Conferência Latino-Americana de Linguagem Simples reúne 13 países no Rio

Conferência Latino-Americana de Linguagem Simples reúne 13 países no Rio

Um grande grupo de pessoas se reúne para uma foto coletiva dentro de uma sala de eventos. Há homens e mulheres de diferentes idades, algumas pessoas com deficiência e uma mulher segurando uma boneca do projeto “Eu Me Protejo”. Todos sorriem para a câmera, demonstrando entusiasmo e união.
O evento aconteceu na Cápsula, o Centro de Inovação do Senac no Rio de Janeiro

A conferência mostrou que usar linguagem simples é uma forma de incluir mais pessoas e fortalecer a democracia

Nos dias 29 e 30 de outubro, o Rio de Janeiro sediou a Primeira Conferência Latino-Americana de Linguagem Simples (CLALS 2025), que reuniu participantes de diversos países da América Latina, Europa e Oceania. O evento promoveu um amplo debate sobre o papel da linguagem simples na promoção da transparência pública e da inclusão, reunindo governos, comunicadores, pesquisadoras e ativistas comprometidos com o fortalecimento da democracia por meio de uma comunicação acessível.

A conferência foi transmitida ao vivo, nos dois dias de programação, pelo canal do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) no YouTube, ampliando o alcance das discussões para o público de diferentes países. As transmissões estão disponíveis em português e em inglês, acessando a Gravação da Primeira Conferência Latino-Americana de Linguagem Simples e Leitura Fácil

A diretora do Centro de Referência em Educação Inclusiva (CREI), Maria Antônia Goulart, explicou que o evento é um passo importante para mudar a forma como governos e instituições se comunicam:

“Este encontro permite ampliar o acesso à comunicação para pessoas com deficiência intelectual e orientar políticas que tornem as informações mais acessíveis, inclusivas e disponíveis a todos, fortalecendo a participação cidadã e o exercício de direitos”, disse.

Durante as discussões, a ideia de que a linguagem simples é uma ferramenta de democracia apareceu em várias falas.

A secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Feminella, destacou o valor político e social dessa transformação:

“Em nome do governo federal, do presidente Lula e da ministra Macaé Evaristo, celebramos esse encontro tão representativo e potente. É incrível ver agentes governamentais, comunicadores e pessoas comprometidas com a inclusão reunidas em torno da linguagem simples, que é uma forma de popularizar o conhecimento e ampliar o acesso a direitos”, afirmou.

A jornalista e ativista Patrícia Almeida reforçou que a troca entre países é essencial para que a comunicação se torne realmente inclusiva:

“Compartilhar experiências é o que nos permite desenvolver políticas e conteúdos mais acessíveis, garantindo que todas as pessoas possam entender as informações e exercer plenamente seus direitos”, pontuou.

A professora e escritora argentina Paola Jelonch lembrou que a acessibilidade é uma condição básica da democracia, não um privilégio:

“A acessibilidade não é um novo direito, nem um direito de minorias, mas uma condição essencial para compreender os direitos humanos que pertencem a todas as pessoas. Este é o momento de unir forças e reduzir as brechas linguísticas, sociais e digitais para construir um continente mais justo.”

Oficinas e experiências práticas

As oficinas da conferência mostraram como a teoria pode se transformar em prática.

Na Oficina 1 – “Desenho Simples: teoria e exemplos práticos”, conduzida por Diego García Díaz (Argentina) e Cecilia Quental (Brasil), os participantes aprenderam a revisar textos e formulários pensando em quem vai ler, especialmente pessoas com deficiência, baixa escolaridade ou pouco acesso à informação.

A Oficina 2 – “Técnicas de validação em Linguagem Simples e Leitura Fácil”, com Óscar García Muñoz (Espanha), Tatjana Knapp (Eslovênia) e Sandra Marques (Portugal), apresentou metodologias europeias em que pessoas com deficiência intelectual validam os textos públicos, garantindo que as mensagens sejam realmente compreendidas.

A coordenadora da OSC Mais Diferenças, Carla Mauch, destacou que tornar a leitura acessível é um ato de inclusão e cidadania:

“A linguagem simples tem um papel fundamental para que possamos avançar na garantia plena de acessibilidade para pessoas com deficiência intelectual, com surdez ou com baixo letramento. Ela democratiza o acesso à leitura e à informação, formando leitores que antes não tinham oportunidade de acessar conteúdos adaptados às suas necessidades.”

Diversidade, justiça e inovação

Outros painéis da conferência apresentaram experiências inovadoras em diferentes setores, da saúde ao sistema de justiça.

A pesquisadora Laís Silveira Costa, da Fiocruz, lembrou que as barreiras comunicacionais ainda refletem desigualdades profundas:

“As pessoas com deficiência enfrentam barreiras estruturais e comunicacionais que limitam o acesso a informações acessíveis. É muito mais fácil encontrar uma rampa do que um texto em linguagem simples no sistema de saúde, por exemplo.”

Já os Laboratórios de Inovação do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e do TRT da 11ª Região apresentaram o projeto Linguagem de Cidadania dos Povos Indígenas do Amazonas, criado com a participação direta das comunidades indígenas.

A coordenadora do projeto, Gisele Souza, explicou que traduzir a linguagem jurídica é também reconhecer a diversidade cultural:

“O projeto nasceu da escuta dos povos indígenas e da necessidade de traduzir a linguagem jurídica em termos simples e acessíveis. Quando as pessoas entendem o conteúdo dos documentos e decisões, participam mais das decisões que afetam suas vidas.”

Essas experiências mostraram que a linguagem simples não é apenas uma técnica de comunicação, mas uma estratégia de inclusão que valoriza as culturas, saberes e modos de expressão de cada povo.

Cooperação e futuro da comunicação acessível

Durante os dois dias de conferência, o público participou de painéis sobre tradução audiovisual, multilinguismo, acessibilidade cognitiva e alfabetização em linguagem simples, que destacaram a importância da cooperação internacional e do diálogo entre diferentes realidades linguísticas.

O evento foi encerrado com a criação da Rede Latino-Americana de Linguagem Simples e Leitura Fácil (Red Latinoamericana de Lectura Fácil), reunindo pesquisadoras e representantes de Brasil, Argentina, México, Colômbia, Uruguai e Equador.

O grupo pretende fortalecer políticas públicas e projetos conjuntos de comunicação acessível em toda a região.

Ao final, foi elaborada a Declaração do Rio sobre Linguagem Acessível e Participação Inclusiva, que será publicada em português, espanhol, inglês e linguagem simples, com diretrizes para garantir o direito de compreender e ampliar a participação social.

Promovido pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNDPD), em parceria com o Centro de Referência em Educação Inclusiva (CREI Sesc/Senac-RJ), o evento contou com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, do Instituto Jô Clemente, do Laboratório Pólen (Fiocruz/ENSP), da Xarxa AccessCat, da Inclusion International, da Down Syndrome International, do Instituto Interamericano sobre Deficiência e Inclusão, da Fundação Visibilia, da Asdown Colômbia, da Lectura Fácil México e da Rede Latino-Americana de Organizações de Pessoas com Deficiência e suas Famílias (RIADIS).

Confira a galeria de imagem que a Inclusive News preparou:

Texto: Michelle Catarine Machado

Edição: Inclusive News

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