Representatividade importa

Por Leandra Migotto Certeza *

Desde fevereiro de 2017, a aconchegante Comedoria do SESC Pompéia em São Paulo se transforma mensalmente. Mesinhas redondas de madeira e petiscos são combinados com arte, ativismo e conversas descontraídas sobre direitos humanos e diversidade cultural. Assuntos como visibilidade trans, feminismo e suas pluralidades, universo das masculinidades, a luta das prostitutas por direitos no Brasil, visibilidade gorda, entre outros, são abordados por seus protagonistas com total liberdade!

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Foto: divulgação SESC Pompéia

Com curadoria compartilhada da Gerência de Educação para Sustentabilidade e Cidadania e produção executiva de Elaine Bortolanza, o encontro de junho sobre “Sexualidade e Deficiência” contou com intérpretes da Língua Brasileira de Sinais para pessoas com surdez, plataforma elevatória para possibilitar a acessibilidade de pessoas com deficiência física ao palco, caixas da lanchonete rebaixados, e toaletes sem identificação de masculino e feminino.

Naquela noite sete profissionais com deficiência fizeram história! Contaram a mais de 200 pessoas – realmente interessadas no assunto – que o estigma da infantilidade e da fragilidade imposto pela sociedade à sexualidade das pessoas com deficiência no Brasil e no mundo pode e deve ser eliminado para sempre! E é preciso começar AGORA!

Com ilustrações exclusivas de Dea Lellis, o folheto do Boteco foi escrito por Ana Rita de Paula. Para ela: “em pleno século 21 ainda se fala da pessoa com deficiência como um organismo ‘danificado’, onde a dimensão sexual do seu corpo é encarada como inexistente. E para quebrar este e outros tabus, é preciso desnudar o fato de que as pessoas com deficiência fazem sexo e o fazem vivendo o prazer de infinitas maneiras, apesar das dificuldades sociais de serem escolhidos como parceiros”.  

O cardápio do boteco.

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Foto: arquivo pessoal de Leandra

Em clima um descontraído, o tema da sexualidade foi servido ao público ávido por relatos interessantes e apresentações artísticas surpreendentes. A discotecagem do ambiente foi assumida por MC Billy Saga, rapper, publicitário e presidente da ONG Movimento Superação. A entrada e a sobremesa do ficou a cargo da performer Estela Lapponi e do dançarino Edu O. E o prato principal servido em quatro partes deliciosas.

Para a maioria das pessoas presentes naquela noite, foi a primeira vez que tiveram contato com pessoas com deficiência nuas, tanto no sentidos literal como no metafórico. Ali estavam seres humanos incompletos, diferentes, e ao mesmo tempo cheio de potencialidades e totalmente iguais em direitos! Não eram atletas olímpicos considerados exemplos de superação, ou uma minoria a procura de caridade, como a mídia ainda destaca de forma errada. O estigma do coitadinho ou do super herói foi quebrado ao menos por algumas horas.

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Estela Lapponi e Edu O. Foto: Tassio Lopes

Logo de cara uma polêmica no ar, o Manifesto Anti-Inclusão foi lido: “Eis que chegam ELES, OS únicos, ímpares, inigualáveis, incomparáveis, inimitáveis, singulares, notáveis, indizíveis, inconcebíveis, sui generis, inacreditáveis, incríveis, destacáveis, brilhantes, inimagináveis, extraordinários, insólitos… Em suma excepcionais, especiais! ELES CHEGAM JUNTO E SE MANIFESTAM!”.

Para Estela Lapponi performer internacional que tem como foco de pesquisa o discurso cênico do corpo com deficiência, percebeu nos anos de convivência com a sua deficiência física como este assunto é complexo. “A questão da inclusão é mercadológica e poucas pessoas estão realmente dispostas a fazer algo que mude. Mesmo tendo deficiência, a inclusão não define a minha arte. “A diversidade, ainda não é vista de maneira positiva, pois esbarramos nos paradigmas que temos arraigados. Não estamos acostumados a enxergar a pessoa com deficiência com suas possibilidades de atuação. Fato que deve ser observado sem julgamento, mas com consciência de que temos esta dificuldade, pois este foi o olhar construído historicamente em relação à pessoa com deficiência que os direcionou ao isolamento, ao extermínio social e ao tabu de hoje”, explicou.

Narrativas poéticas e políticas.

Tuca Munhoz e a Gata de Rodas (Ivone de Oliveira) juntaram-se a nós, eu e minha xará Leandrinha para um papo aberto franco e delicioso que rolava após o relato de cada um.  Eu fui a primeira a subir no palco e li o poema “Viva o corpo diverso!” que diz…

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Leandra Migotto Certeza – Fotógrafa: Vera Albuquerque

Sempre fui olhada, ‘esquartejada’, detalhada…
Sempre fui cochichada, fofocada, julgada…
Poucos se aproximavam para me conhecer.
Sempre fui tolhida. Sempre fui quebrada.
Sempre senti dor.

Sempre me senti presa a um corpo infantilizado.
A um meio corpo.
A uma meia ‘criança-menina-mulher’.
A algo indefinido…
Meu corpo sempre foi ‘fraco’, intocável.
Meus desejos sempre estiveram no mais profundo poço do ‘inatingível’.
Pecado tocar. Errado querer. Feio.

Eu nunca pude dizer há que vim.
O que sou.
O que desejo.
O que espero.
O que luto.
O que preciso mostrar.
Hoje quebro. Mas não o corpo.
O que ele realmente é: essa massa una entre alma e carne.
Entre desejo e pudor.
Entre vida e morte.
Entre explosão e dor.
Entre prazer e abrigo.
Entre eu e muitas pessoas que moram em minha alma.

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Leandra Migotto Certeza – Fotógrafa: Vera Albuquerque

O corpo de uma mulher é múltiplo.
É preciso mostrar ao mundo cada pedacinho que pulsa em corpos diferentes.
São bocas em cabeças tortas, pernas grossas e curtas, bumbum arrebitado, coxas arredondadas e cheias de ruguinhas ‘infantis’, púbis ardendo de tesão, seios pequenos em um tronco pequeno demais.

Não há cintura, não há quadril definido.
Não há pernas finas e compridas.
Não há balanço nas cadeiras.
Não há andar sensual.
Não há mini saia que leva ao ‘mistério escuro’.
Não há uma mulher padronizada, robotizada, perfeita!
Não há o esperado.

Há outra possibilidade de ser mulher inteira com todos os sentimentos e sentidos que pulsam do corpo de alguém que sempre foi quem é, mas tinha receio de se assumir.
Amar e ser amada trouxe força a minha alma para conseguir se libertar da sociedade que sempre me tolheu.
Hoje me sinto bem do jeito que sou. Sou diferente sim! Chamo a atenção. Mas quem não é? Quem não chama?

 

Eu não posso engravidar, mas tenho o direito de ser mãe tendo uma deficiência física!
Eu não posso dançar flamenco e tango, mas tenho o direito de me arrepiar quando vejo os corpos se unirem com a alma, a cada passo dos bailarinos.
Eu não posso fazer amor com tanta volúpia, e em posições que sempre sonhei, mas posso ter orgasmos estupendos!
Eu não posso sentir meu corpo mudar, ao abrigar um novo ser em meu ventre, mas posso amar – incondicionalmente – as crianças que habitam o meu coração.
Eu não posso amamentar um bebê quentinho em meus braços, mas tenho muita seiva escorrendo, pelos fios da minha alma, para alimentar espíritos sedentos.

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Leandra Migotto Certeza – Arquivo pessoal.

TODAS as pessoas com deficiência podem ser felizes do jeito que são!

Têm total direito de serem amadas, desejadas, queridas, seduzidas, e principalmente, de se apaixonarem pelos seus corpos.

Têm o total direito de se sentirem confortáveis dentro deles, e exalar felicidade pelos seus poros, como eu estou fazendo agora!

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Leandra Migotto Certeza – Fotógrafa: Carol Vidal

Após a leitura do poema a conversar com o público foi aberta e eu contei um pouco sobre o Projeto Fantasias Caleidoscópicas, que desde 2004, desenvolvo junto com a fotógrafa Vera Albuquerque.

Pessoas com várias deficiências (física, auditiva, visual, intelectual, múltipla, e surdocegueira), sejam elas gestantes, casais homossexuais, heterossexuais e/ou pessoas trans, de todas as etnias, idades, e classes sociais, foram convidadas para mostrar sua sensualidade de forma livre posado em ensaios fotográficos.

A ideia é dizer para uma sociedade ‘anestesiada’ (espera-se que não esteja em coma), com a ditadura da ‘beleza ideal’, dos corpos bem torneados, e das formas esbeltas; que as fantasias, os amores, as paixões, e a sensualidade estão na diversidade de corpos, olhares, perfumes, gestos, cores, formas, tamanhos, palavras, texturas, sons e sentimentos, CALEIDOSCOPICAMENTE HUMANOS.

O objetivo de Vera, como fotógrafa, é questionar o padrão de beleza – instituído pelos meios de comunicação e pela moral dominante – ressaltando a possibilidade de uma democratização do prazer, uma igualdade de direitos sexuais, uma disposição das mentes (e dos corações) contra os juízos prévios e os preconceitos. E o meu, como jornalista, é dar voz às imagens é tão importante quanto o registro fotográfico, pois é interessante conhecer as histórias de vida dessas pessoas, que em sua maioria ainda são pouco ouvidas.

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Leandra Migotto Certeza no palco – Fotógrafa: Carol Vidal

O enfoque do projeto está na arte e na educação como agentes transformadores da realidade, aliados à palavra, como testemunha dos fatos e detentora de um poder de mudança na sociedade. Vamos promover um ciclo de palestras em escolas, ONGs e universidades, uma exposição fotográfica, um documentário e dois livros sobre o tema.

A convite da – MAM – Movimiento Amplio de Mujeres Línea Fundacional e da Associação Internacional para o Estudo da Sexualidade, Cultura e Sociedade, ambas do Peru, as primeiras nove fotos foram expostas em 2007 no “6º Congresso Internacional Prazeres Dês-Organizados – Corpos, Direitos e Culturas em Transformação” em Lima, e conquistaram o segundo lugar na categoria pôster.

Enquanto o projeto acontecia continuei abordando o tema. Fiz uma palestra na Secretaria de Promoção da Cidadania da Prefeitura de São José dos Campos (SP), em 2014, e participei de um ciclo de debates sobre o tema no Centro de Pesquisa e Formação do SESC em 2015.

Também estive na Reatech – Maior Feira de Reabilitação e Inclusão da América Latina e fui entrevistada em áudio pela RFI – Rádio France Internationale em 2015. E em 2016, fui convidada pela sexólogoa Vanessa Monteiro Cesnick para participar do Primeiro Congresso Internacional ON LINE Gratuito sobre Sexualidade para Profissionais de Saúde. Mais de 150 comentários foram publicados nas redes sociais sobre os dois vídeos que gravei para o congresso. E a partir daí eu continuo ampliando cada vez mais o debate!

Por isso, faço um convite a todas as pessoas com deficiência que tenha interesse em participar, e também a quem possa investir na continuidade dele conheçam o blog: http://fantasiascaleidoscopicas.blogspot.com/

Corpo igual, desejo igual.  

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Leandrinha Du Art no palco – Fotógrafa: Carol Vidal

A Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos recebeu 133.061 mil denúncias de violação de direitos humanos no ano de 2016. Em 2015, os dados de orientação sexual e identidade de gênero das vítimas do grupo de pessoas com deficiência somavam 34 vítimas (0,33%) do total de vítimas. Já em 2016, foram 779 vítimas (8%) do total, representando aumento de 2291%, sendo 98% das vítimas declaradas heterossexuais e os 2% divididos entre 16 vítimas gays, 4 pessoas bissexuais, 2 lésbicas e 1 pessoa transexual.

Por isso, a participação de Leandrinha Du Art foi tão importante durante o Boteco da Diversidade. Ela subiu ao palco logo após a minha participação. Ao som de Sua Cara, música de Anitta com Pablo Vittar, Leandrinha lacrou! Depois, a jovem transexual multi-ativista, blogueira, referência na luta LGBTTT e presidente da Associação Reintegrar de Passos no sul de MG, fez questão de descer e bater um papo com a platéia. Olho no olho, espalhando seu perfume e dando selinho para quem quisesse.

Muitas pessoas fizeram perguntas e ouviram suas histórias contadas com um bom humor incrível, Leandrinha fez questão de dizer: “Ainda somos superprotegidos de uma forma ridícula, vetados de conhecer nosso próprio corpo! Nosso papel é mostrar justamente o contrário! Meu corpo faz sexo e precisa de sexo, eu preciso conhecer meu corpo como qualquer outra pessoa dita ‘normal’. Por isso digo a sociedade que eu desejo, eu gozo, faço gozar, eu chupo e quero ser chupada, eu dou e eu como, sem que isso seja considerada a oitava praga do Egito. Sou um corpo igual aos demais, com algumas limitações e só isso”.

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Leandrinha DuArt no meio da plateia. – Foto: Carol Vidal

Leandrinha também nos contou em entrevista exclusiva, que desde quando resolveu criar a página e escrever textos eróticos, reflexões, postar vídeos e levantar debates, bate muito na tecla das pessoas se conhecerem como são. “Eu sei que escrevo para ‘corpos fora dos padrões’, pessoas com deficiência, e mulheres fragilizadas com seu corpo com a estima no chão, ambos inseguros por não agradar o resto do mundo. Durante minhas apresentações artísticas começo falando da minha sexualidade e fazendo reflexões sobre corpo, empoderamento e aceitação em cima do que eu já vivi. E no final, o melhor que acontece é a identificação das pessoas com minha história e um novo ângulo de como ver todas essas adversidade que a vida põe em nossos caminhos”, concluiu.

Confiram o vídeo da apresentação de Leandrinha em vídeo do Facebook:

Leandrinha Du Art no Boteco da Diversidade

“Coletivo “Yes, we fuck”

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Tuca Munhoz – Foto: Carol Vidal

A terceira narrativa política foi de Tuca Munhoz, Ex-secretário adjunto da Secretaria da Pessoa com Deficiência de SP, e atual Assessor do Grupo de Trabalho Acessibilidade São Paulo Transportes. Ele apresentou o coletivo ”Yes, we fuck” (“Sim, nós fodemos!”).

O movimento brasileiro (como em países da Europa, Espanha e Portugal dentre outros), traz à discussão o tema da sexualidade das pessoas com deficiência. Tuca explicou a filosofia do coletivo: “considera-se como princípio que a pessoa com deficiência não é assexuada, mesmo que a causa de sua deficiência atinja a produção dos hormônios ativadores da libido, ou do desempenho sexual. A necessidade do contato físico, do carinho e do prazer é algo inerente ao ser humano”.

Depois convidou todas e todos a participarem dos encontros mensais, onde são trazidos temas referentes às pessoas com deficiência, como: “Sensualidade”; “Aceitação de seu próprio corpo”; “Sexo apoiado”; “Prostituição”; “Devoteeísmo” (interesse por pessoas com deficiência); “Homossexualidade e diversidade de orientação sexual”; “Discriminação quanto ao estereótipo do corpo”; “Reprodução assistida ou não”; “Acesso aos profissionais do sexo”; e “Deficiência e sexualidade não é promiscuidade”.

Diversidade corporal

Nós somos o nosso corpo.

O meu corpo sou eu.

Você me vê porque habito um corpo.

Eu me relaciono com você e com o mundo através do meu corpo.

Se temos direito à diversidade, temos direito de nos expressar através de nossos diferentes corpos.

Ao meu corpo não falta nada,

Não quero retirar nada do meu corpo.

Sou reconhecida, aprovada ou não, pelo meu corpo.

Meu corpo guarda a memória de momentos felizes e encontros não tão felizes.

Meu corpo guarda a nostalgia do que desejo e não posso alcançar.

Meu corpo comemora tudo que consegui atingir.

Meu corpo é sábio e burro ao mesmo tempo.

Eu e meu corpo não queremos e não podemos ser autossuficientes.

Meu corpo pede e anseia pelo seu toque.

Meu corpo teme o seu não e sua agressão.

Nossos corpos foram considerados máquinas, naturalmente ajustadas como relógios.

Descobriram o fluxo do sangue e o funcionamento orgânico dos nossos corpos.

Hoje, nossos corpos são integrados e integram partes mecânicas e eletrônicas.

Nossos corpos, hoje, rompem a barreira do humano e do cibernético,

Experimentando uma nova estética.

No entanto, é mais do que necessário, hoje, adotarmos uma nova ética

Para nos relacionarmos com nossos corpos e com o corpo do Outro.

Essa ética deve buscar algo para além da perfeição e da eugenia.

Essa ética deve buscar reconhecer e valorizar a beleza que reside na diversidade.

Vivemos na pós-modernidade.

Estamos abandonando regras fixas, parâmetros indiscutíveis e teorias que desejam explicar tudo.

Estamos perdendo um chão falsamente construído e nos lançando em incógnitas infinitas.

Assim, é natural e desejável que abandonemos a ideia do Homem Vitruviano,

Do ideal do homem proporcionalmente construído e controlado.

Há diversos corpos buscando reconhecimento,

Há diversos corpos buscando dignidade,

Há diversos corpos buscando o direito ao prazer.

A energia poderosa da vida, também chamada sexualidade,

Possui a capacidade de romper barreiras, de proporcionar encontros inusitados,

Gerar novos corpos que também tem o direito ao prazer e à diversão.

E o direito à diversexualidade!

O texto escrito por Ana Rita de Paula junto com membros do Coletivo representa bem os principais objetivos do movimento formado em sua maioria por pessoas com deficiência é:

  • Mostrar à sociedade que a sexualidade é inerente à condição do ser humano e, não está diminuída na presença de diversidades funcionais (e/ou deficiências), que somos e temos necessidades e desejos como qualquer pessoa;
  • Garantir por meio de políticas públicas inclusivas os direitos sexuais e reprodutivos às pessoas com deficiência, incluindo o sexo apoiado ou não;
  • Garantir que toda pessoa com diversidade funcional (e/ou deficiência) tenha sua sexualidade reconhecida e passível de ser praticada;
  • Conscientizar a sociedade de que temos direito ao sexo tanto quanto ao trabalho, à saúde, reabilitação ou à acessibilidade;
  • É necessário instrumentalizar cuidadores e profissionais do sexo, em processos de capacitação, para que possam suprir essa necessidade em casos de deficiência severa;
  • Desconstruir mitos e crenças errôneas das demais pessoas quanto ao corpo das pessoas com deficiência. Sensibilizar e informar para que o preconceito seja minimizado. Todos os seres humanos são capazes de dar e receber prazer;
  • Promover workshops, utilizar as mais diversas mídias sobre o tema diversidade funcional (e/ou deficiência) e sexualidade.

Faça parte do Coletivo:

https://www.facebook.com/We-Fuck-Brasil-1786974841573199/

Gata de Rodas

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Ivone e Leandra – Foto: arquivo pessoal

O último depoimento do Boteco da Diversidade foi o de Ivone despertou olhares e abriu seu coração em um bate papo franco. Super bem resolvida hoje em relação a sua auto-estima, contou que nem sempre foi assim: “Durante muito tempo sofri a opressão familiar e da sociedade por achar que eu por ter uma deficiência física e usar uma cadeira de rodas, não podia muitas coisas: namorar, casar não ter uma vida social igual a todo mundo. Chegou a um ponto que precisei dar um basta! Minha família ficou chocada quando disse que não era mais virgem e que namorava”.

Ivone de Oliveira, hoje é conhecida como a Gata de Rodas. Graduada em Ciências Contábeis é musa do Bloco carnavalesco de rua “Do Fico” em SP, e militante e ativista pela causa das pessoas com deficiência e diversidade sexual.

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Ivone de Oliveira – Foto: Tássio Lopes

Ivone criou um site e um blog e levou a inclusão da pessoa com deficiência para a maior Parada LGBT de São Paulo em 2017. E em parceria com página Menino Gay está na 2º Edição do Piquenique LGBT das pessoas com deficiência.

Em entrevista também exclusiva, Ivone explica que a sociedade ainda encara as pessoas com deficiências como se fosse uns eternos bebês e crianças. “Esquecem que crescemos e viramos adultos. Eu com 48 anos ainda sou tratada na rua como uma criança, costumam não fazer perguntas direcionadas a mim e sim para que está me acompanhando. Eu como ativista estou fazendo a minha parte quebrando preconceitos e tabus. Nós precisamos de respeito e entender que temos autonomia e poder de decisão”, comentou.

 

Corpos ‘perturbadores’ e ‘intrusos’?

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Estela e Edu O. – Foto: Tassio Lopes

Para fechar com chave de outro e já com gostinho de quero mais, a sobremesa do Boteco foi um mix do “O Corpo Perturbador” de Edu O. com o “Corpo Intruso” de Estela Laponi. Juntos no palo fizeram a platéia tremer.

Para Estela o termo corpo intruso surgiu quando ela morou por 6 meses em uma pequena cidade na Região de Marche na Itália em 2009. “Tal experiência abriu meus olhos para o que significa ser imigrante e consequentemente me fez pensar sobre: fora de contexto, não convidado em choque cultural. Corpo Intruso tem a ver, mas não se trata somente disso!, com a minha deficiência física – hemiparesia esquerda (pouco controle motor do lado esquerdo do corpo) – causada pelo rompimento de um aneurisma, ocorrida em 1997”, concluiu.

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Foto: Tassio Lopes

Já para Edu O., mestre em dança pela Escola de Dança da UFBA, é importante ter uma abordagem diferenciada sobre o corpo que é considerado incapaz, não-belo, perturbador: o corpo com deficiência, ‘fora dos padrões’ do pensamento hegemônico. “Numa sociedade imensamente erotizada, acredita-se ser pertinente instigar uma outra reflexão sobre o assunto, abordando, a partir dos devotees, a sexualidade neste corpo, assim como as relações de poder intrínsecas nas relações afetivas, sociais, políticas, culturais e religiosas que envolvem as pessoas com deficiência”, comentou.

Conheça os protagonistas do Boteco da Diversidade:

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Leandra Migotto Certeza

* Leandra Migotto Certeza é comunicadora pela Universidade Anhembi Morumbi, jornalista desde 1998 com ampla e premiada experiência em inclusão. Trabalha como consultora e palestrante em empresas, ONGs e escolas. É estudante de Jornalismo Literário e Escrita Criativa e escreve poemas desde os 9 anos. Lançará o selo Caleidoscópio de biografias sobre pessoas com deficiência, e começará pela Coleção Janelas contando a sua trajetória profissional. Assina a coluna “Bate papo” no portal http://www.sembarreiras.jor.br/, mantêm 2 blogs e participa do Coletivo Mulheres pela Inclusão. Para saber mais sobre ela: http://leandramigottocerteza.blogspot.com/

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