Há dois anos está em andamento o Projeto Itaim-Curuçá: Educação como Desenvolvimento Local, sob a responsabilidade de uma coalizão de órgãos públicos e organizações da sociedade civil, em São Paulo. Em 12 de dezembro, foi organizado o primeiro seminário do projeto, para mobilizar as pessoas envolvidas e definir ações prioritárias para 2010.
Maria Cláudia Vieira Fernandes, diretora da escola da rede municipal de São Paulo, Armando Cridey Righetti, participou do encontro. Em entrevista ao Observatório da Educação, ela faz uma avaliação do projeto e fala sobre o papel da escola na relação entre educação e desenvolvimento local. Maria Cláudia também aborda o problema vivido pela comunidade com as enchentes no início do mês, que atingiram severamente bairros da zona leste da capital paulista. Algumas famílias se abrigaram na escola.
Observatório da Educação – Qual é a sua avaliação do seminário? – O seminário foi o resultado de um processo que estamos discutindo há dois anos, envolvendo agentes locais na região do Itaim-Curuçá. No último encontro a ideia era reunir as pessoas que vão responder por este projeto, e também de nos organizarmos para que os assuntos e temas sejam discutidos com mais gente além dos educadores dessas escolas e que possa estar na pauta das escolas em 2010.
Maria Cláudia Vieira Fernandes
OE – E qual é o papel da escola nessa relação entre educação e desenvolvimento local? – É um processo de formação e envolvimento do corpo docente, dos profissionais e da comunidade mais próxima da escola, aqueles que participam dos conselhos, por exemplo, numa discussão de que para conseguirmos resultados na educação precisamos ampliar a visão de educação. Não é só sala de aula e conteúdos programados, mas precisamos pautar como conteúdo aquilo que as pessoas vivem e precisam na comunidade. A importância principal é isso, compreender como a comunidade se organiza economicamente e poder, com esse conhecimento, mobilizar para trazer iniciativas que possam favorecer o desenvolvimento da comunidade.
Maria Cláudia
OE – E qual é o estágio atual desse debate especificamente na EMEF Armando Cridey Righetti? – Esse projeto já foi discutido em conselho de escola, já tem uma participação dos pais e está incipiente. Prova disso é que, com o processo de enchente, alguns pais e alunos se abrigaram na escola e isso não trouxe nenhum estranhamento ou contratempo entre equipe da escola e comunidade abrigada.
Maria Cláudia
OE – Atribui isso ao fato de já haver uma relação entre escola e comunidade mais estreita? – Exatamente, e um processo de amadurecimento dessa discussão na equipe da escola.
Maria Cláudia
OE – E o que estão vivenciando em relação às enchentes?
Maria Cláudia – Houve uma manifestação em 13 de dezembro, com a participação de cerca de 200 pessoas, entre lideranças e pessoas que estão abrigadas na escola. Eles permanecem na escola [a entrevista foi concedida em 16/12], esperando as águas baixarem. Mas há uma discussão relacionada à Via Parque Tietê, anunciada pelo governo sem interlocução com a comunidade e sem apresentar relatório de impacto ambiental, ou nem mesmo apresentar essa discussão aos conselhos de meio ambiente. Estão colocando esse projeto como compensação ambiental pela retirada de árvores da marginal, na obra de ampliação das vias, mas até para essa obra deveria haver um estudo de impacto ambiental, apresentado nos conselhos para debate com a sociedade.
Então, está sendo feito de forma irregular, autoritária. O prefeito sinalizou que haverá um “vale-aluguel” de seis meses, e as famílias serão retiradas em janeiro para construção do parque. Mas essas famílias já têm direitos garantidos – com a Medida Provisória 2220, de 2002 – que garante que quem mora em terra pública e fez bem-feitoria tem direito de ser ressarcido para poder investir em outro lugar. Isso não tem sido respeitado e não há sinal desse tipo de discussão. A obra se estende de Guarulhos até a divisa com Mogi. Tem uma represa na Penha que controla o fluxo de água no Tietê para não haver enchentes. A comunidade está dizendo que foi proposital represar a água para criar a situação de fragilizar a comunidade e pode concretizar o que queriam.
OE – Como está o diálogo entre a prefeitura e a escola em relação às famílias abrigadas? – No primeiro dia à noite, depois de 14 horas, a defesa civil cadastrou as 15 famílias que estavam na escola. Mas aqui na região foram atingidas mais de 2,5 mil famílias, e não houve atendimento da forma como deveriam, mesmo por falta de equipamentos. Estamos em uma região em que a escola é o principal equipamento público e é a ela que as pessoas recorrem.
Maria Cláudia
OE – E qual é o apoio da prefeitura para essas pessoas que estão na escola? – Prometeram cesta básica, mas até agora não chegou atendimento. As pessoas estão esperando a água baixar, numa condição ruim, já que tudo o que está dentro das casas está praticamente inviável de usar. Na escola a comunidade está se organizando com comida. A assistência social enviou marmita apenas uma ou duas vezes, mas as pessoas estão pedindo comida aos comerciantes e famílias que estão no entorno da escola, tomando banho nas casas das pessoas, sem a possibilidade de voltar. São famílias da Vila Aimoré, que moram às margens do córrego Itaim.
Maria Cláudia
Fonte: Observatório da Educação
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