Por Lucas Jacinto
da Esalq
A potencialidade da escola como um fator para influenciar o comportamento dos alunos e reduzir a violência é comprovada pela economista Kalinca Léia Becker em sua tese de doutorado realizada no programa de pós-graduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultutra Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. A pesquisa orientada por Ana Lúcia Kassouf, professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, mostra que quando ocorre o investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido.
“O objetivo geral do trabalho foi analisar a relação entre a educação e a violência, observando se a educação e a escola podem contribuir para reduzir a violência e o crime”, comenta a pesquisadora. A análise foi realizada por meio da construção de dois ensaios. No primeiro, foram coletadas evidências de que a atuação pública na área da educação poderia contribuir para reduzir o crime no médio e longo prazo. Nesta etapa, foi mensurado o impacto do gasto público em educação na redução da taxa de homicídios, utilizando dados dos estados brasileiros, entre os anos de 2001 e 2009.
No segundo ensaio, que foi financiado pelo programa “Observatório da Educação”, fruto da junção entre o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foram analisados alguns fatores do ambiente escolar e do seu entorno que poderiam contribuir para a manifestação do comportamento violento dos alunos, a partir de dados disponibilizados nas Provas Brasil de 2007 e 2009.
Segundo Kalinca, estas análises são complementares na busca da solução para o problema apresentado pela tese. “O primeiro ensaio fornece uma análise ampla e agregada do impacto dos gastos com a educação na redução da taxa de homicídios, enquanto o segundo volta-se para dentro da escola, analisando como os vários fatores do ambiente escolar podem prevenir a manifestação do comportamento violento”, conta. Os métodos para a construção destes ensaios foram viabilizados por meio de revisão literária e análises de dados empíricos utilizando ferramentas estatísticas e econométricas, que resultaram na constatação de que a escola e a educação são fundamentais para a redução da criminalidade.
Desenvolver conhecimento
A pesquisa comprovou a influência da educação no comportamento dos alunos. Constatou-se no primeiro ensaio que quando ocorre o investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido. Porém, para isso, é necessário que a escola funcione como um espaço para desenvolver conhecimento, pois, no segundo ensaio, foi observado que escolas com traços da violência, como depredação do patrimônio, tráfico de drogas, atuação de gangues, entre outros, podem influenciar a manifestação do comportamento agressivo nos alunos.
“A possibilidade de algum aluno manifestar comportamento violento em escolas onde foram registrados crimes contra o patrimônio e contra a pessoa é, respectivamente, 1,46 e 1,22 vezes maior em comparação às escolas que não registraram estes crimes”, conclui Kalinca.
De acordo com os resultados obtidos, o contato com um meio onde prevalecem ações violentas influencia diretamente o comportamento do aluno dentro da escola. Sendo assim, as políticas públicas para reduzir o crime na vizinhança da escola podem contribuir significativamente para reduzir a agressividade dos alunos. “A escola pode, ainda, adotar medidas de segurança para proteger os alunos nas suas imediações”, reforça.
Uma das soluções sugeridas pela pesquisa é que, quando a instituição promove atividades extracurriculares, ocorre a redução em 0,96 % da possibilidade de algum aluno cometer um ato agressivo. “Este é um resultado interessante, pois muitos programas de redução da violência nas escolas incluem atividades de esporte, cultura e lazer como forma de socializar a convivência e, assim, reduzir a violência”, complementa.
Também foram observadas evidências de que o ambiente familiar e a participação dos pais nas reuniões da escola podem influenciar o comportamento do aluno.
Fonte: Agência USP