SP – Os bares e a acessibilidade

http://vejasaopaulo.abril.com.br/red/servico-deficiente/

Daniela Toviansky

A noite também é deles: Marcelo Rubens Paiva na noite de estréia de
um espetáculo na cidade

Sexta-feira é dia de happy hour e, depois do trabalho, muita gente vai tomar um chope com os amigos. Para alguns, no entanto, o programa pode ser um transtorno. É que os bares da cidade praticamente ignoram um público muito especial. Segundo dados do IBGE, há em São Paulo cerca de 1,5 milhão de pessoas com algum tipo de deficiência física. É gente que usa cadeiras de rodas ou tem algum outro tipo de dificuldade de locomoção, não enxerga ou não ouve. Muitas trabalham e vivem com independência e autonomia, mas, na hora de se divertir, esbarram em lugares e pessoas despreparadas para recebê-las. Os bares da cidade praticamente ignoram esse público.

Dos mais de 250 endereços que fazem parte do banco de dados do Portal Veja São Paulo, apenas 39% tem condições mínimas para receber portadores de deficiência física: rampa e banheiro adaptado. O escritor Marcelo Rubens Paiva, tetraplégico desde que sofreu um acidente no fim dos anos 70, diz que já perdeu a conta das situações constrangedoras pelas quais passou. “Eles [os bares] falam que têm acesso, mas quando chego lá tem um ou dois degraus. Isso não é acesso, porque para entrar você precisa ser carregado. E, às vezes, é chato ser carregado.”

Deficientes visuais e auditivos também precisam de condições especiais para serem integrados ao ambiente de um jeito confortável. Isso inclui oferecer cardápio em braile e funcionários capazes de atender sem constranger e também de minimizar possíveis limitações do ambiente. Markiano Charan Filho, presidente da Associação de Deficientes Visuais e Amigos (Adeva), é cego. “É fundamental que os funcionários sejam treinados para receber as pessoas”, diz. “Uma vez, entrei em um bar para perguntar se eles tinham cardápio em braile e o garçom achou que eu estava pedindo esmola.”

Ser acessível é um dever

A legislação federal prevê que todo edifício aberto ao público seja acessível. Esse conceito amplo não diz respeito só à entrada e à saída em um prédio. É preciso oferecer condições para que todos transitem pelo local e comuniquem-se com autonomia. Quem deve cobrar as condições adequadas dos estabelecimentos é a subprefeitura do bairro, que emite o alvará de funcionamento. “Existe uma lei municipal que diz que locais de reunião com mais de 100 pessoas são obrigados a ter acesso para deficientes. Com base nisso, alguns lugares alegam ter circulação inferior a esse número. Mas a legislação federal afirma que qualquer edifício público ou privado deve ser acessível”, diz a vereadora Mara Gabrilli (PSDB), que é tetraplégica e luta por melhores condições de vida para os deficientes.

Na tentativa de melhorar essa situação, uma saída pode ser estimular comportamentos adequados com reconhecimento. Essa é a opinião de Renato Baena, atual secretário municipal da pessoa com deficiência e mobilidade reduzida. Baena explica que a prefeitura vem desenvolvendo desde 2005 um programa que confere estrelas para estabelecimentos comerciais com bom nível de acesso. Funcionará assim: os donos dos lugares contratarão arquitetos treinados pela secretaria para fazer uma vistoria, uma avaliação do lugar, e conferir uma espécie de relatório de acessibilidade. Os dados serão auditados pela prefeitura. Quanto melhor a acessibilidade, mais estrelas a casa terá em sua placa (ou selo), exibida para os clientes. “A conquista é gradativa. É necessário criar costumes antes de leis. Nós importamos um conceito, mas os hábitos não foram assimilados pela sociedade”, diz Baena. Essa sinalização estará na porta de 1500 lugares já inscritos no programa, que será lançado oficialmente em agosto deste ano. Infelizmente os bares ainda não sentiram-se estimulados a aderir ao projeto, já que nenhum se candidatou à plaquinha estrelada.


Free Hit Counter

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *