Por Edson Cadette, em Impressões de NY
Queens, Nova York
“Nego quando não caga na entrada, caga na saída” – ditado popular.
“Eu já mandei ela se lavar. Mas ela teimou e não quis me escutar. Essa nega Fede! Fede de lascar. Bicha fedorenta fede mais do que gambá. Veja, veja os cabelos dela! Parece bombril de ariar panela”. – Palhaço Tiririca, 1996.
“Eles não conseguem aprender, são preguiçosos e desistem rapidamente. Eles são querem saber de samba e futebol. Está no sangue”. – professora no Sul do Brasil sobre os alunos negros. – Racismo à Brasileira – 2003
O sociólogo Edward Telles morou no Brasil por vários anos. Ele faz parte de um grupo de “brazilianistas” norte-americanos que inclui Carl Degler, George Reid Andrew e Thomas E. Skidmore, entre outros. Esta turma sempre esteve fascinada com a cultura brasileira, onde, certamente, incluiria aí a atração pela nossa conhecida “leve e solta” atmosfera, em contradição com o rígido protestantismo dos EUA, de onde saíram. Contudo, a área que mais chama a atenção destes “brazilianistas”é a da relação entre negros e brancos e também o mito da democracia racial brasileira.
O livro Racismo à Brasileira, publicado há mais de seis anos pelo professor Telles, da Universidade da Califórnia (UCLA), é uma bofetada na cara do pessoal que vive nas coberturas país afora. Tal qual um médico dissecando um corpo à procura de sua causa mortis, o senhor Telles disseca a nossa cultura e explica detalhadamente como o racismo brasileiro está enraizado em todas as áreas da cultura nacional, e como não só afeta a vida diária de milhões de afro-brasileiros, mas é, sem dúvida, a condição sine qua non para explicar a permanência destes na base da pirâmide social.
Ele mostra também como o país se recusa a enxergar o racismo mesmo diante de tantas provas irrefutáveis em contrário. Percebemos na leitura do livro o olhar detalhista do professor. Usando dados estatísticos, gráficos, ampla referência bibliográfica e exemplos do comportamento preconceituoso do brasileiro em geral, mas principalmente em relação aos negros, Racismo à Brasileira provavelmente crava a última estaca no coração da nossa suposta cordialidade racial.

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