Por uma sociedade inclusiva: Educação é um direito de todos nós!

por Claudia Aguiar

No dia 9 de julho último, foi comemorado o primeiro aniversário da ratificação, por parte do Conselho Nacional, da convenção da ONU sobre os direitos da pessoa com deficiencia. Esta Convenção objetivou a mudança do olhar da sociedade sobre a pessoa com deficiência, proporcionando ao indivíduo perspectivas de inteiração com o meio onde vive, assegurando a igualdade de oportunidades e direitos, além de proibir qualquer tipo de preconceito com relação a todas as pessoas de forma justa e igualitária.

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Na fotografia, Fernanda Honorato (Rio de Janeiro), Claudia Werneck (Escola de Gente), Claudia Grabois (FBASD), Claudia Aguiar (Petrópolis -RJ) e Gerivãnia (Aprendendo Down).

A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, através de sua presidente, Claudia Grabois, com o apoio do MEC e da Secretaria Especial de Educação organizou, nos dias 9 e 10, um Seminário Nacional em Brasília para o qual fui convidada e tive o prazer de participar. O objetivo principal foi a deliberação e a conscientização das associações e personalidades presentes sobre uma educação inclusiva, inquestionável e indisponível, visando a realidade de todos os alunos estarem, num futuro próximo, matriculados nas classes comuns da escola regular.

Neste encontro histórico estiveram presentes mais de 65 pessoas, dentre elas, representantes de Associações que trabalham com Síndrome de Down (associadas ou não à Federação), profissionais da área de Educação e outras áreas afins e todos os que se encontram envolvidos com a Educação inclusiva, além de representantes do Governo Federal . Cabe citar a presença de Rogério Sottili – Ministro Adjunto da SEDH, Martinha Clerete – Diretora de Políticas de Educação Especial da SEESP, Denise Granja – Presidente do CONADE e o Ministro do STE – Dr. Joelson Dias.

Durante as diversas palestras, foram apresentados e colocados em discussão temas como: A sociedade e suas diferenças, a política de educação Especial na perspectiva da Educação inclusiva, avanços legais – Convenção da ONU, Decreto 6.571/2008, Educação inclusiva e AEE – Atendimento Educacional Especializado e o papel do controle social na garantia à Educação de qualidade, todas organizadas pela manhã e à tarde, contando inclusive com a participação de adolescentes com Síndrome de Down que abrilhantaram esse encontro, participando das mesas juntamente com os palestrantes ou dando sua contribuição, tendo sido aplaudidos por todos os presentes.

Um dos assuntos considerados importantes foi o uso equivocado da palavra “deficiente” ou deficiência que se refere à falta de alguma coisa e que tem como antônimo a palavra: Suficiente.  O fato é que na sociedade em geral, muitas pessoas utilizam o termo Deficiente como antônimo de Eficiente o que tem causado constrangimentos, levando à idéia de inaptidão. Na realidade o antônimo de Eficiente é Ineficiente e de Deficiente é Suficiente.

Dentre os palestrantes convidados, contamos com a presença de Claudia Werneck – jornalista, Claudia Pereira Dutra – Secretária de Educação Especial do Ministério da Educação (SEESP/MEC), Martinha Clarete Dutra dos Santos – Diretora de Políticas da Educação Especial (SEESP/MEC), Antônio Sestaro e Clarete Crosara – Federação Brasileira de Síndrome de Down (FBSD), Claudia Grabois – Presidente da Federação Brasileira de Síndrome de Down, como também de mesas formadas pelas Associações convidadas. Foram colocadas em discussão suas experiências, sendo um dos temas a deficiência numa sociedade não inclusiva, fato este gerador de preconceito e, a impossibilidade de um indivíduo com algum tipo de deficiência conseguir um lugar justo e digno mercado de trabalho.

Afinal, um usuário de cadeira de rodas enfrentará muitos problemas se trabalhar onde não tenha sido construída uma rampa de acesso como também, uma criança com deficiência intelectual poderá ter prejudicado seu aprendizado na escola em razão de atitudes de um professor, pela não adequação de currículos e materiais de aprendizado às suas dificuldades, pela existência de diretoras de Escola inflexíveis e sem vontade política em se adaptar a um aluno que tenha um ritmo de aprendizado diferente. A sociedade tem que estar preparada para conviver com as inúmeras diferenças entre os indivíduos que nela convivem, diferenças estas que podem ser de altura, peso, visual, motora ou intelectual. Muitos têm alguma deficiência de visão, de audição etc. e não se consideram deficientes!  Sem os avanços tecnológicos como lentes de contato, óculos de grau, aparelhos auditivos e outros tantos, estes seriam também, quem sabe, banidos do convívio social.

Na foto, Bárbara, 19 anos, filha de Claudia Aguiar, se diverte com os amigos na comemoração de seu aniversário em uma boate.
Na foto, Bárbara, 19 anos, filha de Claudia Aguiar, se diverte com os amigos na comemoração de seu aniversário em uma boate.

O que a maioria das pessoas não entende é que num dia se está “perfeito” mas no dia seguinte pode-se sofrer um acidente e ficar com alguma sequela. Este fato ocorreu com o querido músico Herbert Viana e muitos outros artistas e até atletas que, na situação atual de cadeirantes, após sentirem na própria pele a necessidade de rampas de acesso e outros facilitadores, passaram a divulgar e abraçaram a bandeira da inclusão utilizando sua imagem pública na defesa da adequação dos espaços públicos da sociedade.

Após o encerramento das palestras e depoimentos, houve um terceiro momento onde cada grupo e personalidade presente assinou uma Carta de Compromisso sobre os direitos das pessoas com deficiência, comprometendo-se a promover e divulgar os preceitos da Convenção que traz como princípios: A não discriminação, a plena participação e inclusão da pessoa com deficiência na sociedade, o respeito pela diferença e a igualdade de oportunidades e a acessibilidade.  Além das assinaturas de todas as entidades e personalidades presentes nesse Encontro, já assinaram: o Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público Federal, o Tribunal de contas do Estado do Mato Grosso, Governos de Estado, Prefeituras, entidades de defesa de direitos, conselhos nacionais, personalidades publicas: Pelé, Ronaldinho Gaucho, Zico, Roberto Dinamite, Neguinho da Beija Flor, Escolas de samba e times de futebol. Neste evento, a Federação Brasileira das Associações de SD e suas entidades afiliadas, a UFRJ, a UERJ e o Instituto Interamericano sobre ciência e desenvolvimento Inclusivo.

Dizer que a Educação é um direito de todos e dever do Estado é dizer que também será IGUAL para todos independente de raça, sexo, com deficiência ou não. Ninguém nasce igual a ninguém ou aprende alguma coisa exatamente ao mesmo tempo em que outro ser humano sendo, portanto, preciso haver respeito às diferenças que existem entre todos nós, objetivando a construção de uma sociedade inclusiva e solidária onde as pessoas tenham oportunidades iguais.

A deficiência está na forma de olhar e não nos indivíduos.

É chegada a hora de uma tomada de consciência, tanto da sociedade civil como da classe política, para que  pessoas com deficiência não mais sejam tratadas como objeto de caridade e sim, como cidadãos com direito a plena participação na sociedade!

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Sobre o autor:

Claudia Aguiar é pedagoga e especialista em inclusão escolar.
Artigo publicado originalmente no Jornal Tribuna de Petrópolis em 24/07/2009.

9 Comments

  1. Na realidade o antônimo de……………..

    Eficiente é Ineficiente
    e de
    Deficiente é Suficiente.

    Este esclarecimento de antônimos citados e muito bem esclarecidpos em sua reportagem são : Eficientes e Suficientes,
    para determinar tudo que gostariamos que todos entendessem e praticassem nesta nossa
    sociedade!

  2. Adorei o artigo e concordo com tudo o que foi escrito!!!
    As pessoas precisam que se mancar e parar de achar que deficientes não tem direito a estudar, que são coitadinhos e não tem capacidade pra aprender.
    Todos tem direito à educação, TODOS, e é dever do governo prover!!!
    Beijos!

  3. Quero saber se todos so downs tem amigos normais,que vistam sua casa?
    Convidam para passear sempre?
    Tem namorados normais?
    Quero deixar bem claro…que meu filhoesta feliz como esta,junto com iguais a eles e nao vou permitir,e vou lutar para nao acabar escolas especiais.
    A diferença existe temos que conviver e amar os diferentes,pois eles ensinam muito.
    Eliete Pena

  4. Concordo com você Patricia. Em primeiro lugar tenho 3 filhas e as trato da mesma forma: nunca usei esse termo – Normal! dei a elas a s mesmas oportuidades desde o nscimento: mamar, engatinhar, andar, falar… e por aí vai… Uma teve que usar botas, a outra aparelho, a outra fono…cada uma ao apresentar suas dificuldades foi encaminhada a quem de direito. Por isso hj tenho a felicidade de ter 3 filhas equilibradas que convivem com qualquer pessoa: pobre, rica, negra, índia, cadeirante Down ou não. Pra mim são todos indivíduos com características próprias. As escolas “especiais” segregam quem está nelas do convívio social e depois reclamam que não são aceitos…
    Minha filha não é normal, nem anormal ,nem nada! É Barbara Aguiar com seus acertos e dificuldades.
    Abraços!
    Claudia Aguiar

  5. Eliete, bom dia!

    Tenho uma irmã com Síndrome de Down e a maioria de seus amigos são “normais”, como vc diz…
    Visitam a casa sim, chamam sempre para passear e andam sempre com ela.
    Ela se aceita como Down e se dá muito bem com todos, pois nunca a fechamos ou escondemos do mundo, dentro de uma redoma.
    Consequentemente ninguém tem nenhum problema com ela, pelo contrário é adorada em todos os lugares onde vai.
    Com relação às instituições que cuidam de crianças especiais, muitas delas (muitas) apoiam a causa de que as pessoas com deficiencia MERECEM educação e ensino, como qualquer outra pessoa.

    Sendo assim, a diferença acaba por estar em nossas cabeças e precisamos ter cuidado para não transferir esse pensamento para as crianças e adolescentes, deficientes ou não.
    Não devemos excluir os deficientes e penalizá-los por acharmos que eles não merece chances iguais como todos, ou que não podem melhorar mais. Seria muito egoísmo nosso.
    O progresso sempre será possível, mas temos que acreditar nele.
    Um beijo grande, enorme, pra você e para o seu filho e fiquem com deus.

  6. Sou estudante de Biologia, tenho 21 anos, sou “normal” como alguns preconceituosos me intitulam, e sou AMIGA da Bárbara que tem Sindrome de Down.
    Em resposta a um comentário que eu encaro como PRECONCEITUOSO
    Eu e meus amigos NORMAIS frequentamos sim a casa da Bárbara que é NORMAL TAMBÉM! Quem não é normal é essa mãe que chama o próprio filho de ANORMAL! nunca vi isso!
    Levamos a Bárbara para boate, até cantadas ela recebeu e de gente NORMAL heim?…
    Preconceito é uma coisa que existe.. imaginem se fossem colocar todos os gordos em uma escola separada, por que são gordos né? Então tem que estar separados… Vendo por esse lado a sociedade se tornaria algo totalmente dividido… Eu mesma sofri muito preconceito na escola por que usava óculos… Ahh… então vamos separar todo mundo de óculos em uma nova escola por que é mais fácil fingir que o preconceito não existe e não lutar pelos seus direitos do enfrentar o mundo pra provar que pessoas mães que chamam o PROPRIO FILHO DE ANORMAL estão erradas.
    Parem com essa coisa de normal.. não existe NORMAL, oque existem são seres humanos ÚNICOS com MILHÕES de diferenças. Então quem pode dizer oque é normal?

  7. Querida e amigas maes de Down
    Nunca escondi meu filho, todos da FEDERAÇAO SABEM!
    SOU PRESIDENTE E FUNDADORA DA ASSOCIAÇAO PROJETO DOWN DE JAU E REGIAO.
    E LUTEI MUITO PELA INCLUSÃO,PERGUNTEM AO ANTONIO CARLOS SESTARO E PARA AMIGA MADALENA CLAUDIA WERNEK,QUEM SOU!!!
    So podem me julgar quem me conhece!!!
    E conheceu meu trabalho em Jau e regiao.
    Vcs sabem quem sou ?
    O que fiz?
    E quem é meu filho Cacá???
    Meu filho ficou com a alta estima baixa ,quando viu que nao conseguia entender geografia,historia ,matematica etc e tal…
    Quando nenhum amigo convidava ele para aniversario ou ir na casa dele,so eu levava em casa….
    Chorei muito pela tristeza de meu filho,vcs nunca choraram???
    Nunca viram nada???
    /Será que um normal vai namorar nossos filhos?/
    Ai ele ficou com psicose infantil e com momentos de autismo /momentos de autismo quase todo down tem,fazem a pesquisa do google/
    Meu sofrimento foi muito,mas hoje consegui,com ajuda equipe da MIRELLA ,ADID E A CRISTINA /A.T/ em São Paulo,onde moro hoje!!!
    Hoje o CACA esta otimo ele é lindo de verdade,muito lindo,vejam no meu orkut.
    Hoje acredito /por que sou livre para pensar e ir onde quero pois somos democracia ou não???/
    O Cacá convive com todos normais tambem….
    Mas ele é feliz com os down igual a ele.
    Eu desafio vcs a levarem em uma escola so de down uma semana,e veja se seus filhos nao vão gostar….desafio a todas!!!
    Pois uma menina normal nao quer namorar com ele.
    Mas uma down que ele gosta quer!!!
    Não tenho vergonha de escrever aqui e dizer que meu filho Caca escolheu estudar na ADID ,assim vai ser!!!
    Ele tem direito de escolha como eu tenho!
    Hoje ele tem 16 anos já é um moço,é lindo!
    Embora a constuiçao diga que todos são iguais perent a lei,sob esta otica,nao se pode diferenciar as crianças ditas normais d e um down
    Uma criança com Down nao pode ter uma educaçao de uma normal ela precisa de uma educaçao qualificada!!!
    E precisa de ajuda sempre!
    Ou estou falando alguma mentira ???

    Ouvi falar que uma mae de down vai fazer faculdade de moda com o filho so para ajuda-lo
    ENTAÕ VOU CHAMAR ISSO DE INCLUSÃO???
    Não vamos tapar o sol com a peneira.
    Vamos aceitar que nossos filhos precisam de ajuda sim e vao sempre precisar!!!
    Então e vou pra escola normal com o Cacá tambem!!!
    Eu aceito hoje como ele é com suas dificuldades .
    Ele tem necessidades e mutas.
    Eu tenho experiencia e sofri muito e tenho provas e posso falar sempre!
    A INCLUSÃO E PARCIAL.
    Desculpa meninas ,e amigas em down,assim posso chamar.
    Vmaos nos unir em amor .
    Pois cada um tem sua opiniao e sua historia e vamos respeitar!
    Muita luz,paz a todos!
    Eliete Pena
    Pedagoga ,Moda /consultora d emoda e Personal/e mae do Cacá lindo!

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