A lição das paralimpíadas escolares

Criança dentro de rio

Por Panda Sene *

Como é bom viver em um país no qual as pessoas são sinceras e não têm vergonha de dizer de onde vieram e para onde vão. Essa sinceridade, muitas vezes, encontramos nas crianças. Elas não têm vergonha de se expressar, e nos mostram que o mundo pode ser diferente.

Durante as Paralímpiadas Escolares, em São Paulo, participei como árbitro de natação. Lá, tive a oportunidade de conhecer um garoto muito sorridente e de fácil comunicação. Muito brincalhão, também. Esse garoto, em alguns minutos de conversa me mostrou como é bom viver e conviver com o esporte paralímpico. Aliás, a cada dia tenho mais certeza de que todos nós temos a obrigação de lutar e desenvolver atividades para as pessoas com deficiência.

O garoto do Estado do Mato Grosso do Sul, tem 13 anos, e em menos de 10 minutos de conversa, me ensinou que, para conquistarmos algo, não precisamos necessariamente de um local com uma infraestrutura elevada ou com muitos recursos, mas, sim, de muita força de vontade e determinação. Para muitos atletas, a falta de recurso se transforma em desculpa por não ter conquistado uma medalha ou um objetivo.

Simplesmente perguntei ao garoto se onde ele morava tinha uma piscina como a que estava competindo, para que treinasse. E logo me veio um sorriso e uma resposta surpreendente. “Onde, lá perto de casa?”, disse. Respondi que sim. E ele simplesmente me respondeu: “moço, eu nado é no rio que tem perto da minha casa. A professora coloca umas bexigas do lado pra gente fazer de raia e a gente nada no rio, mesmo”. Isso me chocou e me surpreendeu ao mesmo tempo. Senti que o garoto dizia a verdade e que não era apenas uma brincadeira. Ele ainda continuou: “eu nado no rio desde pequeno, pois as crianças que moram na beira do rio vivem do que vem dele, e aprendem desde cedo a nadar, pescar e conduzir barcos”.

Depois de algumas risadas e de algum tempo conversando, ele se foi e até o final da competição não o vi mais. Porém, fiquei com um pensamento de que, como uma criança que estava tendo contato com uma piscina, provavelmente pela primeira vez, estaria se sentindo. Ainda mais viajando para um estado desconhecido, com algumas crianças que começou a conviver a pouco tempo. Sem contar que conviverá com muitas outras, e com muitas histórias iguais ou diferentes que a dele.

As Paralímpiadas Escolares abre um leque de oportunidades a crianças e jovens, de começarem a traçar um objetivo e de busca-lo, não importando sua deficiência ou sua condição social, mostrando a muitos que o esporte é para todos e que neste mundo cada ser humano tem seu espaço como cidadão e formador de opinião.

A criança com deficiência se desenvolve através do espelho da pessoa adulta, sendo ela deficiente ou não. A busca pelos traços adultos é procurada em pessoas próximas, e ter essas pessoas a seu lado, orientando e mostrando o caminho a ser seguido, se torna favorável para o seu desenvolvimento social e cognitivo.

Portanto, as Paralímpiadas Escolares é uma competição para o desenvolvimento da criança e do adolescente com deficiência, mostrando que a superação esta não só em competir, mas em conviver e respeitar tanto sua deficiência quantos seus colegas competidores.

Foi muito bom ter participado deste valioso evento e ter conhecido um garoto que me surpreendeu, além de me mostrar uma forma diferente de poder participar da vida da pessoa com deficiência, e não só em procurar a excelência na atividade física, mas em todos os âmbitos, principalmente no social.

Panda Sene é professor especialista em administração e marketing esportivo, profissional de educação física, árbitro de basquetebol em cadeira de rodas –FPBSR, árbitro regional de natação paralímpica — CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), árbitro de rugby em cadeira de rodas — ABRC (Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas) e professor de educação física da fundação CASA.

Fonte: O Autor

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