CFP divulga orientações para avaliação psicológica de pessoas com deficiência

Bússola

O CFP, em seu papel de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo (a), segundo a Lei 5.766/71, construiu a Nota Técnica Construção, adaptação e validação de instrumentos para pessoas com deficiência com o objetivo de orientar os (as) profissionais que realizam avaliação psicológica para este público.

Leia a íntegra da Nota Técnica:

Construção, adaptação e validação de instrumentos para pessoas com deficiência

Na construção e adaptação de testes psicológicos para indivíduos com deficiência, faz-se imprescindível o atendimento aos pressupostos teóricos e técnicos inerentes ao processo de construção e adaptação de instrumentos sedimentados na literatura científica da área. Contudo, alguns aspectos adicionais devem ser observados com vistas à manutenção da qualidade psicométrica destes instrumentos:

1) Adaptar um teste para pessoas com deficiência não se resume em alterar um aspecto indistintamente sem avaliar as consequências na avaliação psicológica como um todo e nos resultados e procedimentos do próprio teste;

2) O uso de certos tipos de adaptações pode modificar o construto que está sendo medido. Cita-se como exemplo medidas de compreensão escrita e oral;

3) É condição indispensável, considerando a heterogeneidade da população com deficiência, o conhecimento profundo sobre o público ao qual o teste é destinado, o tipo de deficiência, e, como o público irá manusear os materiais do instrumento; e,

4) A equipe de desenvolvimento ou adaptação deve consultar indivíduos com as deficiências alvo para avaliar o impacto das adaptações realizadas em relação a aspectos de usabilidade, acessibilidade, clareza das tarefas, entre outros aspectos. Quando possível, a consulta a especialistas na área do construto ou a psicólogos que apresentam a deficiência para o qual o teste está sendo adaptado é recomendável.

No tocante à adaptação, ressalta-se ainda que quaisquer ajustes nos procedimentos padronizados dos testes e nos seus materiais assumem o risco de causar mudanças nas características dos instrumentos invalidando os resultados obtidos. Assim a eficiência de uma adaptação para indivíduos com deficiência só poderá ser comprovada por meio de estudos pela busca de indicadores de precisão e evidência de validade do teste adaptado. Dentre os métodos usados para verificar o efeito das adaptações em pessoas com e sem deficiência, tem grande relevância a investigação da ocorrência de função diferencial dos itens (DIF) (Oliveira, Nuernberg & Nunes, 2013; Psychological Testing Centre & The British Psychological Society, 2007; American Educational Research Association, American Psychological Association & National Council on Measurement in Education, 1999).

A construção e adaptação dos testes psicológicos para os indivíduos com deficiência configuram-se como atividades complexas que requerem, frequentemente, a utilização de várias modificações e alguns recursos adicionais, tais como as tecnologias assistidas, na tentativa de proporcionar acessibilidade aos materiais dos testes. Em auxílio aos desafios existentes neste processo de atendimento à diversidade humana, um recurso interessante é a aplicação do conceito de Desenho Universal.

Tal conceito busca proporcionar a máxima acessibilidade reduzindo o viés, pois permite pensar-se, desde o início da construção ou mesmo na pós-construção, em testes que possam ser flexíveis a acomodações atendendo a uma população ampla, incluindo pessoas com e sem deficiência. As adaptações realizadas fazem parte de estudos prévios e são utilizadas quando há necessidade ou quando compõem o teste, independentemente do indivíduo que as utilize. Muitas modificações utilizadas nos testes que aplicam o conceito de desenho universal, como as que aumentam a legibilidade e o fazer intuitivo e livre de complexidade desnecessária, produzem instrumentos de maior qualidade tanto para os indivíduos com deficiência quanto sem deficiência. Contudo a contribuição do desenho universal é mais evidente para os testes utilizados pelas pessoas com deficiência, pois o desenho universal permite que eles possam beneficiar-se dos instrumentos psicológicos de forma realmente inclusiva (Oliveira, Nuernberg & Nunes, 2013; Johnstone, 2003; Thompson, Johnstone & Thurlow, 2002).

Em síntese, não é recomendada qualquer adaptação sem prévio estudo. Nos casos em que o uso dos testes é inapropriado para as características individuais do avaliado, o psicólogo deverá proceder a avaliação com outros recursos reconhecidos pela Psicologia.

Referências:

American Educational Research Association, American Psychological Association, National Council on Measurement in Education (1999). Standards for educational and psychological testing. Washington, DC: Author.

Psychological Testing Centre & The British Psychological Society (2007). Visual impairment and psychometric testing: Practical advice for test users managing the testing of people who have signt disabilities. Recuperado em março de 2011, de www.psychtesting.org.uk.

Johnstone, C. J. (2003). Improving validity of large-scale tests: Universal design and student performance (Technical Report 37). Minneapolis, MN: University of Minnesota, National Center on Educational Outcomes. Retrieved. Recuperado em Agosto de 2011, de http://education.umn.edu/NCEO/OnlinePubs/Technical37.htm.

Thompson, S. J., Johnstone, C. J., & Thurlow, M. L. (2002). Universal design applied to large scale assessments (Synthesis Report 44). Minneapolis, MN: University of Minnesota, National Center on Educational Outcomes. Recuperado em Agosto de 2011, de http://www.cehd.umn.edu/nceo/onlinepubs/Synthesis44.html.

Oliveira, C. M. ; Nuernberg, A. H. & Nunes, C. H. S. S. (2013). A incorporação do Conceito de Desenho Universal na Avaliação Psicológica como promotora dos Direitos Humanos. Avaliação Psicológica (Impresso – Aceito para publicação).

Fonte: Sindicato dos Psicólogos do Estado de São Paulo

One Comment

  1. gostaria de saber como poso solicitar um teste para minha filha que tem sindrome dawon moro em canoas R.S .OBRIGADO.

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