Caminhos de inclusão aos atendimentos psicológicos

Por Emílio Figueira

Que a internet causou uma revolução mundial é um fato que todos já sabem. Principalmente para nós, pessoas com deficiência. Abriu-nos infinitas possibilidades, tais como de comunicação, pesquisa troca de conhecimentos e experiências, acesso às informações, serviços de banco, compras on-line, pesquisas, leituras, enfim. Talvez o mais fascinante seja o ensino a distância, permitindo há milhares de brasileiros se qualificarem para o mercado de trabalho. Eu, na condição de pesquisador científico, psicólogo e psicanalista, nos últimos tempos comecei a me questionar diante desse universo: Será possível realizar alguns serviços psicológicos via internet? Esses serviços poderiam ser estendidos às pessoas com deficiência?

Visando responder tais indagações, busquei primeiro me informar sobre a legalidade desse projeto. Tomei ciência que o atendimento com o uso do computador pelo psicólogo encontra-se respaldado na Resolução n. 003/00, normas estabelecidas pelo CFP (Conselho Federal de Psicologia). Os chamados “Serviços Psicológicos Mediados Por Computador” (SPMC) são intervenções realizadas nas seguintes áreas: orientação psicológica; orientação afetivo-sexual; orientação profissional; orientação de aprendizagem; psicologia escolar; orientação ergonômica; consultoria a empresas; reabilitação cognitiva, ideomotora e comunicativa; processos prévios de seleção de pessoal; utilização de testes informatizados devidamente validados; utilização de softwares informativos e educativos com resposta automatizada; outras intervenções, desde que não firam o Código de Ética Profissional do psicólogo e outras legislações.

No perfil de pessoas que podem se utilizar dos SPMC, destaca-se pessoas que exerça atividade profissional que exija um deslocando constante (juízes substitutos, cantores, atores, esportistas, empresários), que não encontra tempo para ir ao consultório; pessoa que apresenta um quadro psicopatológico (fobia, pânico, TOC, depressão, ansiedade) e ainda não consegue sair de sua casa; pessoa com doença infecto-contagiosa (influenza; caxumba) que esteja debilitado e impossibilitado de ter contato direto com outras pessoas; pessoa que esteja no estrangeiro que deseja se tratar com terapeuta brasileiro; pessoa que apresenta grande inibição para falar presencialmente (face a face) com o terapeuta; pessoa que não se adapta aos tratamentos em consultório; pessoa que além da Psicoterapia ou Análise presencial necessita de suporte psicológico fora do consultório, entre as sessões clínicas.

Mas dentre esse público estabelecido pelos documentos oficiais, um veio de encontro aos meus questionamentos: “Pessoas com algum problema físico (surdez, paralisia, perda de membro) que dificulte a comunicação falada e/ou traslado ao consultório”.

A partir disso, ao desenvolver o site do meu consultório on-line, criei a página chamada Clínica Inclusiva. Sua proposta é desenvolver um serviço de atendimento e aconselhamento às pessoas com deficiência e futuramente à terceira idade, principalmente àquelas com grandes dificuldades de locomoção, possibilitando a elas acesso ao atendimento psicológico sem necessitarem de locomoção, enfrentar barreiras arquitetônicas, por exemplo. Posteriormente, estudaremos as possibilidades dos encontros presenciais. E as bases desses atendimentos são os mesmos descritos aos demais pacientes, mas com relação e esse público, posso trabalhar com questões como autoestima, estimulação, superação, falar de possibilidades que temos perante a vida!

Fico à vontade nesta área por ser uma caminhada de 40 anos em mão dupla: por um lado também sou uma pessoa com deficiência, adquirir paralisia cerebral durante o parto; mas por outro sou um pesquisador e especialista nesta área com uma grande produção de conhecimento e serviços prestados, além se ser formado em psicologia e psicanálise.

Sendo uma forte tendência americana e européia, alguns pontos gerais posso destacar dos benefícios dos aconselhamentos on-line: A pessoa pode escrever e enviar as mensagens para o terapeuta a qualquer momento, 24 horas, sem se deslocar fisicamente. As respostas do terapeuta serão enviadas com prazos estipulados em contrato (uma, duas, três vezes por semana). Um contato direto entre o terapeuta e a pessoa, evitando que essa deixe mensagens com intermediários, Em geral, as pessoas ficam menos inibidos, conseguem falar de temas importantes, pois não estão na frente do terapeuta. Ninguém precisará saber que ela está buscando ajuda/aconselhamento psicológico. A pessoa tem a possibilidade de arquivar suas mensagens e respostas do terapeuta para reler o que ocorreu durante a intervenção e refletir sobre o que foi exposto. A pessoa tem um meio físico (impressão das intervenções via e-mail, chat, conferência, etc.) para processar o terapeuta, caso o mesmo tenha atos não éticos.

A partir desses meus levantamentos, criei o site “Clínica da Meia-Idade” (www.clinicadameiaidade.com.br). Tenho me dedicado nos últimos anos a pesquisar, estudar e escrever sobre o atual comportamento das pessoas de meia-idade. Período o qual Carl Jung havia estabelecido entre os 35 a 40 anos das pessoas. Mas eu, nas minhas atualizações científicas, restabeleço esse público-alvo como formado por pessoas entre 35 a 60 anos na sociedade contemporânea. E escolhi como símbolo da minha Clínica esta pintura acima de minha própria autoria; uma montanha entre o casal representa os nossos vazios sentimentais e existenciais na atualidade!

Nesse espaço disponibilizo a oportunidade de ter os nossos primeiros contatos via on-line com as pessoas. Podemos conversar inicialmente via e-mail com orientação psicológica breve, tudo de forma discreta e sigilosa. Como em qualquer local onde um psicólogo ou psicanalista trabalhe (consultório, clínica, escola, hospital, rua, on-line, etc.), estabelecido assim no Código de Ética do Psicólogo. E em especial para quem tem uma deficiência assim como eu, convido a conhecer minhas propostas da Clínica Inclusiva, uma forma também de inclusão aos serviços psicológicos e psicanalíticos.

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Fonte: O autor

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