Por Lucio Carvalho *
Estou aqui tentando, por experiência, fazer uma pesquisa no Google e selecionar as “imagens” como resultado usando o termo “autismo”. Qual a imagem que imaginam ser recorrente? Não sei se o meu Google está programado para isso, mas 80% das imagens são de crianças sérias, circunspectas, viradas de costas, alheias, tristes e até desesperadas, às vezes em cenários que parecem ter sido atingidos por tsunamis. Agora procure imaginar também de onde vêm essas imagens. Vou ajudar: vêm de blogs, reportagens, sites especializados em educação e etc.
Há cerca de uma semana atrás, quando se celebrou o Dia Internacional da Síndrome de Down, a imagem recorrente era outra. Normalmente uma criança bem fofa, sorridente, resolvida e afetiva. Ainda assim, uma criança. A criança eterna, como no título daquele famoso livro.
E se estivermos, por acaso, próximos à semana de luta da pessoa com deficiência ou próximos ao 3 de dezembro, Dia Internacional de Luta da Pessoa com Deficiência, aposto todas as minhas fichas que a imagem predominante será a de um cadeirante em uma competição esportiva. Ou uma imagem bonita de alguém fazendo das tripas coração para “superar” a deficiência.
O que têm estes estereótipos em comum, além do fato de que não correspondem à realidade, mas a uma idealização e estereotipia das mais embrutecedoras? Têm que sua origem está justamente naqueles veículos de informação, blogs, sites e reportagens que estão empenhados na “dissipação” do preconceito e na “luta” em prol da inclusão. Agora não me perguntem como isso pode fazer algum sentido porque eu jamais poderia saber explicar.
* Coordenador-Geral da Inclusive: Inclusão e Cidadania
Concordo inteiramente com o que está dito no artigo. A questão da imagem estereotipada da pessoa com deficiência é um assunto que me interessa e sobre o qual venho procurando estudar. Estou fazendo um curso de fotografia e pretendo realizar, como trabalho final, fotos de pessoas com deficiência que possam ser diferentes no sentido de não reforçar estes estereótipos. Neste sentido, penso que a palavra deficiência já traz em si uma carga pesada de preconceito, uma visão contrária a um ideal de perfeição (ou de busca pela perfeição). O que dizem estas imagens que relacionam pessoas autistas à tristeza, ao desespero; pessoas com Síndrome de Down como eternas crianças. Por que existe esse discurso demagógico de pena que explicita o preconceito e o medo ou outros destes sentimentos nas pessoas.
Ainda estou bastante perdida sobre como realizar este trabalho,porque também nas minhas buscas me deparo sempre com as mesmas imagens. Não convivo com pessoas com deficiência e isso é importante como ponto de partida. E também procuro leituras que me ajudem a refletir e a ver estas pessoas sob outras perspectivas.
Acabei de me aposentar e agora quero fazer o que gosto