que lutou, pesquisou e induziu para que nossos pares acreditassem no processo de inclusão;

A SETEC, com o apoio permanente do Prof. Eliezer, do Getúlio, Luiz Caldas e da Caetana, possibilitando o apoio logístico (material, humano e financeiro) para que a Rede Federal de EPCT acreditasse, desde aquela época, que era possível a inclusão acontecer na Educação Profissional;

E, finalmente, se formou o MEC que, por meio de determinações do Ministro Haddad, do então Presidente Lula e da atual Presidente Dilma, tomou a inclusão plena como ferramenta de luta e a levou a cabo.

Poderíamos dizer que completamos o “ciclo da inclusão”: O estudante Guga teve acesso ao curso, permaneceu, concluiu e já teve a inserção sócio-laboral garantida (vejam a matéria abaixo). Mas ele ainda não “chegou lá”. Lhes digo, isso é só o começo pois ele acaba de se inscrever em um curso de tecnologia no Campus Pelotas e faz matérias isoladas de jornalismo na UFPEL. Nós ainda escreveremos muito sobre esse sujeito.

Viva o Guga! Viva a educação profissional e tecnológica inclusiva!

Viva a inclusão!

Abs,

Franclin

One Comment

  1. Que matéria ma-ra-vi-lho-sa!!! Como estou feliz! Sinto como se conhecesse o “Guga” tamanha a alegria de saber que ele é um vencedor junto com sua família. Que é também um guerreiro que não se intimida com o preconceito e já almeja uma nova conquista, a faculdade. Estarei torcendo por ele, pois é exemplo de que a inclusão está acontecendo. Paarabéns Guga!!!

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