
O empresário tem procurado contratar pessoas com deficiência para atender à Lei de Cotas, mas não está encontrando profissionais qualificados para o mercado de trabalho. A constatação foi feita por especialistas na área que participaram, nesta quinta-feira (4), de uma audiência pública para discutir a capacitação para o trabalho e a empregabilidade da pessoa com deficiência. O debate faz parte das atividades promovidas pela 4ª Semana de Valorização da Pessoa com Deficiência.
A subprocuradora-geral do Trabalho, Maria Aparecida Gugel, afirmou que os trabalhadores com algum tipo de deficiência são, atualmente, “disputados a tapa pelo empresário” para o cumprimento da Lei de Cotas. Essa norma obriga as empresas com mais de cem funcionários a terem, em seus quadros, trabalhadores com algum tipo de deficiência física ou mental.
– Para atender à reserva de mercado, os empresários estão promovendo a qualificação dessas pessoas – afirmou a subprocuradora, que defende a Lei de Cotas como fundamental no processo de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
A informação foi confirmada pelo diretor de Relações Institucionais da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Mário Sérgio Fernandes de Vasconcelos, que afirmou ser de seis mil o déficit de contratações no setor bancário brasileiro para atender a Lei de Cotas.
Com o objetivo de se enquadrar na legislação, a Febraban optou por treinar os futuros bancários, mas nem sempre com êxito, conforme relatou Mário Sérgio.
– As pessoas não conseguem acompanhar a capacitação por falhas no processo de educação. Precisamos completar a educação dessas pessoas para que elas consigam se capacitar adequadamente, disse o representante da Febraban que, em fevereiro, inicia um novo processo de treinamento de 1.109 deficientes recentemente recrutados.
A especialista de Desenvolvimento Industrial do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) Loni Elisete Manica destacou os cursos da instituição voltados tanto para a capacitação de pessoas com deficiência como também para o treinamento de futuros docentes na área. Para ela, esses cursos, que já formaram, em todo o país, mais de 35 mil pessoas com deficiência para o mercado de trabalho, não seriam possíveis sem a realização de parcerias diversas.
– Se não fizermos parcerias, não unirmos competência e não acreditarmos que é possível, pouco avançaremos. Se todos fizerem a sua parte, ganha a educação, ganham as pessoas com deficiências, ganha o mercado de trabalho e também o mundo das possibilidades – afirmou a especialista do Senai.
Já o deputado federal e presidente da Federação Nacional da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Eduardo Barbosa, defendeu a formação educacional como fator primordial para a inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Ao afirmar que a educação dessas pessoas, principalmente daquelas que têm deficiência intelectual ou múltipla, se dá “num nível diferenciado”, ele destacou a necessidade de se debater a questão do financiamento educacional profissional para esse segmento da sociedade.
– Não existe financiamento educacional profissional. Precisamos discutir, forçar e exigir a discussão desse assunto – solicitou aos demais parlamentares.
A audiência foi realizada em conjunto pelas Comissões de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) e de Assuntos Sociais (CAS).
Valéria Castanho / Agência Senado
http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=81406&codAplicativo=2