O mundo é uma escola

Inclusive - direitos humanos - um planeta cercado por figuras humanas.

As luvas na mão e a habilidade com o desenho e o spray denunciam Lucas Rodrigues, de 19 anos. O estudante é um ex-pichador, que, aos 14, começou a percorrer as ruas da Vila Telebrasília, onde mora, para escrever clandestinamente nos muros. Hoje, longe das provocações entre as gangues, ele não esquece a semana em que passou detido no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), após ser pego por um policial.

A rotina sofreu uma reviravolta, e o jovem descobriu o lado artístico das intervenções urbanas. Na manhã de ontem, ele pôde colocar o conhecimento em prática durante a oficina de estêncil com alunos do Centro de Ensino Médio EIT (Cemeit), de Taguatinga. O curso, de seis dias, faz parte do projeto Mapa Gentil, idealizado pela artista plástica Janaína André. Além das lições sobre o grafite, lecionadas pela também artista plástica Juliana Borgê, haverá turmas de criação de personagens, palavra e poesia, instalações e arte urbana – todos com vagas disponíveis. “A pichação leva à violência, ao contrário do grafite. Se eu grafito em lugares rivais, eles vão me respeitar. Existe uma troca, é uma paz”, descreve Rodrigues.

O programa educativo existe desde o ano passado, quando a proposta era intervir em espaços públicos de Taguatinga, de Ceilândia, de Samambaia e do Riacho Fundo. Artistas e estudantes do Cemeit fizeram trabalhos de estêncil, grafite, pintura, lambe-lambe e adesivos em 63 pontos diferentes das regiões administrativas apontados em um mapa.

Janaína ressalta que, neste ano, o tema é O mundo é uma escola – frase do poeta urbano Gentileza, morto em 1996 e conhecido por fazer inscrições sob um viaduto na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro -, e as intervenções estão restritas ao centro de Taguatinga. Dividida em etapas, a iniciativa prevê a preparação dos professores; o uso de jogos de baralho, tabuleiro e cartografia em sala de aula sobre arte urbana e a filosofia do poeta; oficinas teóricas e práticas com os alunos; e, por último, visitas às intervenções. A primeira e a segunda fase já ocorreram, a terceira está em andamento e a quarta será em setembro, quando o novo mapa estiver pronto.

Escolas interessadas em percorrer o roteiro cultural deverão entrar em contato com a direção do projeto por e-mail ou acompanhar as informações nas redes sociais (veja Participe). As visitas serão guiadas, e os instrutores explicam os dois lados do trabalho: as técnicas artísticas e a filosofia gentil. Segundo Janaína, a intenção é fazer com que o projeto seja implantado em outros centros de ensino público do DF.

Grafite

Além de Lucas, dois exemplos de sucesso são Rafael Marques e Rafaella Côrtes, ambos de 16 anos. Os estudantes do 2º ano participaram do Mapa Gentil no ano passado e tornaram-se estagiários da equipe de Janaína. Eles alimentam o canal do Youtube, do Instagram, do Twitter e do Facebook com vídeos, fotos e notícias.

Além de entrarem em contato com um universo até então distante, descobriram novos talentos. Durante as três horas e meia que passaram na sala de artes cênicas do colégio, na manhã de ontem, os adolescentes do Cemeit aprenderam a história e a técnica do estêncil. Eles saíram da escola para colorir muros, postes e a parede externa de uma banca de revista. “Antes, eu desenhava o que conseguia e, em três aulas, eu melhorei. Tinha visto nas ruas, mas não sabia como fazer nem que era tão elaborado”, confessa Thamires Alves, de 15 anos.

São no total 20 vagas para cada uma das cinco oficinas: 15 para os estudantes e cinco para a comunidade. Na segunda quinzena de junho, haverá o encerramento da turma de estêncil, e os participantes poderão grafitar o muro da escola.

Para Lana Guimarães, trata-se de um programa pioneiro, capaz de reunir educação, arte e turismo. Ela cita os becos de São Paulo, que se tornaram pontos turísticos devido às intervenções urbanas, como inspiração para o Mapa Gentil. “É o primeiro roteiro para ser percorrido a pé no DF. A proposta é olhar para a cidade que habitamos. Trabalhamos não só a gentileza para fortalecer laços, mas também os problemas sociais e os patrimônios”, argumenta Lana.

Participe

Ainda há vagas para as cinco oficinas do Mapa Gentil. São 20 alunos em cada uma delas (15 estudantes do Cemeit e cinco da comunidade). As inscrições podem ser feitas pelo e-mail programaeducativo@mapagentil.com.

br e pelo site www.mapagentil.com.br. As escolas interessadas em percorrer o circuito cultural em setembro devem se inscrever para as visitas guiadas. Algumas oficinas começaram, e outras estão previstas para o segundo semestre.

Fonte: Correio Braziliense

One Comment

  1. Muito bom Beto. Sem vocea jamais teorimas estes momentos registrados. Espero que a ABES tenha como armazenar este acervo para no futuro relembramos o nosso passado. As coisas boas que estamos fazendo Uma abrae7o, Vitorio.

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