De quem é a deficiência, afinal?

Medalhas sobre forro vermelho

Por Beto Volpe

O Brasil acaba de se consagrar campeão antecipado dos Jogos Para Pan Americanos de Guadalajara, com direito a recorde de medalhas e tudo. Atletas dos mais diversos cantos do país, com as mais diversas deficiências e com o mesmo perfil vencedor, pessoas que transformaram um desafio aparentemente intransponível em uma história de superação que tem a cor do bronze, da prata e do ouro.

Você sabia disso? Talvez não, neste momento, são 23 horas de sábado, não há menção ao fato tanto na primeira página quanto na seção de esportes do maior site de informações do Brasil. Notícias fugidias de tão breves são dadas em alguns telejornais, enquanto a emissora detentora dos direitos nem a um boletim diário abre espaço em sua programação abençoada pelo deus de Edir.

Não é a primeira vez que isso acontece, claro. Mas depois de tanto avançar, de termos tido uma protagonista com deficiência em horário nobre, espera-se alguma evolução na forma de pensar dos empresários de comunicação e seus patrocinadores. Ano passado, na estréia do BBB, Pedro Bial saudava os participantes como ‘heróis que terão que superar um árduo caminho até a vitória”’ No mesmo dia, sem destaque algum da mídia, o Brasil ficava em terceiro lugar no Campeonato Mundial de Para Atletismo na Nova Zelândia, atrás apenas de China e Rússia.

Aí cabe uma reflexão: de quem é a deficiência, afinal? De pessoas que superaram uma suposta limitação física, intelectual ou sensorial ao ponto de representar seu país com o brilho de muitos metais? De pessoas que além disso tiveram que lutar contra a falta de apoio e patrocínio, contra o descrédito que vinha até das pessoas mais queridas? Ou de um país que continua a renegar seus verdadeiros pilares morais e se entrega à vulgaridade do consumo rápido e fácil? Um país onde muita gente sente vergonha de ser honesta e outro tanto não sente vergonha nenhuma em não sê-la. Um país onde a mídia e as corporações deitam e rolam nos lucros e demonstram um grande exemplo de deficiência ética e patriótica ao tornar invisível participação brasileira tão brilhante e que encheria de orgulho qualquer nação socialmente desenvolvida.

De quem é a deficiência, afinal?

Parabéns, para atletas panamericanos!

Parabéns, para atletas de todo o país e de todo o mundo!!

Fonte: O autor

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *