Nos passos de Chaplin

Liana Aguiar

Edson Franco Gomes, 68, sempre gostou dos filmes de Charlie Chaplin quando menino. Percebeu que na era do cinema mudo os personagens do famoso ator não precisavam ouvir ou falar, faziam-se entender por mímicas. O menino de Baliza (a 415 km de Goiânia) queria estudar como os cinco irmãos. Aos 10 anos, foi para uma escola especial. Já no corredor da instituição descobriu outras crianças surdas como ele e ficou feliz. Foi alfabetizado em Português e aprendeu a língua brasileira dos sinais (Libras) e, quando cresceu, decidiu ensinar outras pessoas a se comunicarem. Edson foi o primeiro instrutor de surdos do Estado de Goiás e fundou uma escola em Goiânia, o Sistema Educacional Chaplin.

Na sede da escola que ele dirige com dedicação, no Setor Vila Nova, Edson conversou com a reportagem, com o auxílio da intérprete Lucimar Alves de Oliveira. Quando veio para Goiânia, nos anos 60, trabalhou como professor de Libras em uma escola especial. Também ministrou aula para ouvintes, deficientes mentais e pessoas com síndrome de Down. Edson também gosta de pintar. Ilustrou uma série de livros publicados pela Editora UCG de literatura infantil, onde incluiu a linguagem dos sinais. São clássicos como O Patinho Feio, Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida. Edson também é um dos fundadores da Associação dos Surdos, em 1975.

Se não fosse professor, aliás, Edson gostaria de ter seguido a carreira de pintor. Mas este é um sonho que ele ainda guarda, para quando deixar de dar aulas. Casado com uma também deficiente auditiva, com quem teve dois filhos e cinco netos, ensinou a cada ente a linguagem dos sinais.

Quando criança, Edson lembra que sentia preconceito no olhar de zombaria das pessoas. “As pessoas me diziam que eu não tinha capacidade de aprender”, recorda. Na adolescência, tentou falar e ouvir, e sofreu muito por não conseguir. Mas conta que isso já diminuiu bastante, porque os deficientes auditivos hoje não têm tanta vergonha de conversar por gestos nas ruas. Edson revela que se sente um vitorioso. “Porque ajudei muitos surdos a buscarem seus sonhos”, comenta. Para ele, um dos maiores desafios que o surdo encontra é ainda precisar de intérpretes em algumas situações corriqueiras. Uma realidade que tem mudado.

COMUNICAÇÃO AINDA É BARREIRA

A principal dificuldade dos deficientes auditivos no ambiente de trabalho é a comunicação, que vai requerer da empresa treinamento para os colegas e a chefia. Mesmo assim, os surdos são proporcionalmente os que mais trabalham entre as pessoas com deficiência: são 61,4% no mercado de trabalho, sendo que 72,9% trabalham formalmente. Entre os surdos que trabalham, 59,6% não são aposentados, segundo o estudo “População com Deficiência no Brasil – Fatos e Percepções”, publicado em 2006 pela Federação Brasileira de Bancos (Fenabran).

A auditiva representa 8,2% do total de deficiências, segundo o Censo 2000. Os surdos também apresentam bons índices na inclusão digital – são os que mais possuem computador, 39,8%, e 68,2% têm acesso ao computador. Além da docência em Libras, o mercado de trabalho tem aberto mais oportunidades às pessoas com deficiência auditiva.

A Associação dos Surdos de Goiânia, por exemplo, oferece cursos profissionalizantes como costura, informática, marcenaria, serigrafia e capacitação para intérprete.

O curso de Libras segue como carro-chefe da entidade e tem quatro turmas gratuitas. A procura é enorme, tanto que as vagas para este ano já foram preenchidas. Lá, as assistentes sociais fazem o encaminhamento de surdos para o mercado de trabalho.

Meranda Assunção Silva, diretora do Centro de Capacitação de Profissional da Educação e de atendimento às pessoas com surdez (CAS), ligada à Secretaria Estadual de Educação, explica que os órgãos que oferecem serviços públicos são obrigados por lei a prestar atendimento adequado a pessoas surdas, mas que poucas conhecem esse direito.

Geralmente procuram alguém conhecido para acompanhá-las. Ela lamenta que o Estado ainda não tenha uma associação de intérpretes, que irá atuar nesta frente.

Nos cursos oferecidos pelo CAS a procura também é grande. Foi preciso realizar sorteio para o preenchimento de 190 vagas. Mas as pessoas que têm surdo na família têm prioridade. Geralmente, muitos alunos vão ao centro por encaminhamento das escolas para o atendimento pedagógico.

Para Meranda, a inclusão de surdos no mercado de trabalho tem melhorado. “Víamos o surdo trabalhar somente como empacotador de supermercado, ou na faxina, hoje já temos muitos que trabalham em bancos, que já têm uma formação, buscado qualificação. Mas essas mudanças acontecem bem devagar”, opina.

Meranda explica que o desafio dos surdos é o mesmo dos ouvintes, ter formação. Conta que antes a maioria dos surdos se contentava com o assistencialismo. Segunda ela, essa nova geração não pensa assim: quer trabalhar e ser cidadão.

Fonte: http://www.hojenoticia.com.br/editoria_materia.php?id=22614

10 Comments

  1. Tambem aprendi libras com o professor Edson, ele e um exemplo de pessoa.
    Com um caracter, e uma forma maravilhosa de conduzir a vida um exemplo para os surdos e principalmente para os ouvintes.
    Um grande abraço.

  2. Eu fiz um curso de inclusão e gostaria de saber quando os certificados sera liberados.E tambem quando tera seminari ou simpósio referente ao curso de inclusão isso mais rapido possivel?

  3. gostei muito dos comentarios e acho otimo a iniciacao desse projeto muito bonito que e mais um argumento para o fim da discriminacao aos surdos e mudos,pois nos todos temos capacidade de estudar e realizar seus sonhos, bom e é isso vcs estao de Parabens por esse projeto que hoje tanto ajuda o brasileiro.

  4. Conheco o professor Edson e o curso Chaplin em Goiânia, lá possui otimos professores, voces estao de parabens pelo trabalho que realizam, fiz varios cursos ai e que me ajudaram muito para a minha formaçao profissional. Parabens!!!

  5. Parabéns a todos do curso Chaplin!!! Eu fiz o curso ai, e estou com muita saudades de todos.Vocês são maravilhosos.
    Um abraço a todos…

  6. estou fazendo o curso de libras estou passando p/ o nivel 4 estou amando os professores tambem quero parabenizar por ter uma equipe disposta e atenciosa beijos p/ Luiz ,Pricilla e Antonio.sou de Mambai meu nome Luciana e me divirto muito em cada nivel a equipe de vcs e nota 1000 beijooosss!

  7. ola! Eu, estou no 3° ano de pedagogia e cada dia que passo me apaixono pelos portadores de necessidades especiais, porém em minha cidade não tem uma escola especializada em libras. Como eu tenho família em Goiania, gostaria de saber quais são os procedimentos para ingressar no curso de libras. Pois a uma carência muito grande de interprete, em Conceição do Araguaia-PÁ. Já fiz alguns cursos extras de pratica de libras, mas preciso melhorar e me informaram que esta escola é a melhor que existe, aguardo ansiosa sua resposta. beijos

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