Um dia para quem quer se tornar pai

por David Moyses , O Estado de São Paulo

Não tem sido nada fácil ser pai. É ótimo, portanto, ter um dia para marcar sua importância e, quem sabe, dar um incentivo a quem anda na luta para ser um espécime de verdade.

Ninguém ensina a ser pai, os modelos estão fracos e confusos, e os bons exemplos são raros. Perdemos referências culturais que moldavam a atuação dos homens quando se casavam e tinham filhos.

O moralismo e grande parte da hipocrisia que cristalizaram papéis sociais no passado foram despejados ralo abaixo, mas a água suja que levou embora o autoritarismo militar paterno levou também sua autoridade necessária.

Quem se esforça hoje para se tornar pai tem desafios duplicados. Bem entendido: tornar-se pai não é chegar àquele dia em que os colegas da firma lhe dão parabéns pelo trabalho supremo que sua parceira realizou na sala de parto; na verdade, aí é que começa o real trabalho masculino de virar pai.

Um trabalho em campo minado, já que a rotina e os apelos do mercado disparam estímulos constantes no sentido oposto ao do esforço de um pai legítimo. Tudo ao redor diz para ceder, comprar, deixar, abrandar, quando a essência de sua função é ser uma referência de lei, limite, frustração das vontades dos filhos, com o devido amparo, respeito e acolhimento de seus protestos.

É comum ouvir que os pais hoje estão divididos entre o autoritarismo do passado e a permissividade pós-moderna. Talvez não seja bem assim. O autoritarismo – que não se referencia numa lei, e sim na vontade do autoritário – tem o mesmo caldo da omissão, da preguiça, da comodidade e da falta de compromisso com o trabalho paterno.

Há muito em comum entre os autoritários do passado e os de hoje, que se comportam como consumidores ranhetas em relação aos filhos que não executam a contento as funções de conforto e entretenimento parentais. O discurso moderno é cheio de armadilhas.

Famílias e comunidades mudaram, e há pouco apoio no entorno. Os pais que realmente querem assumir suas funções têm, praticamente, de se isolar dos padrões sociais para construir essa postura de autoridade e referência.

A esses pais, a boa notícia é que não estão sozinhos, embora se sintam assim muitas vezes.

Feliz dia dos pais.

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