Consciência Negra: maior parte das pessoas com deficiência é composta por pessoas negras

Reforçar a importância da identidade, promover a igualdade e fortalecer a contribuição da cultura negra: estes são alguns dos objetivos do chamado mês da consciência negra, celebrado em novembro, em homenagem à Lei n.° 12.519, que institui o dia 20 do mês como o Dia Nacional da Consciência Negra

Mas sabemos que esse debate e reflexões não devem se limitar a esse mês, certo? Afinal de contas, o público negro, mesmo sendo a maioria da população brasileira (56%, segundo o Censo 2022), ainda é um público que sofre preconceitos, tem seus direitos negligenciados e constantes tentativas de invisibilização e apagamento de sua história. 

E, quando as desigualdades raciais e de deficiência se cruzam, a exclusão social se manifesta ainda mais, afetando a presença (e a existência!) de pessoas negras com deficiência no ambiente escolar e de trabalho, entre outros.

Por isso, hoje trazemos alguns dados e, especialmente, lhe convidamos a refletir sobre essa convergência e o seu papel nesse enfrentamento.

Capacitismo e racismo: discriminação em dobro

Racismo é o termo dado para o preconceito contra uma ou mais pessoas que pertencem a um determinado grupo racial ou étnico; já o capacitismo se refere à discriminação contra pessoas com deficiência. 

Quando há racismo e capacitismo juntos, existe um caso de interseccionalidade (ou seja, preconceitos que se sobrepõem), resultando no enfrentamento de, além da falta de acesso aos direitos e serviços básicos, desafios adicionais. 

E é necessário debater sobre. Trazemos alguns dados alarmantes para pautar a discussão:

Dados sobre as pessoas negras com deficiência

Quantidade de pessoas negras com deficiência 

Dentre os 18,6 milhões de pessoas com deficiência do Brasil, a maioria é composta por indivíduos negros: 11,2% das pessoas se identificam como pretas 45,4% como pardas, somando 56,6% do total, segundo o PNAD (2022). 

Mercado de trabalho 

55% de PCDs afirmam trabalhar informalmente — ou seja, sem vínculo empregatício — e sua maioria são pessoas pardas e pretas (59,8% e 54,8%, respectivamente), de acordo com o PNAD (2022).  

Educação 

Em relação ao ambiente educacional primário, a falta de ambientes acessíveis foi um dos principais desafios relatados por alunos de escolas públicas: é o que diz estudo realizado pela USP (2024). 

Já no nível educacional superior, apenas 0,6%, das pessoas negras com deficiência frequentam universidades públicas. Este é um dado retirado do relatório Movimento Vidas Negras com Deficiência (2023) 

A evasão escolar é uma das consequências da combinação entre o racismo e capacitismo: apenas 23,8% das pessoas pretas com 25 anos ou mais terminam o ensino básico (PNAD, 2022). 

» Leia também: 14 frases racistas para parar de usar agora mesmo

Vulnerabilidade e violência

Em 2022, foram registradas 11.979 notificações de violência contra pessoas com deficiência no Brasil. 51,6% das vítimas eram pessoas pretas e pardas, segundo dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN). 

Ainda de acordo com o Movimento Vidas Negras com Deficiência, 42,9% das mulheres negras PCDs estão mais vulneráveis a sofrer violência.

O papel das empresas contra o capacitismo e racismo institucionais

Empresas são reflexos da sociedade, ao mesmo tempo que a influenciam. Isso inclui comportamentos, hábitos e vieses de racismo e o capacitismo presentes na nossa cultura (e que os dados acima refletem), mas que passam despercebidos:

racismo estrutural, por exemplo, remete à nossa sociedade ter se fundamentado, estruturalmente, nele. Aqui, estamos falando sobre a perpetuações de preconceitos que estão há gerações sendo intensificados e tratados com “normalidade” – e, no caso específico do Brasil, a escravidão teve grande contribuição. 

racismo institucional pode ser conectado, ou não, com o racismo estrutural. Trata-se da criação de práticas de cunho discriminatório, institucionalmente “amparados” no âmbito político, público, e também privado. Em empresas, por exemplo, é comum que o racismo institucional se manifeste com pessoas brancas ocupando cargos de poder, e pessoas pretas desempenhando somente atividades operacionais. 

De forma parecida, o capacitismo institucional acontece quando as organizações contratam apenas uma cota de pessoas com deficiência (muitas vezes, o mínimo que a Lei exige) e não as trata com equidade, ou não as oferecem a acessibilidade e inclusão necessários para que exerçam suas atividades laborais ou alcem cargos mais altos. 

» Saiba mais: Lei de acessibilidade: quais são, importância e quem fiscaliza?

E, como as empresas são feitas por pessoas, é preciso convidá-las a questionarem o status quo. Confira três estratégias que a sua empresa pode realizar para ser mais anticapacitista e antirracista: 

1) Sensibilização e treinamentos 

Como citamos antes, é preciso afastar-se da nossa cultura racista e capacitista, e a única forma de fazê-lo é através da educação. Capacitar todos os times e equipes em prol de  uma sociedade mais igualitária é o caminho para a verdadeira inclusão, trazendo dados (com fizemos no decorrer desse artigo) que impactam e dando a relevância necessária aos temas para propor uma mudança efetiva.

2) Pessoas negras com deficiência não somente na empresa, mas em cargos de liderança

Quantas pessoas negras tem na sua instituição? Quantas pessoas PCDs? E ambas em cargos de liderança, têm? 

As lideranças têm um papel de não somente garantir o desenvolvimento financeiro ou técnico da empresa, mas também de inspirar, levantar bandeiras e refletir o posicionamento da empresa. Com uma representatividade legítima, sua instituição certamente conduzirá outras a fazerem o mesmo, e inspirará as pessoas colaboradoras.

3) Comitês de diversidade e inclusão 

Para que a conversa seja constante é preciso um espaço seguro e acolhedor para trocas de ideias. Comitês de D&I são ótimas ferramentas para alcançar este objetivo, já que debatem sobre mudanças culturais na empresa, tornando-a mais inclusiva e diversa. 

Clique aqui para saber como implementar.


Este é um assunto complexo e necessário. Quanto menos a interseção entre o capacitismo e o racismo for um tabu, mais conversaremos e buscaremos soluções. 

Sigamos juntos por um futuro mais justo, igualitário, inclusivo e com oportunidades para todos.

Texto de Sara Paulo

Fonte: https://www.handtalk.me/br/blog/consciencia-negra/

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