Pesquisadora problematiza aspectos da educação inclusiva em trabalho de doutorado. Reportagem é da Agência USP.
Por Marcela Baggini, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto, na Agência USP
Estudo realizado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP aponta que crianças com Síndrome de Down que frequentam a rede básica de ensino sofrem exclusão. Segundo a fonoaudióloga Flávia Mendonça Rosa Luiz, a prática tem o objetivo de incluir, porém o resultado não é esse. “Existe um preconceito presente na concepção dos professores em relação às crianças com Síndrome de Down que as levam a focar apenas em suas deficiências, subestimando assim sua capacidade de aprendizagem.”
O estudo conclui que os professores não conseguem desenvolver atividades pedagógicas com essas crianças porque elas têm necessidades mais importantes, como higiene, alimentação, conforto e interação social. Durante a pesquisa, foram entrevistados dez professores da Secretaria de Educação do Município de Araraquara. “Os resultados podem ser estendidos para outras unidades de ensino, uma vez que eles já foram evidenciados em outras pesquisas”, afirma Flávia.
A fonoaudióloga fala que as dificuldades da interação também são frutos da cultura presente na sociedade brasileira, que não é tão aberta a diferenças. “Com isso, temos o processo de inclusão como ‘uma exclusão dentro da inclusão’.” Orientada pela professora Lucila Castanheira Nascimento, a pesquisa Experiência de professoras da educação infantil no processo de inclusão escolar de crianças com síndrome de Down foi desenvolvida de janeiro de 2010 até dezembro de 2014.
Relato dos professores
Segundo Flávia, os professores são peças fundamentais para o sucesso da inclusão escolar de crianças com Síndrome de Down, pois são responsáveis por promover o desenvolvimento dos alunos. “A falta de formação teórica e prática quanto à educação especial, de recursos pedagógicos, professores assistentes e apoio da direção fazem com que os professores se sintam solitários no processo de inclusão.”
Os resultados da pesquisa também apontam que as necessidades sociais das crianças, por superarem as educacionais, fazem com que os professores passem atividades paralelas para mantê-las ocupadas. “Na nossa sociedade, a pessoa com deficiência é vista por suas impotências e, como tal, não deveria frequentar a escola comum por não ser capaz de aprender”, destaca a pesquisadora.
A fonoaudióloga afirma que a inclusão escolar não se restringe a políticas educacionais, mas engloba também a disposição dos professores e da comunidade em aceitar as diferenças. Nesse contexto, o grande desafio é dar aos professores conhecimentos necessários que os levem a novas atitudes frente às diversidades. “Sentimentos como respeito, tolerância, aceitação, solidariedade e compreensão, aliados a valorização dos professores, podem mudar a realidade e o processo de inclusão atingir seu objetivo”, conclui Flávia.