
Desde que minha filha, Amanda, nasceu com síndrome de Down há 20 anos, busco informações que favoreçam seu desenvolvimento. Há muito tempo ouvia falar do Delá Pracá e sabia que o projeto havia sido gestado por colaboradoras do Carpe Diem, associação maravilhosa de São Paulo que, infelizmente, não existe mais.

Este ano planejei nossas férias para que Amanda pudesse experienciar duas semanas de vivências na Casa do Delá Pracá. Aproveitei para conversar com a psicóloga Analice Jardim e a pedagoga Rose Ferraro e saber mais sobre sua trajetória.

Saí de lá convencida de que precisamos ter iniciativas como esta em cada cidade do Brasil.
Analice Jardim e Rose Ferraro se conheceram há mais de 40 anos no CEDE, Centro da Dinâmica do Ensino, escola para pessoas com síndrome de Down, em São Paulo. Depois, se reencontraram no Carpe Diem. Lá surgiu a ideia de oportunizar vivências mais profundas, para além da educação inclusiva e do emprego apoiado, que promovessem a construção de relações e da autonomia das pessoas com deficiência intelectual.

Elas aprenderam que colocar expectativas muito altas ou muito baixas nas pessoas, atrapalhava o seu desenvolvimento. Exigências demais, sem considerar o tempo de aprendizagem de cada um, assim como a baixa expectativa, que prejudica a autoconfiança, podem impedir a pessoa de fazer escolhas acertadas ou levar a perder o interesse em seguir construindo sua própria autonomia.
No livro “Delá Pracá – um jeito inovador de viver com autonomia”, elas explicam que ser autônomo é mais que andar sozinho na rua. A autonomia é resultado de circuitos neurais e de habilidades desenvolvidas no decorrer do tempo. Quanto mais cedo e maior for o investimento em tempo, dedicação e frequência, maior autonomia a pessoa terá. Cada projeto de vida precisa ser centrado em cada pessoa, de acordo com suas vontades, habilidades e necessidades, dentro do contexto em que vive.

Ao longo dos mais de 20 anos do Delá Pracá, várias atividades foram desenvolvidas. Os grupos são sempre pequenos para oportunizar a formação de amizades e a mediação individualizada. Organizam saídas culturais, atividades de lazer, intercâmbios, tudo apenas com o apoio necessário, oportunizando experiências inclusivas fora da casa, além de atividades que ajudam a promover a independência e estreitar laços com outras pessoas na casa. Além disso, oferecem hospedagem para os jovens e adultos com deficiência intelectual que moram em São Paulo e para quem não mora
Analice e Rose fazem consultorias e formações para projetos de fora interessados em promover atividades em outros locais.
Foi um grande prazer conhecer a Casa do Delá Pracá. As famílias são muito importantes, mas é fundamental que pessoas com deficiência construam seu próprio autoconhecimento e identidade, suas relações e rede de apoio, desenvolvam suas habilidades, façam suas escolhas e sigam seus caminhos.
https://www.vivenciasdelapraca.com
@vivencias.delapraca