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24Jul08
Fábio Adiron
Há séculos as pessoas se encantam, se perturbam e se debruçam sobre paradoxos de todas as espécies. Eles são um material bastante rico para a reflexão de lógicos e filósofos desafiando a racionalidade dos mesmos. Muitos primam pelo absurdo, outros, no entanto não só servem para um exercício de curiosidade como também são ferramentas da ciência na sua busca de respostas para os problemas do mundo.
O filósofo Guido Imaguire classifica os paradoxos em três tipos : os semânticos, os lógicos e aqueles que ele denomina de paradoxos empíricos e, ele mesmo se debruça longamente a respeito de um dos mais populares desses paradoxos : o que veio antes , o ovo ou a galinha ? O que pode parecer uma brincadeira infantil, ou um debate religioso entre evolucionistas e criacionistas é, na verdade, uma questão que afeta várias áreas do conhecimento, inclusive a educação.
A discussão sobre a primazia do ovo ou da galinha acaba de ser reacesa com lançamento do livro “Educação Profissional” de Jarbas Novelino Barato pela Editora Senac. A tese em pauta é quem educa quem : é o cérebro que ensina as mãos, ou são elas que, através da repetição condicionam os neurônios a exercer determinadas habilidades ?
Em que pese o fato desse paradoxo ser apenas mais um entre tantos outros (seja o pensar que determina a realidade, ou a realidade que constrói o pensar marxista, ou a questão de linguagem e raciocínio vigostkyana), a crítica do livro à hegemonia da formação acadêmica sobre o exercício profissional prático pode induzir o leitor à desvalorização da formação conceitual em benefício da prática pura e simples e, com isso, minorar a já pouca importância dada aos nossos professores.
Mesmo que o livro queira apenas conter os ditos “excessos” acadêmicos, que realmente existem ele, ao mesmo tempo dá alimento teórico aos inimigos da formação teórica, o que não deixa de ter um certo cunho político afinal, até mesmo na nossa política temos hoje a contraposição de um presidente “prático” que sucede o “acadêmico”, chegando ao ponto da maior autoridade econômica do país ser hoje um médico.
Acreditando que só conceitos bem estruturados podem conduzir a resultados sólidos em qualquer área do conhecimento, precisamos aprender a valorizar a nossa formação acadêmica e, principalmente, os mestres que nos conduzem através dela. A prática pode aperfeiçoar uma habilidade, a repetição pode torná-la de mais fácil execução, mas jamais vamos ter o domínio completo de uma tarefa se não entendermos como é que ela se constrói ou quais são as suas origens e os seus objetivos. Caso contrário não seremos melhor que qualquer aparato mecânico de repetição.
O risco maior é, no entanto, ideológico, uma vez que pessoas educadas apenas no exercício prático de tarefas podem, de forma mais fácil, serem controladas pelos detentores do conhecimento e, nesse caso, não terão a possibilidade nem de questionar se o ovo antecede a galinha.
Fábio Adiron é marketeiro e pai. Membro do Fórum Permanente de Educação Inclusiva e moderador do grupo Síndrome de Down.