Janaína Cunha Melo – EM Cultura
Domingo, Herbert Vianna (C) e Os Paralamas do Sucesso fazem show no Palácio das Artes
A música não apenas faz parte da vida de Herbert Vianna. “Ela é, verdadeiramente, o ar que respiro, assim como meus filhos representam o sol de cada manhã”, diz o compositor, que participa da programação da 3ª Jornada da Inclusão da Pessoa com Deficiência – Vitória pela Arte. O show em que ele e Os Paralamas do Sucesso receberão convidados como Gilberto Gil será realizado domingo, com entrada franca, no Grande Teatro do Palácio das Artes. A programação começa nesta sexta-feira, com o espetáculo Somos todos brasileiros, nas dependências da Fundação Clóvis Salgado.
Todos os artistas envolvidos no evento, com curadoria de Marcos Frota, são pessoas com necessidades especiais e comprovam o potencial humano de superar limites. Na avaliação de Herbert Vianna, projetos como este são fundamentais para mostrar como a arte é importante e pode mudar, de forma definitiva, a vida das pessoas. Depois do acidente de ultraleve em 2001, no litoral do Rio de Janeiro, em que ele perdeu a mulher, Lucy, e que lhe deixou seqüelas irreversíveis, o artista passou a conhecer os desafios impostos pelo comportamento social pouco favorável aos deficientes.
Para o líder de um dos grupos de rock mais populares do país, o preconceito continua e é o principal problema a ser enfrentado. Somada a ele, observa Vianna, está a ausência de um programa nacional que vise a dar acesso amplo aos cadeirantes. “Sem isso, não é possível nos locomovermos em todos os lugares públicos”, observa. Essa e outras questões serão lembradas neste fim de semana, durante a jornada, por palestras, seminários e pelas atrações artísticas. O encontro terá ambiente de celebração e de festa para comemorar as conquistas, sem espaço a lamentos. Apesar das dificuldades, diz Marcos Frota, todos estão empenhados em encontrar saídas, de preferência coletivas e com auto-estima elevada.
Outro símbolo de superação, o maestro João Carlos Martins, autor do livro A saga das mãos (Editora Elsevier), também vai se apresentar na capital. Ele regerá a Orquestra Bachiana Jovem amanhã, em O quebra-nozes, que será dançado pela Cia Balé de Cegos Fernanda Bianchini, com participação da bailarina Ana Botafogo. Eles acabam de realizar ensaio geral aberto, comovendo platéia e artistas. “Foi uma experiência de pura emoção. Elas demonstram alegria imensa porque se sentem rainhas no palco. É um momento de grande felicidade e determinação”, adianta o regente.
Martins, um dos maiores intérpretes ao piano do compositor barroco Johann Sebastian Bach, teve sucessivos problemas nas mãos. Eles dificultaram sua performance, mas não o impediram de continuar se dedicando à música de forma obstinada. Sua história de vida, apresentada em palestras, inspira jovens e adultos, portadores ou não de necessidades especiais. “Quando a gente vê tanta gente reunida, com problemas diferentes, realizando um evento deste porte e com esta qualidade, se sente pequeno diante da capacidade de cada um”, diz.
TELEVISÃO
Ator que interpretou quatro personagens portadores de deficiência, o curador Marcos Frota lembra que a televisão é instrumento essencial para o sucesso de campanhas dessa natureza. “No caso de uma novela, como América, em que vivi o Jatobá, deficiente visual, eram 50 milhões de pessoas assistindo diariamente à rotina dele. O efeito disso é multiplicador e incalculável”, avalia. Para ele, a realização de mostras como a jornada é fundamental para que haja maior diálogo na sociedade e entre as pessoas que se relacionam com portadores de necessidades. “Fico encantado com as famílias em que pais e mães vêem os filhos no palco. Isso as ajuda a restabelecer laços para um tipo de comunicação que estava interrompida. A arte tem essa capacidade”, observa.
Frota informa que 14,7% da população, mais de 25 milhões de brasileiros, são portadores de algum tipo de deficiência. A maioria deles, diz o curador, vive em cidades sem condições de acessibilidade. “Essas pessoas estão escondidas e passam por muito constrangimento quando saem de casa. A inclusão depende de mais respeito, além de ética, espiritualidade e consciência”, reclama. Projeto de arte e cidadania, a Jornada da Inclusão lida com entretenimento de forma emblemática. “A consistência, riqueza estética e diversidade da programação não deixam de ser uma provocação, mas bastante lúdica e com esse tom de celebração”, reforça.
PROGRAMAÇÃO
SEXTA-FEIRA
14h: Abertura do Espaço Sensorial de Superação e do Espaço Interativo
• Hall e foyer
14h: Mostra de filmes e vídeos temáticos
• Cine Humberto Mauro
16h: Palestra de Izabel Maior, da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, e apresentações artísticas
• Grande Teatro do Palácio das Artes
SÁBADO
14h: Abertura do Espaço Sensorial de Superação e do Espaço Interativo
• Hall e foyer
14h: Mostra de filmes e vídeos temáticos
• Cine Humberto Mauro
17h: Palestra e lançamento de livro do maestro João Carlos Martins
• Grande Teatro do Palácio das Artes
20h: Quebra-nozes, com a Cia Balé de Cegos Fernanda Bianchini. Com maestro João Carlos Martins, Orquestra Filarmônica Bachiana e participação especial da bailarina Ana Botafogo
• Grande Teatro do Palácio das Artes
DOMINGO
14h: Abertura do Espaço Sensorial de Superação e do Espaço Interativo
• Hall e foyer
14h: Mostra de filmes e vídeos temáticos
• Cine Humberto Mauro
18h30: Palestra “Mudança de paradigmas, inclusão social e superação”, com Lars Grael
• Grande Teatro do Palácio das Artes
20h: Show de Herbert Vianna e Os Paralamas do Sucesso e participação especial de Gilberto Gil, entre outros convidados
COMEMORAÇÃO
A 3ª Jornada da Inclusão da Pessoa com Deficiência – Vitória pela Arte comemora os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e a ratificação, pelo governo brasileiro, da Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência.
