Minha causa, sua causa. Oprimidos, uni-vos contra a opressão!

Em fundo amarelo, porta de casa ladeada por dois vasos de planta coloridos, lampioes e um tapete colorido a frente da porta e os dizeres, em grades letras vermelhas - mi casa (em cima) su casa (em baixo)

Por Patricia Almeida, com colaboração de Marta Gil *

Sou ativista pelos direitos das pessoas com deficiência e acabo de compartilhar um link no Facebook de um amigo que milita pelos direitos da comunidade LGBT. Nem pensei duas vezes, apenas saiu. Pra mim isso já é natural. Chama-se empatia. A causa de uma minoria é de todas. E, assim como os direitos, o valor do ser humano é igual. Não tem quem seja mais gente ou menos gente. – ou pelo menos é assim que deveria ser. A Física Quântica mostra que estamos todos ligados. Antes dela, a Declaração dos Direitos HUMANOS. Somos todos terráqueos, com um visual sortido :-))

Infelizmente olho à minha volta e não vejo o mesmo movimento partindo de muitos dos meus amigos – e tenho vários, de vários segmentos marginalizados, mulheres, negros, indígenas, LGBT. Não me sai da cabeça o acontecido na Conferência das Mulheres da qual participei representando as mulheres com deficiência. Os grupos de mulheres lésbicas e negras, não reconheciam nem queriam saber de dividir o espaço com as mulheres com deficiência. Pra completar, o pequeno grupo de mulheres com deficiência presente me hostilizou por não eu mesma não ter deficiência (sou “apenas” mãe de uma menina com deficiência intelectual) e, portanto, não ser tida como representativa.

Tenho me emocionado com a mobilização sem precedente conseguida pelas mulheres contra as arbritariedades do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. E também com a luta dos estudantes que vêm ocupando as escolas em São Paulo, desafiando a decisão de cima pra baixo do governador Alckmin de fechar várias escolas, sem ouvir os maiores interessados. Fiz parte das manifestações nas ruas em julho de 2013 e celebrei o despertar daquela juventude que antes parecia apática. Senti muito a repressão policial e institucional aos levantes que, a meu ver, apesar de alguns excessos aqui e ali que poderiam perfeitamente ter sido controlados por agentes públicos hábeis, eram saudáveis e necessários.

Ainda assim, acho que, embora em grupo, cada qual continua olhando pra seu próprio umbigo. Pessoas dos movimentos de mulheres, LGBT, negros, de pessoas com deficiência, entre outros, cada qual lutando pelos seus 15 minutos de atenção. Será que nunca se ouviu falar em transversalidade? Não ocorre a ninguém que há estudantes trans negras paraplégicas excluídas? Homens indígenas gays cegos discriminados? Lésbicas com síndrome de Down abusadas? Assim como a deficiência não define – ou caracteriza – a etnia, cor/raça, idade, sexo, etc, tb não. Somos plurais e complexos. Se é prá por rótulo, há que colocar uma infinidade! Então, pra que a disputa?

Um exemplo gritante, de anteontem, foi a fala da deputada Mara Gabrilli, que encarou o presidente da Câmara de frente e pediu que ele se levantasse da cadeira.  Achei perfeita, super bem colocada. Repercussão??? Pouquíssima! E se essas palavras tivessem sido proferidas por um homem, branco, sem deficiência… os ecos seriam muito mais fortes, ouso afirmar.

Outro exemplo. A confederação das escolas particulares entrou com uma Ação de Inconstitucionalidade no Supremo contra a inclusão escolar. Caso o Supremo abra esse precedente, além de ferir a Constituição, abrirá o flanco para que os donos de escolas ou qualquer outro estabelecimento escolham, ao bel prazer, que “classe de gente” pode ou não pode frequentar o seu negócio. Já pensou no estrago que isso pode acarretar? Tremei,  “gente diferenciada”!

Fora as notas de entidades que entraram como Amicus Curiae, como AMPID, Abraça, Conselho da OAB, IBDFAM, Federação de Síndrome de Down, Movimento Down, entre outras, para defender a inclusão no Supremo, ainda não vi nenhum articulista comentando o assunto. Parece que é um assunto que não lhes pertence. Até que lhe afete o próprio umbigo.

A expressão mexicana “Mi casa, su casa”, pode ser traduzida como – a casa é sua, fique à vontade.  A Inclusive – Inclusão e Cidadania – as portas da Inclusive estão há anos abertas a receber contribuições de todos os segmentos em situação de opressão. Não hesite em falar com a gente.

contato@inclusive.org.br

E muito obrigada aos amigos queridos que sempre compartilharam as causas de todos.

 

Patricia Almeida, membro do Conselho da Down Syndrome International, cofundadora do Movimento Down, criadora da Inclusive – Inclusão e Cidadania e mestranda em Estudos da Deficiência pela City University of New York.

Marta Gil, socióloga, consultora na área de Inclusão, Coordenadora Executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas.

 

2 Comments

  1. Isso aí, Patrícia! Também ando chateada com a história de eu não ser considerada “representativa”. Ou de considerarem que eu milito pelos direitos das pessoas com deficiência apenas porque sou irmã de um rapaz com síndrome de Down e, neste caso, posso ser representativa da categoria dos parentes das pessoas com deficiência — seguindo este raciocínio, há quem ache que eu deveria ficar apenas no quadrado da Síndrome de Down e não me meter a tentar representar outras deficiências. Na verdade, sou a favor dos direitos humanos, apenas isso…

  2. Acredito que sou mãe como todas as mães.
    As histórias são diferentes mas as lutas parecidas.
    Já fui excluída de grupos onde trabalhava o acolhimento no momento em que perguntaram quantos anos tinha o meu filho com SD.
    Eu não tenho….

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