Instituição com nome de garoto assassinado no massacre é referência na região.
Márcio Zonta
de Eldorado dos Carajás (PA)
Uma escola com 12 salas equipadas com ar-condicionado, auditório para aproximadamente 150 pessoas, biblioteca, sala de informática, laboratório multidisciplinar de biologia, ciências e química e sala de vídeo, com cerca de 60 funcionários, além de quatro microônibus que buscam e deixam os estudantes em suas casas.
Engana-se quem pensa que a escola Oziel Alves Pereira, com essa estrutura, situa-se em algum bairro nobre. Ela atende mais de 1,5 mil alunos da educação infantil ao ensino médio e está instalada no assentamento 17 de abril, em Eldorado dos Carajás (PA).
A escola é considerada por muitos como referência na região do sul e sudeste do Pará. “Não existe escola desse nível nessa região do estado”, diz Maria Suely Ferreira Gomes, coordenadora do IFPA – Instituto Federal do Pará.
Projetada desde quando surgiu o acampamento, tem em seu quadro 32 docentes formados na própria escola. Recentemente, a direção e a coordenação da escola saíram do controle do município de Eldorado do Carajás e passaram a ser da comunidade. A medida ocorreu após a posse da diretora Náldia Maria Torres e da coordenadora pedagógica Risangela Neres de Almeida. Ambas formaram-se no curso de licenciatura em Letras, numa parceria da Universidade Federal do Pará (UFPA), Programa Nacional de Educação de Reforma Agrária (Pronera), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Antes as deliberações sobre a escola partiam do município, agora somos nós da comunidade que decidimos o que dever ser feito”, diz Risangela.
Educação do campo
Aliás, Náldia e Risangela têm a preocupação de estabelecer um currículo que valorize a educação no campo, em detrimento dos currículos enviados pelo município, que muitas vezes está fora da realidade dos alunos. “Aqui analisamos o material que vem da prefeitura e vemos o que pode ser utilizado, pois pensamos em uma educação em que o aluno reflita sobre o seu meio circundante”, reflete Risangela.
Uma série de mudanças vem sendo implantada junto aos professores. “Realizamos oficinas que mudam a realidade e a mentalidade dos professores, impregnada por muito tempo pelos temas da cidade”, atenta a coordenadora.
Em meados de setembro passado, a direção do colégio reuniu-se com os professores e organizou uma horta comunitária, no fundo da escola, onde os estudantes seriam os protagonistas na plantação, cuidados e colheita. “O objetivo era colocar os alunos em contato com a terra, para mudarmos os rumos da escola, pois crianças nascidas no campo nunca tinham tido uma experiência e um entendimento sobre a questão agrária”, conta Risangela.
A direção da escola também incluiu na educação religiosa proposta pelo município o sincretismo religioso existente no assentamento 17 de abril. “Temos uma educação religiosa diversa, até porque entre os alunos, a religião que seus pais seguem varia, pois temos igrejas evangélicas, católicas e os rituais de umbanda e candomblé, daí a importância de preservamos isso também como elemento cultural”, conclui Risangela.
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Fonte: Brasil de Fato