Mãe é aquela pessoa que nos acompanha sempre: dentro ou fora do corpo. Dela ou de nós. Só quem tem sabe o tamanho da dor ao perdê-la. E quem nunca soube quem ela é ou foi, sente a profundidade do seu vazio. Existem seres humanos que abusam e até matam seus filhos. Será que elas tiveram mães? Provavelmente não, mesmo que tenham saído do ventre de uma mulher, pois só quem concebeu seus filhos no coração é mãe.
A minha escolheu ser 24hs a pessoa que vive dentro de mim desde que apareci no planeta. Não apenas porque ela é a responsável pelo meu nascimento, mas porque a minha vida faz parte da dela. Inconsciente ou não. Escuto a voz da minha mãe sempre. Todos os dias. Ela me vigia ao mesmo tempo em que me ensina a voar sozinha. Quando penso em ligar para ela, o telefone toca. Digo que é ‘magia’ porque ela lê meus pensamentos. Brigamos a cada amanhecer, por isso, cada vez nos gostamos mais. Aprendemos uma com a outra o desafio gostoso e trágico que é viver.
Quando eu era um bebê extremamente frágil aos olhos do mundo, só ela sabia, lá no fundo do seu coração, que eu era mais forte do que todos. Acreditou somente em meus olhos, brilhando por ser e estar. Como humana, acredito que minha mãe tenha tido medo, angústia, tristeza, receio, insegurança, dúvidas, desesperos, e muita dor. Mas como o amor incondicional de uma mãe para com seu filho sempre é mais forte, ela prosseguiu sem hesitar em trocar de lugar comigo se fosse preciso. Os cuidados físicos foram mais intensos nos primeiros anos, e só aumentaram quando eu resolvi prestar vestibular, atravessar uma rua, viajar para outro país, trabalhar, transar, me casar, entre tantas ‘loucuras’ que fiz. Imagino como deve ter sido difícil somente estar ao meu lado pronta para me segurar em seus braços, e não andar por mim.
Foi com ela que aprendi o único e verdadeiro significado de estarmos aqui: amarmos uns aos outros, mas sempre pedir nada em troca; nem mesmo um lugar no céu. Amor de mãe não se explica com teorias, práticas ou ideologias. Apenas se sente. Eu respiro sua herança. Sou feita de honestidade, lealdade, tranqüilidade, bondade, dedicação, carinho, ternura, generosidade, paciência, sabedoria e humildade que herdei dela! Também aprendi a gostar sempre de ajudar as pessoas, simplesmente, porque somos iguais na diferença.
Diferença essa, que nunca afastou minha mãe da minha imagem nas ruas ou dentro das casas. Ela sempre me viu por inteira em metade de um corpo. Sempre foi as minhas ‘pernas’ e ‘braços’ em todos os momentos e lugares (e ainda é sempre que preciso, antes de eu peça). Sempre estava na primeira fila para me aplaudir com o maior orgulho do mundo, mesmo que só eu conseguisse ver a sua alegria em um sorriso tímido, mas em alguns momentos um pouco mais solto.
Minha mãe é aquela que passa para os alimentos o gosto de prepará-los com muito carinho às 5hs da manhã desde que nasci. É aquela ‘fada madrinha’ que deixa a casa brilhando com tanta garra ao trabalhar em múltiplas jornadas. É aquela mulher que consegue agradar à família sem ser vista ou referenciada. Por isso, a dor de vê-la sofrer muito me dilacera e paralisa. Mas quando penso que agora a luz se apagou, ouço seus passos fortes e rápidos pela casa antes de me despertar. O café já está pronto e nenhum detalhe foi esquecido. À noite faz o jantar com a mesma disposição que ficou o dia inteiro de pé para nos sustentar. Lava e passa roupa na hora em que estamos dormindo; e não se esquece de comprar o que cada um mais gosta quando vai ao supermercado. Cuida demais de nós sim. E por isso, muitas vezes, se esquece de se cuidar. Por isso, entramos em desacordo quando discutimos sobre a vida. Aprendemos uma com a outra, mas minha mãe me ensina muito mais porque veio primeiro e deixou o terreno preparado para mim.
Cristina é uma mulher de opinião forte, idéias muito criativas, grande agilidade, rapidez, perseverança, força de vontade, e determinação. Quando criança era um ‘moleque’ que empinava pipa, jogava bola e subia no telhado. Sempre fez travessuras. Gosta de animais, de música, artes e livros. Mas o que mais curte é esporte. Adora ver os jogos na TV, corre, caminha e anda de bicicleta. Nunca me deixa fora de algum passeio. O mais recente foi a viagem de trem para Paranapiacaba (interior de São Paulo). Minha mãe fez a loucura de me empurrar (junto com meu tio) na cadeira de rodas pelas ladeiras íngremes e cheias de buracos da cidade histórica completamente inacessível para pessoas com deficiência física. Confesso que nem acreditei quando vi as ruas de paralelepípedo. Meu marido disse que só ela mesma para nos levar ali…
Ultrapassamos inúmeras barreiras e limites, fora e dentro de nós! Foi inesquecível. Planejamos cada minuto com tanto carinho, sonhamos com cada momento, mas só na hora é que sentimos o poder do amor. Marcos (seu genro) ficou de boca aberta, e disse ao deitar na cama naquela noite que também é seu filho de coração. Eu sou mais do que filha. A amizade nos une para sempre como a melhor herança que alguém pode receber de uma mãe!
Mãe, eu te amo e serei sempre grata a você!
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Sobre a autora:
Leandra Migotto Certeza, é Jornalista (MTb 40546) e colunista da Caleidoscópio Comunicações, Repórter Voluntária da Rede SACI — www.saci.org.br www.saci.org.br; ativista em direitos humanos das pessoas com deficiência da ONG Conectas Direitos Humanos www.conectas.org , e voluntária da Voluntária da Associação Brasileira de Síndrome de Williams – www.swbrasil.org.br , – .Tels: 55 (11) 3453-5370 – Cel: 55 (11) 8697-9067 55 – Blogs – pessoal – http://leandramigottocerteza.blogspot.com – institucional – http://fantasiascaleidoscopicas.blogspot.com/ – Twitter: @LeCaleidoscopio
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Lindo seu depoimento Leandra. Muito bonita sua homenagem.
Um biejo
Juliana