“Não podemos romantizar qualquer ato de violência”, Carol Santos

print da repostagem foto de carol e foto de carol com filhos.

Entrevista – Carol Santos, coordenadora do Movimento Feminista Inclusivass e membra da Frente Nacional das Mulheres com Deficiência.

CAROL TINHA 18 ANOS QUANDO SEU EX-NAMORADO CHEGOU A SUA CASA, APONTOU-LHE A ARMA E DISSE QUE IRIA MATÁ-LA. CAROL CORREU.

A ARMA DISPAROU, CAROL CAIU E DEIXOU DE SENTIR AS PERNAS NAQUELE MOMENTO.

O AGRESSOR DIRIGIU SUA ATENÇÃO PARA MARCELO, AQUELE QUE ERA ENTÃO O COMPANHEIRO DE CAROL, E MATOU-O COM DOIS TIROS.

ATO CONTÍNUO, SUICIDOU-SE.

VINTE E UM ANOS DEPOIS DAQUELE TRÁGICO DOMINGO, CAROL SANTOS É FUNDADORA E UMA DAS COORDENADORAS DO MOVIMENTO FEMINISTA INCLUSIVASS, DE PORTO ALEGRE, E BATALHA PELOS DIREITOS DAS MULHERES COM DEFICIÊNCIA E CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO.

ANTES, MUNIU-SE DE CORAGEM PARA ENCARAR A RUA EM CADEIRA DE RODAS. VOLTOU A ESTUDAR, CONSTRUIU UMA NOVA VIDA, ENCONTROU OUTRO COMPANHEIRO, ENFRENTOU DUAS GRAVIDEZ DE ALTO RISCO, TEVE O FILHO ROBERTH, COM 8 ANOS, E HANNA, QUE COMPLETOU 1 ANO.

REDESCOBRIU-SE ATIVISTA E CONVERTEU-SE EM TEMA DE FILME – CAROL, DE MIRELA KRUEL – ONDE REPETE, NA CADEIRA DE RODAS, A COREOGRAFIA DE FLASHDANCE, SUA MÚSICA PREFERIDA QUANDO MENINA.

ELA DEIXA UM AVISO ÀS MULHERES:

NÃO ROMANTIZEM A VIOLÊNCIA

E NÃO VEJAM CUIDADO NAQUILO QUE É POSSESSÃO.

AYRTON CENTENO
PORTO ALEGRE / RS
BRASIL DE FATO

BdF RS – Do ponto de vista de uma mulher que sofreu violência extrema, o que as mulheres ainda não entenderam sobre violência doméstica e precisam aprender logo para continuar vivendo?

Carol Santos – Desconstruir um papel social ancorado no patriarcado e no machismo ainda é um desafio que coloca as mulheres em relacionamentos abusivos e a se manterem neles. Sair da vergonha e da culpa para romper o ciclo da violência são os primeiros passos. A vítima nunca não é culpada. Somente a educação com igualdade mudará está realidade. Somos educadas para aceitar viver sob a violência. Difícil romper com preceitos religiosos, sociais e políticos.

BdF RS – Pesquisa feita pelo Forum Brasileiro de Segurança Pública, indica que somente 26% das mulheres denunciaram à polícia as agressões sofridas do companheiro durante a pandemia. Das restantes, 32,8% não registraram ocorrência afirmando ter resolvido sozinhas os conflitos, 16,8% julgaram não ser importante noticiar à polícia, 15,3% não quiseram envolver a polícia e 13,4% tiveram medo de represálias por parte do autor da violência. Estes números não te desanimam?

Carol – A falta de políticas de enfrentamento coloca a vida das mulheres em risco neste período de isolamento. Há falta de redes efetivas, casas abrigos e estruturas de acessibilidade que protejam a vida das mulheres. Para mim, é desanimador o período político em que nossas vidas não são prioridade desses governos.

A PANDEMIA TEM GÊNERO E TEM ATINGIDO AS MULHERES

BdF RS – De acordo com o mesmo levantamento do Fórum, uma em cada quatro mulheres brasileiras acima de 16 anos – ou seja, 17 milhões – afirmam ter sofrido alguma forma de violência durante a pandemia…

Carol – Esse aumento se dá por conta das mulheres estarem vivendo em isolamento mais tempo com seus agressores. A pandemia tem gênero e tem atingido as mulheres. Muitas mulheres com deficiência estão o tempo todo ao lado de seus agressores sendo impedidas de buscarem ajuda ou saírem de casa.

EU VIA OS CIÚMES COMO CUIDADO

BdF RS – Muitas mulheres percebem a violência apenas como a violência física do seu companheiro. Mas na lei Maria da Penha estão previstos mais quatro tipos de violência além da física, as de ordem psicológica, moral, sexual e patrimonial. O que se poderia dizer sobre estas violências menos letais mas também importantes?

Carol – A relação que vivi nunca teve a agressão. A possessão e os ciúmes eu via como cuidado. Este cenário marca a vida das mulheres: achar que estão sendo cuidadas ou que aquela atitude aconteceu só uma vez. E que o agressor vai mudar. Qualquer ato que cause dano físico ou psicológico é violência. Não podemos romantizar qualquer ato de violência. Precisamos romper relacionamentos que nos trazem danos irreversíveis ou até a morte. Mulheres, busquem por ajuda e denunciem. Eu continuarei lutando por todas nós.

Descrição da imagem: print da reportagem, com foto de mulher e foto de mulher com menina e menino.

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/

 

 

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