Dez anos da LBI: e o direito à vida em tempos de crise climática?

No último 6 de julho, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) completou 10 anos. Reconhecida como uma das legislações mais avançadas do mundo no campo dos direitos humanos, a LBI garante o direito à autonomia, à dignidade e à vida plena para milhões de brasileiros com deficiência.

Reuters/EBC/Diego Vara – Imagem aérea da enchente de 2024 no Rio Grande do Sul

Mas em meio às enchentes no Sul, às secas prolongadas no Norte, às ondas de calor que atingem diversas cidades e à frequência crescente de eventos climáticos extremos, é preciso revisitar um artigo específico da LBI que segue invisibilizado:

Art. 10 – Compete ao poder público garantir a dignidade da pessoa com deficiência ao longo de toda a vida. Parágrafo único – Em situações de risco, emergência ou estado de calamidade pública, a pessoa com deficiência será considerada vulnerável, devendo o poder público adotar medidas para sua proteção e segurança.

Com base nesse artigo da LBI, será mesmo que as equipes estão preparadas para o resgate dessas pessoas com a dignidade que elas merecem? Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, equipes de saúde sabem como agir em eventos extremos? Até onde sabemos, não. E é por isso que o Projeto Resgate Inclusivo foi criado. Estamos aqui para ajudar a transformar esse cenário, oferecendo treinamentos que apoiem essas equipes para um resgate digno, com acessibilidade e todo o cuidado que a lei garante às pessoas com deficiência.

A realidade, infelizmente, é outra. Em situações de desastre, quando a pessoa com deficiência é resgatada, isso raramente ocorre com acessibilidade, dignidade ou preparo técnico. Muitas vezes, ela é esquecida nos abrigos, negligenciada nas rotas de fuga, ignorada nos planos de contingência e invisível nas estatísticas oficiais. Em muitos casos, sequer consegue sair de casa — seja pela falta de recursos acessíveis, seja pela ausência de informações em formatos adequados.

É por isso que o projeto Resgate Inclusivo, idealizado pelo Instituto Amankay, propõe um novo olhar: pensar a prevenção, o resgate e a reconstrução a partir de uma perspectiva inclusiva. A proposta une justiça social, acessibilidade, direitos humanos e justiça climática.

Como diz o projeto:

“Em contextos de crise, ninguém pode ser deixado para trás — e a acessibilidade precisa ser parte central da resposta.”

Dados do Senado Federal e do Jornal da USP mostram que o número de municípios vulneráveis dobrou com o aumento do risco de catástrofes. Ao mesmo tempo, o Censo de 2022 falhou em captar a real dimensão da população com deficiência, comprometendo a formulação de políticas públicas adequadas.

O Brasil precisa urgentemente integrar a acessibilidade nas políticas de gestão de risco e adaptação climática. A LBI já prevê esse direito. Falta torná-lo realidade.

Falar sobre o Art. 10 da LBI é falar sobre sobrevivência. É falar sobre vida com dignidade para todas as pessoas inclusive em situações extremas.

Por Ciça Cordeiro, do Projeto Resgate Inclusivo

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