A teoria da idade mental fere pessoas com deficiências intelectuais

ilustração em inglës mostra escada com bonecos subindo os degraus, o degrau mais baixo "idiota", "imbecil grau baixo", "imbecil médio", "imbecil alto nível", e "moron".

Por Ivanova Smith

Você já ouviu a frase “aquela pessoa tem a cabeça de uma criança de cinco anos no corpo de um adulto?”. Isso é algo com que muitos adultos com deficiências intelectuais, como é o meu caso, têm que lidar. Por anos, profissionais médicos disseram aos pais de pessoas recentemente diagnosticadas com deficiências intelectuais que ele(a)s teriam a mentalidade de crianças por todas suas vidas.  Apesar de eu ser uma adulta grávida de 28 anos e um membro do corpo docente da Universidade de Washington, as pessoas ainda me vêm como uma criança. Isso não é só ofensivo como também pode retirar nossos direitos a viver vidas normais como adultos. Historicamente, a assim chamada teoria da idade mental arrancou a dignidade, a liberdade de reproduzir e os direitos de paternidade de pessoas com deficiências intelectuais ou de desenvolvimento. A teoria da idade também tem sido usada para arrancar de nós o direito de tomarmos decisões na vida adulta, como comprar bebidas alcólicas, cigarro ou ter relações sexuais.

A “teoria da idade mental” foi uma característica do movimento da eugenia. Em muitos aspectos, também foi o precursor dos rótulos funcionais modernos. Na virada do século 20, a deficiência intelectual era chamada de “fraqueza” e foi dividida em categorias: um estúpido era alguém com idade mental de 9 a 12 anos, um imbecil era alguém com idade mental de 6- 8 anos de idade, e um idiota era de idade mental ou de 2-5 anos. Em Buck v. Bell, um caso que legalizou a esterilização forçada de adultos com deficiência, o juiz Oliver Wendell Holmes observou: “três gerações de imbecis são suficientes” como justificativa para a esterilização forçada de pessoas com deficiência intelectual. A justificativa também foi usada para negar a nossa liberdade e nos forçar a viver em instituições.

Eu trabalho para o projeto LEND da Universidade de Washington, que consiste em oferecer treinamento interdisciplinário de liderança para profissionais médicos. Às vezes, os profissionais médicos com quem eu trabalho esquecem dos fatos históricos e eu tenho que lembrá-los que é muito prejudicial usar a teoria da idade mental quando falam com pais de crianças recém-diagnosticadas. A teoria da idade mental desmotiva os pais a ensinarem aos seus filhos os seus direitos à independência e autonomia

Muitos dos meus amigos com deficiência intelectual foram mal-assistidos por causa da teoria da idade mental. Eles sentem que nunca se tornarão independentes ou poderão se casar porque a vida toda falaram com eles e os trataram como se fossem crianças.  É por isso que eu milito para que as pessoas não usem nunca a teoria da idade mental. Precisamos dizer aos meios de comunicação que não devem usá-la para descrever adultos com deficiência que estão perdidos ou sem rumo. Precisamos educar os profissionais médicos para que haja uma maneira melhor e mais respeitosa de explicar as necessidades das pessoas com deficiências de desenvolvimento e/ou intelectual. Ter dificuldades em fazer uma determinada tarefa não é a mesma coisa que ser uma criança.

É divertido quando me encontro com pessoas que não têm deficiência e elas fazem graça e comentam sobre o bichinho felpudo que eu carrego para me dar conforto. Isso mostra que os adultos podem desfrutar de coisas que as crianças desfrutam sem que as pessoas assumam que têm mentalidade infantil. Leve isso em consideração quando ouvir frases como “idade mental de uma criança de cinco anos” quando se fala sobre adultos. Ensine às pessoas que não é necessário ou apropriado se referir a alguém com deficiência intelectual e de desenvolvimento como sendo mentalmente mais jovens do que elas são! Eu não tenho idade mental de 12 anos. Eu tenho idade mental de 28 anos. Eu apenas tenho uma deficiência intelectual.

Tradução: Isabella Pimentel

Fonte: http://nosmag.org/mental-age-theory-hurts-people-with-intellectual-disabilities/

3 Comments

  1. Adorei esse texto. Tenho defendido a tese de que mesmo positivando a deficiências intelectual, se continuarmos a alimentar o mito da eterna criança e a compará-los a um fictício mundo a igualdade ou mesmo normalidade, ainda estaremos excluindo e estigmatizaando

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