Por Ricardo Shimosakai*
O Salão do Turismo é uma estratégia de mobilização, promoção e comercialização dos roteiros turísticos desenvolvidos a partir das diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil.
Promovido pelo Governo Federal por meio do Ministério do Turismo, o evento apresenta o turismo brasileiro para quem quer viajar ou fechar bons negócios. Os visitantes podem conhecer os roteiros turísticos das 27 unidades da Federação e adquirir pacotes e produtos/serviços turísticos para visitá-los nas suas próximas viagens. Podem ainda ver e comprar o artesanato, os produtos da agricultura familiar e a gastronomia típica, além de assistir a manifestações artísticas de diversas regiões do País. O público pode também assistir a debates e palestras e ainda conhecer casos de sucesso, trabalhos científicos e projetos relacionados ao turismo.
Na edição passada, a Turismo Adaptado procurou averiguar alguns itens para garantir alguns recursos de acessibilidade no evento. Entramos em contato com a organização do Núcleo do Conhecimento, onde acontecem diversas palestras, algumas simultaneamente, ao longo de todo os dias do Salão do Turismo, para confirmar a presença de intérpretes de Libras em todas as palestras. Este serviço foi confirmado pela organização, porém o mesmo não aconteceu. Na verdade havia somente uma intérprete numa palestra, que tratava justamente de acessibilidade. Porém a intérprete não tinha uma boa fluência em Libras, e pelo relato de uma surda que assistiu a palestra, a compreensão estava muito difícil. Depois a organização do Núcleo do conhecimento estava procurando transferir a culpa para a Alcântara Machado Eventos, dizendo que ela era a responsável pelo evento. Enviamos um novo email questionando a presença dos intérpretes nesta edição do Salão do Turismo, porém nenhum retorno foi dado até o presente momento. Provavelmente passaremos por situações de descaso e desculpas primárias novamente.
Outro ítem que vai contra a acessibilidade, são os tablados que se colocam nos estandes. Atualmente, quase todos possuem pelo menos uma rampa, por mais mal feita que ela seja. Na verdade, esses tablados muitas vezes não tem função alguma, mas é um costume do mercado de eventos colocá-los. Porém se analisarmos melhor, esses tablados acabam aumentando o custo de montagem do estande e também aumentando o tempo para sua montagem, além do mais, chega a ser incômodo mesmo para pessoas sem deficiência, pois várias pessoas acabam tropeçando nos desníveis.
Geralmente o estande possui um único acesso, o que dificulta muito para um cadeirante, pois ele tem que ficar procurando o local de acesso, e numa feira grande, isso acaba cansando demais. A disposição dos mobiliário dentro do estande também é algo que muitas vezes não é pensado. Alguns expositores colocam balcões ou outro tipo de objeto logo em frente à rampa, ou as mesas de atendimento enfileiradas numa espécie de corredor, onde não há espaço suficiente para passar uma cadeira de rodas.
Como já foi informado anteriormente, o Ministério do Turismo é quem promove o Salão do Turismo. O Ministério do Turismo iniciou um projeto de acessibilidade na cidade de Socorro, que ainda está em andamento, porém esta é a única iniciativa realizada e que não produz um retorno prático tão significativo, pois serve somente como uma vitrine para ser copiado por outros destinos e empreendimentos turísticos, coisa difícil de acontecer, pois apesar da acessibilidade ser um assunto em alta também no turismo, muito se fala porém pouco se faz.
Novamente a Turismo Adaptado, pensando que mais do que isso deveria ser feito, entramos em contato com o Ministério do Turismo para conversar a respeito da reclassificação hoteleira que está sendo feita, e propor a colocação das questões de acessibilidade na avaliação da reclassificação, afinal um hotel cinco estrelas que não possua uma ótima acessibilidade, não merece ser classificado nesse nível. Essa tentativa de intervenção junto ao Ministério do Turismo é uma proposta de, ao invés de ficar consertando os erros cometido, tentar fazer as coisas da maneira correta, até porque esses itens de acessibilidade são um direito previsto em lei. Porém novamente nenhuma atenção foi dada a nós, na verdade a todo o povo brasileiro.
O Ministério do Turismo gosta de exaltar o projeto de acessibilidade de Socorro, que na verdade possui inúmeras falhas, mas que com um bom trabalho de marketing que é realizado, parece ser algo fantástico. Então praticamente nada além deste projeto é feito para melhorar a acessibilidade no turismo, infelizmente parece que eles pensam que isso só deve bastar e já estão cumprindo com sua obrigação. Deveria haver alguma cabeça pensante dentro do Ministério do Turismo, com um conhecimento apurado no turismo e também sobre a acessibilidade e a inclusão, para direcionar todas as ações para um caminho correto.
Para tudo isso, que na verdade é somente um panorama geral dos problemas, não cabem desculpas e sim uma atitude sensata a ser tomada, visto que as dificuldades que as pessoas com deficiência passam são previsíveis, a organização é notificada e mesmo assim praticamente nada é feito. Mesmo com todos os defeitos, o Salão do Turismo é um local bastante interessante a ser visitado. E se mais pessoas com deficiência visitarem o Salão, e reivindicarem seus direitos, não somente em relação à acessibilidade no evento, mas também cobrar do poder público junto às secretarias de turismo a infraestrutura turística nos destinos, e também de empresas privadas como hotéis, transportes, agências entre outros, a adequação nos serviços e produtos turísticos, a probabilidade de conseguirmos mudanças é bem maior. Apesar de leis ajudarem, o que causa impacto são as demonstrações de interesse do público final, neste caso do turista com deficiência.
O Salão está dividido em diversos módulos de atividades: Feira de Roteiros Turísticos, Área de Comercialização (onde o visitante pode comprar sua viagem), Vitrine Brasil (artesanato, moda, jóias, produtos da agricultura familiar, manifestações artísticas e gastronomia), Núcleo de Conhecimento, Rodada de Negócios (encontros pré-agendados entre os agentes de comercialização do produto turístico brasileiro), Missões Promocionais – Caravana Brasil (visitas técnicas de agentes de turismo/operadores) e Missões Promocionais – Press Trip (visitas técnicas de profissionais de imprensa nacional e internacional).
Salão do Turismo – Roteiros do Brasil
Data: 13 a 17 de julho de 2011
Local: Pavilhão de Exposições do Anhembi
Endereço: Avenida Olavo Fontoura, 1209, Santana, São Paulo/SP
http://www.salao.turismo.gov.br
* Ricardo Shimosakai é Bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi/ Laureate International Universities e atua desde 2004 no segmento de Turismo Acessível. Membro do Centro de Vida Independente Araci Nallin, Brazilian Adventure Society, SATH (Society for Accessible Travel and Hospitality), ENAT (European Network for Accessible Tourism) e IFTTA (International Forum of Travel and Tourism Advocates).
Fonte: Turismo Adaptado