Por Dojival Vieira
da Afropress
A vitória da angolana Leila Lopes, eleita a mais bela mulher do mundo, representa muito neste Ano Internacional dos Afrodescendentes declarado pela ONU, e tem um significado ainda mais especial pelo fato dessa eleição ter acontecido no Brasil – país com maior população negra do mundo fora da África.
Não foi a primeira vez que uma mulher negra venceu. Em 1.977, Janelle “Penny” Comissiong Chow, de Trinidad Tobago, tornou-se a primeira negra a conquistar o Miss Universo. Mas foi a primeira vez que uma africana conquistou o título em 60 anos de concurso.
O fato acontece no Brasil, país em que apesar de sua população majoritariamente negra (somos 50,7% de pretos e pardos, de acordo com o Censo do IBGE 2010), ainda tem o loiro escandinavo, de olho azul, como modelo único de beleza.
O padrão eurocêntrico imposto tem sido o instrumento ideológico, por meio do qual o racismo destrói a autoestima das crianças negras, especialmente das meninas, vítimas do alisamento forçado dos cabelos, da “chapinha” a que se auto-impõem, mecanismos por meio dos quais buscam se adequar à estética branca dominante.
No Brasil do mito da democracia racial, ainda é comum o uso da expressão “cabelo ruim” para se referir ao crespo dos cabelos negros.
A eleição da Miss Angola como a mulher mais bela do mundo pode contribuir para o fim desta ditadura estética, contribuindo para a elevação da autoestima de quem não se enquadra no padrão eurocêntrico dominante: negros, índios, orientais, ciganos etc.
Com toda a certeza, o símbolo em que a angolana se tornou a partir deste Miss Universo – e justo na cidade mais negra do mundo fora da África, que é São Paulo – contribuirá para que as meninas negras comecem a se libertar das “chapinhas” e, ao assumirem sua própria estética, reforçar e fortalecer sua auto-estima.
Se somos vários, porque deveríamos nos enquadrar em padrões únicos? Se temos tantos modelos de beleza (brancos, negros, índios, orientais), porque devemos aceitar a ditadura de um único – o loiro escandinavo -, herança das políticas de branqueamento adotadas pelo Estado, notadamente, nas primeiras quatro décadas do século XX?
A hora é agora: Brasil, mostra a tua cara!
Nota da Redação
Na verdade, Leila Lopes é a quarta mulher africana a se tornar Miss Universo. Antes dela, foram eleitas duas sul-africanas (ambas brancas) e uma de Botsuana. Veja matéria com entrevista da Miss Brasil, 1.989, Flávia Cavalcante.
Fonte: Afropress