Por Sergio Santeiro, de Niterói
Zana, meu nome é Zana, Suzana Zana. Su … Zana. Eu me apresento porque eu não sou conhecida, vocês não me conhecem e eu também não conheço vocês.
Mas estamos aqui, todos juntos, respirando o mesmo ar sujo de poeiras, gases e fumaças das cidades, dos campos, das matas, das geleiras e do céu.
E o barulho, os barulhos das máquinas, o vozerio, as campainhas, tudo nos faz ficar indiferentes:
– A indiferença é o preço da sobrevivência! E sobreviver acima de tudo é o que é preciso.
Aprendemos desde pequenos, não anda pelos caminhos, anda na tua, não te metas no alheio, fica na tua, seja indiferente…aos diferentes.
Indiferentes ao que vemos e ao que somos? E essa gente abandonada pelas ruas é para nós um estorvo? Nem são tantas, mas parece que a cada esquina sempre tem umas a desafiar a indiferença da nossa sobrevivência, mas permanecemos indiferentes.
Até olhamos com desprezo, chegamos a rir da desgraça alheia, não pensamos que pode acontecer a qualquer um de nós, ninguém está livre da decadência. Eu não, passa fora, vira essa boca pra lá!
Representamos uns para os outros e para nós mesmos. Somos atores naturais, encenamos o que achamos que é o melhor de nós mesmos, nem sempre somos, nem sempre é.
E desfilamos rua afora de casa para o trabalho, para o trabalho, para casa empenhados em garantir nem o futuro, mas o presente para si e para os seus. Ninguém vive no futuro, né, nem no passado! O dia que passou devemos comemorar, o dia que virá, bem, ninguém sabe o que virá.
Mas nada no caminho pode nos descaminhar. De que servem os caminhos se não pudermos caminhá-los? Acordo de manhã e saio a procura do que fazer. Nunca é fácil. Uma trombada aqui, outra trombada ali, temos que ir passando, e conosco a vida passa.
Às vezes a gente até tenta consertar os erros, os erros que a gente faz. Melhor não, um remendo, outro remendo, de tanto remendo, a costura nem segura. Melhor deixar os furos, os furinhos, pensa só que é como um céu estrelado. As estrelas da noite acabam servindo de consolo pros pobres.
Nessa imensidão, nesse mundão de deus, não terá lugar pra uns furinhos que nem nós? Em que uns furinhos podem atrapalhar a vida das pessoas? Se não atrapalha, deixa estar, um dia o pano junta se preciso e fica tudo bem.
Bem, desculpe, eu tenho que ir… fazer a sopa e botar os meninos pra dormir. Não, não é preciso… Bom, já que insiste, duas moedas de 1, é o que me ajuda. Eu estava mesmo só de passagem.
FIM
13/12/2009
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Fonte: ViaPolítica/O autor