Por Rafael Parente
do Porvir
A inclusão escolar de alunos com deficiência no ensino regular tem crescido no país, mas ainda é preciso evoluir nas metodologias
A última edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) provocou uma reflexão sobre a importância de discutir a educação inclusiva, ao definir como tema de redação: “desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Apesar de um recorte específico para os estudantes com deficiência auditiva, o tema estimulou o debate acerca das metodologias que andam sendo utilizadas em salas de aulas regulares para promover a inclusão dos alunos com necessidades diversas.
A inclusão escolar de alunos deficientes no ensino regular tem crescido no país. O Censo Escolar do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), realizado em 2015, constata que o número de alunos deficientes no ensino regular aumentou 6,5 vezes em 10 anos: de 114.834, em 2005, para 750.983 em 2015.
O que dizem os dados:
No entanto, precisamos evoluir nas metodologias que estão sendo adotadas para, de fato, proporcionar uma aprendizagem efetiva dessas crianças e desses adolescentes. E não poderia existir melhor momento para isso. Temos uma geração de estudantes que já nasceu digital, e o uso correto das novas tecnologias acaba sendo um grande aliado nessa inclusão. Além disso, escolas e professores reclamam da falta de infraestrutura e de formação adequada para que a inclusão acontece da melhor forma.
Elas estão sendo aplicadas em sala de aula para proporcionar uma experiência diferente de aprendizado a uma geração que já nasce digital. Quando o aluno possui algum tipo de deficiência, o professor pode utilizar essas ferramentas como aliadas para atrair a atenção do aluno, promover o aprendizado coletivo e adequar o conteúdo às necessidades dele.
Vejamos esse caso em Macaé, município do estado do Rio de Janeiro. A aluna do 1º ano do ensino fundamental, Luna Oliveira, está em investigação sobre a possibilidade de TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) e apresenta dificuldades para concluir suas atividades no mesmo ritmo dos outros colegas. Com a adoção da metodologia Conecturma, que utiliza uma plataforma adaptativa e gamificada para ensino de português, matemática e competências socioemocionais, Luna já consegue acompanhar o grupo e se manter concentrada por mais tempo, além de estar mais estimulada a aprender por meio do apoio dos jogos.
Por que isso acontece?
As crianças adoram as novas tecnologias e têm afinidade com essas ferramentas. Usá-las em sala de aula torna os alunos mais receptivos ao aprendizado. Um aluno com deficiência tende a ficar mais concentrado durante a aula quando são utilizados recursos que estimulem vários de seus sentidos de forma adequada, e a tecnologia possibilita a construção de múltiplos estímulos.
Técnicas narrativas, plataforma de jogos e músicas, fantoches e outras atividades lúdicas que envolvam elementos da cultura brasileira podem ser utilizados como aliados no aprendizado de crianças com deficiência, como acontece na metodologia Conecturma.
Tudo o que foge ao convencional modelo “livro didático e quadro negro” já pode conquistar a atenção dos alunos. Em crianças com déficit de atenção, por exemplo, a utilização dessas ferramentas pode trazer resultados concretos, como foi o caso da estudante Luna.
Esses recursos podem ser utilizados em atividades individuais ou coletivas. Com o uso da metodologia correta, eles desenvolvem as habilidades socioemocionais dos alunos, como respeito à diversidade, resolução de conflitos, análise de problemas e tomadas de decisões, vivência cultural, estímulo ao autoconhecimento, entre outros. Em um sistema regular de ensino com alunos deficientes, não apenas o aprendizado deve ser adequado e atrativo para estas crianças, como a metodologia de ensino precisa estimular que elas sejam respeitadas e se sintam parte da comunidade escolar da mesma forma que os outros alunos.
Para crianças com deficiência, que até pouco tempo não tinham muitos meios para aprender em sala de aula, essa diversidade proporcionada pelas novas tecnologias facilita o seu acesso ao conteúdo educativo.
Os alunos estão acostumados a estudar sempre com o livro, mas quando um professor começa a utilizar a tecnologia a seu favor, os alunos começam a perceber que existem outras formas de adquirir informação. Artigos na internet, filmes, aplicativos, tudo isso pode trazer informação e deixar a aula mais interessante.
Entender e incluir as diferenças no dia a dia da sala de aula é um desafio para professores, gestores e pais. Há algumas décadas, era impensável juntar crianças deficientes e alunos regulares em um sistema comum de ensino. Hoje, com metodologias inovadoras, isso não só é possível como necessário para garantir que essas crianças se tornem jovens e adultos autônomos.
Não devemos esquecer que a educação inclusiva é um direito garantido e foi criada para dar oportunidades para que todas as crianças e adolescentes façam parte do sistema regular de ensino, convivendo com a diferença e respeitando a diversidade.
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Rafael Parente é PhD em educação (NYU), CEO da Aondê / Conecturma (empresa de educação e tecnologia), cofundador do Movimento Agora!, criador e apresentador do Canal Educação na Veia, membro do conselho do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (FGV/EBAPE Rio) e sócio-efetivo do Movimento Todos pela Educação.