Após um dia num parque em Itaquera, Marília Cabral, de 48 anos, que mora em Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, foi ao restaurante com a família, no dia 26 de outubro, quando o filho, Flávio, foi impedido de entrar nos brinquedos junto com outras crianças. Por Bruno Zette, no SRZD.
“Depois do parque, levamos as crianças para lanchar no Habib’s. Pedimos os lanches e enquanto esperávamos, as crianças foram para os brinquedos. Meu marido ficou tomando conta delas, quando o ouvi meio alterado e fui ver o que tinha acontecido. Ele me disse que as funcionárias não queriam deixar o Flávio entrar na piscina de bolinha nem no navio”, contou Marília ao SRZD.
A mãe pediu para falar com a gerência logo em seguida. “Pedi para chamarem o gerente e veio um senhor chamado Cícero. Perguntei com toda educação por que meu filho não podia entrar nos brinquedos. Ele respondeu que era ‘por causa desse problema que ele tem’, ou seja, por ele ser down”. Após o ocorrido, Marília, nervosa, prometeu entrar com uma ação judicial contra o restaurante. “Quando disse isso, ele ironizou. Respondi que quem tinha problema era ele, que não estava preparado para ser gerente”, disse a mãe.
Marília disse que foi uma funcionária do Habib’s – que pediu para não ser identificada por medo de ser demitida – quem passou o endereço e o nome do gerente para que ela pudesse processar o restaurante. “Liguei para a polícia várias vezes e não consegui. Chegando em Santo André, encontramos as delegacias fechadas. Fui à do Centro e me disseram que eu só poderia prestar queixa na delegacia mais perto da minha casa, só que lá não abre nos finais de semana”, disse.
Como segunda-feira, dia 28 de outubro, foi dia do Servidor Público, Marília só conseguiu ir à delegacia de Santo André no dia 29. Além disso, acionou uma advogada para cuidar do caso.
Segundo a mãe da criança, o Habib’s só entrou em contato com ela na última sexta-feira, dia 14. “Ofereceram cinco jantares que eu quisesse e prometeram dar uns brinquedinhos para o meu filho”, relatou Marília, indignada. “Eu disse que só aceitaria se não tivesse vergonha na cara. Depois disso, resolvi desabafar, porque já estou cansada de ver meu filho depressivo, roendo as unhas, triste. “A justiça no Brasil é muito lenta”, concluiu.
No dia 17 de fevereiro, Marília publicou em sua conta do Facebook uma denúncia sobre o ocorrido. A nota já conta com mais de 49 mil compartilhamentos e mais de 15 mil curtidas. Foi quando o caso ganhou repercussão na rede social. “Postei em forma de desabafo, não sabia que ia repercutir desse jeito”.
Habib’s emite comunicado
O restaurante só deu uma resposta à mãe da criança em fevereiro.
Em nota enviada ao SRZD, a assessoria de imprensa do Habib’s informa que, na ocasião, coube à gerência da loja fazer um alerta à consumidora sobre os procedimentos de segurança relativos aos brinquedos, o que inclui os cuidados com pessoas com deficiência. Após receberem as orientações, os pais autorizaram e acompanharam o uso dos brinquedos pela criança.
O procedimento, de acordo com a assessoria, seguiu diretriz NBR 15926-4 da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – a qual indica que cabe ao operador orientar sobre o uso do brinquedo caso a saúde e segurança do cliente sejam colocadas em risco. O Habib’s considerou o caso como resolvido no local.
Uma brinquedoteca é local de inclusão e socialização. Fatos como esse relatado derivam da falta de esclarecimentos acerca dos cuidados com a acolhida dos menores e suas famílias em espaços lúdicos, entre eles os situados em locais comerciais como o citado. As brinquedotecas comericias devem ser coordenadas por profissionais bem capacitados, para serem solução e favoreceram a ampliação dos negócios e não para serem causa de problemas. Para tanto, brinquedistas habilitados devem e podem apoiar os colaboradores dessas empresas quanto às questões de segurança e discutir posturas adequadas diante de crianças com deficiências. A Associação Brasileira de Brinquedotecas forma brinquedistas desde sua fundação e oferece informações e assessorias para iniciativas bem sucedidas na área do brincar.
Sinto muito pelo ocorrido Marília. Aproveito para parabenizar vc por seu empenho em tornar público o ocorrido pois só assim, pessoas despreparadas como essas que trabalham numa rede tão conhecida como o Habbib’s tomam conhecimento da realidade e aprendem que existe Lei neste país. Elas vão perceber que pessoas com síndrome de down são mais capazes de viver em sociedade do que elas próprias.
Christiane.