Quem vai levar Pedro para escola?

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Conheci d. Madalena num parque, enquanto as crianças brincavam sentei ao seu lado e começamos a conversar, percebi que um dos filhos dela o Pedro de 5 anos tinha síndrome de down perguntei sobre ele e ela começou a me contar que ele era seu terceiro filho, que ela era diarista e o marido trabalhava como servente de pedreiro, mas não tinha emprego fixo, que sofrera muito quando Pedro nasceu, porque ele tinha cardiopatia congênita e refluxo, passou uns bons bocados nos hospitais, brigou muito para conseguir as cirurgias e que finalmente havia conseguido e estava feliz agora porque não precisava mais passar meses internada com ele, que após as cirurgias as pneumonias cessaram e Pedro aprendeu a andar.
Enquanto as crianças brincavam, Pedro sentado no chão, ria muito e tentava pegar umas pedrinhas, percebi que ele não enxergava direito, indaguei sobre isso e dona Madalena me confirmou que realmente ele enxergava pouco e que ainda tinha problemas neurológicos controlados com medicação que ela conseguia do governo, e que quando faltava nos postos de saúde ele ainda tinha crises.
Curiosa, indaguei se ele já ia a escola, ela me disse que ele frequentava uma instituição e que a pedido da equipe que cuidava dele ela não deveria matrícula-lo numa escola, porque ele não estava preparado para ir. Perguntei o que ela achava disso, ela me disse que concordava porque Pedro dava muito trabalho e que as outras crianças iriam rir dele, ele ainda usava fraldas
e que ela achava que era perda de tempo porque ele não iria aprender mesmo.
Pensei um pouco e lhe perguntei se Pedro já nascera andando, a mulher na sua simplicidade me olhou como quem diz ” essa mulher é louca”, mesmo assim me respondeu, disse que ele só conseguira andar depois de muita fisioterapia, olhei para ela e falei” pois é, ele aprendeu andar, e ele pode muitas outras coisas, basta lhe darem uma chance.” D. Madalena se resumiu a me dar um sorriso morno seguido de um suspiro como quem diz: ” não é tão simples assim.”
Não sou tão ingênua, sei que não é tão simples assim, não por causa das deficiências do Pedro, mas pelo meio em que ele está inserido, ninguém acredita nele, mas percebo que cada dia ele está aprendendo e nas conversas com d. Madalena ( ele já é minha amiga) procuro sempre frisar isso, quero que ela reconheça que o Pedro tem e está em condições de aprender.
Fico triste com algumas instituições, mudaram o discurso inicial em que a escola não está preparada para fulano, e agora dizem que fulano não está preparado para a escola, não gosto de nenhum dos dois, mas acho que o primeiro ainda faz mais sentido, e acho que se não estão preparadas, que se preparem, elas tem o dever de atender TODAS as pessoas.
Não procuro culpados, mas gostaria de isentar Pedro disso, ele não é o responsável pela sociedade que está aí formada de gente preconceituosa, nem pela educação que anda aos trancos e barrancos . Ele tem todo direito de estar na escola, ele tem todo direito de estar entre nós, e nós o dever de respeitá-lo nas suas diferenças.
Também fico pensando nas outras crianças que vão à escola, muitas gostariam de conhecer Pedro com seu sorriso maravilhoso e sua cara de sapeca, quantas brincadeiras fariam juntos e quanto aprendizado eles teriam.
Mas me incomoda muito essa situação, tanto que acordei às 2:00 da manhã pensando no Pedro, na minha incapacidade em resolver essa situação com rapidez, no conhecimento que tenho e que a mãe dele não teve, nos “especialistas” que estudam tanto apenas para dizer que Pedro não tem o direito de ir à escola…
Da última vez que conversei com d. Madalena, insisti novamente sobre o Pedro ir à escola e ela me respondeu com tristeza:
-Minha filha, vamos ver o que Deus vai providenciar para nós!
Preciso encontrar d. Madalena novamente e lhe dizer que Deus já providenciou essa inclusão no momento em que lhe deu o direito de estar nesse mundo, e que agora o trabalho de vencer preconceitos e teorias infundadas é nosso, e que alguém precisa levá-lo a escola.
Espero que dessa vez ela me ouça…, e se não me ouvir, continuarei insistindo…, afinal, alguém precisa levar Pedro para escola!

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