Era uma vez um menino alfabetizado com a ajuda de aplicativos do iPad. Aliás, “era uma vez”, não. Esta é uma história real. Pedro Pessoa Santos, de apenas 7 anos, tem hidrocefalia e sua coordenação motora ficou prejudicada, provocando dificuldades para a escrita e, consequentemente, atrasos na alfabetização. Mas foi justamente a tecnologia, muitas vezes criticada quanto ao seu uso por crianças, que auxiliou quando a idade de aprendizado escolar chegou. “Os aplicativos disponíveis em tablets ajudam muito para que a criança aprenda o traçado das letras e dos números. Com o dedo ela aprende a escrever e, ao repetir, ela consegue assimilar. E, no caso do meu filho, fazer tudo depois com o lápis”, contou a mãe do menino e idealizadora do blog Tudo Bem Ser Diferente, Sônia Caldas Pessoa.
Ela destacou que o número de aplicativos disponíveis para treinar a escrita, melhorar a comunicação de quem não consegue falar e auxiliar pessoas com Síndrome de Down, por exemplo, é amplo. “Há ainda aqueles que permitem despertar o prazer por jogos educativos. Uma criança que não consegue jogar o quebra-cabeças tradicional pode conseguir no tablet, como o meu filho. Ou quem encontra dificuldades para desenhar ou colorir com o lápis pode se sentir melhor ao usar esses recursos”, comentou. E completou. “Esses são apenas alguns exemplos, mas há inúmeras possibilidades de aplicativos a serem explorados de acordo com a necessidade”.
Idiomas
Uma escola de inglês de São João del-Rei investe na tecnologia para auxiliar o aprendizado da língua. A diretora acadêmica da instituição, Ana Maria Campanha, contou que todas as turmas têm grupos no Facebook e blogs. Além disso, todas as salas possuem lousas digitais. “Se você esta falando de um filme, você consegue mostrá-lo ali. Várias vezes estou trabalhando um conteúdo e o aluno pergunta se pode ir ao quadro, no recurso do dicionário, para ver a pronúncia”, contou. E completou: “É um estímulo visual. A riqueza de som e imagem facilita o aprendizado”, disse. A escola utiliza as lousas há cinco anos e, segundo a diretora acadêmica, é notável que o recurso auxilia no aprendizado. “A melhora da percepção auditiva é incrível, até do aluno adulto, que tende a ter mais dificuldade”, destacou Ana Maria.
Para ela, os estudantes de hoje anseiam por formas diferentes de aprendizado, por serem nativos digitais. “Eles têm a tecnologia em casa, então têm a expectativa de que o professor vai trazer algo novo para a sala de aula, o que vai acelerar o processo cognitivo”, disse.
Apesar das vantagens da utilização das tecnologias em sala de aula, Ana Maria destaca que é fundamental que o professor seja atualizado constantemente, para saber explorar todos os recursos da ferramenta. “Já vi escolas que utilizam a lousa digital como um quadro branco. A tecnologia por si só não adianta. É preciso ter um professor bem treinado”, disse.
Educação à distância
Assim como as tecnologias podem ser utilizadas apenas como complemento para auxiliar na educação, elas também podem ser as ferramentas de ensino em si. É o que acontece no Núcleo de Educação à Distância (NEAD) da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). “Atendemos tanto a capacitação de profissionais em serviço quanto de novos profissionais”, disse o coordenador acadêmico do Nead, professor José Luiz de Oliveira.
O núcleo oferece cursos de graduação, pós-graduação, mestrado profissional, de extensão e aperfeiçoamento através de um portal didático. “O aluno entra na plataforma, acessa o conteúdo, conversa com o professor e as tarefas são dadas e feitas ali. A pessoa tem um prazo para cumpri-las e, se não fizer o exercício até determinada data, vai se perdendo no cronograma. São apenas de dois a quatro encontros presenciais durante o ano, que são feitos para que os alunos tirem dúvidas e façam as provas escritas”, explicou, destacando que esta é uma modalidade de ensino que exige muito de quem adere a ela. “Não temos uma sala de aula com espaço e tempo definidos. A pessoa precisa ter muita responsabilidade para fazer seu próprio horário. Partimos do pressuposto de que o aluno é autodidata no sentido de se autopoliciar”, disse. Oliveira destacou ainda que a modalidade de ensino a distância cresce a cada dia. “Na verdade não temos mais como escapar da tecnologia no ensino”, afirmou.
Rede
Se a tecnologia pode ajudar no ensino, ela também pode ajudar na criação dos filhos e, principalmente, na troca de experiências. É o que acontece no blog Tudo Bem Ser Diferente, criado por Sônia há um ano. Mais de 3 mil pessoas já curtiram a página do blog no Facebook, o que surpreendeu a mãe de Pedro. “A idéia inicial era desabafar, como se quisesse falar alto sobre os desafios da educação inclusiva. Era quase uma tentativa de ser ouvida por alguém que pudesse me ajudar, me indicar caminhos. Mas houve um movimento contrário: havia muitas pessoas procurando indicações, dicas, pedindo ajuda. O que era um desabafo se tornou um espaço de troca de ideias e de informações”, contou.
No espaço, temas relacionados à diferença – seja ela por deficiência, cor, sexo, orientação sexual, crença religiosa ou idade – são tratados em uma perspectiva ampla e atual, encarando o diferente de forma positiva. “Sabemos das dificuldades, dos desafios, falamos dos problemas, mas queremos encontrar soluções e opções para um mundo mais generoso e gentil.
Acreditamos, de verdade, que é possível trabalhar a favor do respeito”, contou.
Para Sônia, essa característica ajuda a manter o público fiel. Outro ponto são os relatos em linguagem simples de casos cotidianos e experiências com Pedro. “É como se estivesse falando com amigos em casa ou na mesa de um café. Isso garante a mesma intimidade e liberdade aos convidados, ou seja, eles se sentem mais à vontade quando são entrevistados. Além disso, os colaboradores do nosso blog são pessoas diferentes ou que têm algum diferente na família: um tem paralisia cerebral ou é quase cega, outra tem displasia óssea, tem também um que é pai de um garoto com deficiência. Ou seja: damos voz às pessoas que precisam falar para a sociedade entender o diferente”, destacou.
E completou. “A internet contribui de maneira significativa para a inclusão social. A internet torna pública uma situação de desigualdade, de direitos humanos, de grandes dilemas sociais que muitas vezes ficaram sufocadas em casa ou escondidas em escolas não inclusivas. Além disso, a experiência de cada caso divulgado traz sempre grandes lições para outras pessoas que se sentem sozinhas, desamparadas, rejeitadas, enfim, solitárias em suas diferenças ou nas diferenças dos outros”.
Sônia contou que o blog é um espaço permanente de discussão. “Por meio dele é possível não só falar, mas ouvir e conseguir trabalhar efetivamente em prol da educação inclusiva”, disse. As ações na internet, neste caso, não ficam só no ambiente online. Isso porque ela desenvolve uma pesquisa científica sobre o tema e participa de palestras em empresas públicas e privadas. “A última palestra que fiz foi no Ministério Público de Minas Gerais. Além disso, somos consultados diariamente por escolas e profissionais sobre educação inclusiva”.